Ana Maria Junqueira, fundadora da agência Magari Blu Viagens, é jornalista e consultora, especialista em roteiros de luxo sob medida.
Foi a minha primeira vez em Andaluzia. A região, situada ao sul da Espanha, é reconhecida por abrigar cidades como Sevilha e Granada e a festejada Costa do Sol. O meu roteiro, por sua vez, foi montado pelo órgão de turismo do governo espanhol, o Turespaña, para explorar outras cidadezinhas não tão conhecidas. A começar pela pitoresca Antequera.
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Antequera, assim como os vilarejos vizinhos, é formada por casas e construções todas elas pintadas de branco com telhados feitos de telha de barro. Fica encrustada na montanha e, do alto, a visão de uma cidade tão uniforme parece mais um cenário cinematográfico, ou até uma foto de uma vila que parou no tempo. Pelas ruelas e ladeiras, as entradas das casas ficam escancaradas, tapadas apenas por cortinas, que disputam espaço com as portas e balançam suavemente, para a brisa de verão adentrar e refrescar o interior das casas. Afinal, o verão em Andaluzia não é nada ameno.
A região tem forte influência romana e árabe, povos que dominaram essas terras séculos e séculos atrás. A igreja principal da cidade, a Colegiata Santa Maria, é uma miscelânea de estilos. Construída no local onde estava uma antiga mesquita, as colunas têm um quê renascentista italiano, a cúpula é gótica e o teto traz um lindo trabalho de madeira chamado mudéjar, que lembra a palhinha de assento de cadeira. Da Alcazaba se tem uma belíssima vista de toda Antequera.
Logo no primeiro almoço, nos esforços iniciais para não escorregar tanto no meu “portunhol”, estava em um simpático restaurante chamado Arte de Cozina, no centrinho de Antequera. A proprietária veio à mesa nos dar as boas-vindas e contar um pouco sobre a história do estabelecimento, que pertencia à sua tataravó. Para começar, a doce senhora nos contou que traria um prato típico da cidade e que seria servido em três releituras. “Qual o nome do prato?”, perguntei. A resposta veio em claro e bom tom: “Porra. E serão três categorias de porras: a porra tradicional, a porra branca e a porra de laranja”. Risinhos à parte, não é que a porra era boa?!
Depois de Antequera, segui viagem para Ronda, um dos grandes tesouros de Andaluzia. A cidade é cortada por um cânion, o que lhe conferia status de dona de uma fortaleza natural e, por isso, jamais precisou ser murada para proteção, como outras vilas da época. Diz-se que aqui é o berço das touradas e a “plaza de toros” vale a visita, ainda que você não seja um fã da tradição espanhola.
Ali pertinho está a vinícola La Melonera. A sede, por fora, pode não dar a fiel impressão do bom gosto e sofisticação que o espera. Decorada como uma (linda) casa de campo, a lareira aparece sob uma enorme parede de vidro com vista para as parreiras. Um daqueles lugares em que a gente entra e não quer mais sair… A visita foi seguida de degustação de vinhos em meio aos vinhedos, com direito a explicações minuciosas das inovadoras técnicas de sucesso empregadas pela La Melonera, que produz um vinho jovem e de alta qualidade. O resultado? Três garrafas de vinho enroladas nas roupas dentro da mala porque eu não poderia voltar ao Brasil sem trazer essas delícias comigo!
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A litorânea, e mais conhecida, Marbella estava no meu roteiro também. Hotspot de duas décadas atrás, o balneário perdeu prestígio para as concorrentes Saint Tropez, Ibiza, Sardenha… Portanto, apesar de ser casa de uma das unidades do beach club Nikki Beach, não mire Marbella como badalação na sua viagem para não se frustrar. Mas, sim, pelo charme dessa cidade e pela deliciosa gastronomia! O centrinho, o Casco Antiguo, deixa qualquer mulher louca para torrar alguns euros! As lojinhas locais vendem peças supercharmosas, como chapéus, batas, saídas de praia, bolsas, sandálias e, claro, espadrilles, tudo a preços bem convidativos. Além disso, lojas de azeites e de vinhos valem a parada. Indico a D’Oliva e, inclusive, uma degustação de azeites por lá. Você vai se surpreender com as nuances e, também, dificilmente irá resistir voltar pra casa sem um vidro na mala.
Para jantar em Marbella, simplesmente adorei o restaurante Trocadero Playa que fica junto à praia, serve um peixe divino (o melhor da viagem), além do tinto de verano, espécie de sangria com vinho tinto geladinho e frutas – o drink que os espanhóis mais adoram na estação mais quente do ano.
O roteiro em Andaluzia terminou em Málaga. Ninguém menos que Picasso (e o Antonio Banderas) nasceram aqui. A veia artística é forte por lá. Além do Museu Picasso, que traz um acervo incrível de obras do artista em sua home town, Málaga está abrigando um modernoso e descolado Centre Pompidou. O espaço será explorado por cinco anos, renováveis por mais cinco – então já sabe: nada de enrolar muito para conhecer essa pérola.
O bacana de Málaga é que, apesar de ser uma cidade populosa, no centro histórico não são permitidos veículos, portanto é muito tranquila para bater perna, e, quem sabe, até tirar uma foto com a estátua de Picasso na Plaza de la Merced porque, afinal, “turistar” é bom demais!