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Luciano de Paris: conheça o cabeleireiro que conquistou o lado cool do Jardins

Luciano de Paris nunca sonhou em ser cabeleireiro, tudo aconteceu muito ao acaso: morar na França, trabalhar com beleza, cuidar do visual de modelos em grandes desfiles… Isso não veio de um sonho de criança, apesar de Luciano ter uma lembrança afetiva com salões. “Depois que me tornei cabeleireiro, lembrei de uns flashs de criança e de ser atraído por esse universo. Lembro perfeitamente da mulher que cuidava do cabelo de minha mãe, ela era muito elegante, alta, loira”.

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O pequeno Luciano mal imaginava que iria morar por 19 anos em Paris e, que quando retornasse ao Brasil, se tornaria o queridinho dos insiders mais cools de São Paulo. E foi isso que aconteceu. Atualmente o hair stylist tem endereço fixo na Dominique Maison de Beauté, multimarca de beleza francesa localizada na R. Bela Cintra, em São Paulo. Mas a trajetória até este lugar é o que torna Luciano tão interessante.

Atualmente com 40 anos, se inserir em uma profissão do universo de beleza tinha outra conotação quando era mais jovem. “Na época, ser cabeleireiro era se assumir gay e não estava preparado para assumir nada. Na verdade, meus pais descobriram e foi uma situação muito estressante, para eles – que eram muito religiosos – e para mim. Então tive a oportunidade de morar com um amigo na França, aos 19 anos, e fui”, conta.

Com a cara e a coragem, sem documentações ou dinheiro, Luciano foi e trabalhou com um pouco de tudo quando chegou por lá: pintou casas, fez faxinas, trabalhou como babá. Foi só quando foi morar uma temporada na Suiça, aos 25 anos, depois de estar regularizado e trabalhando como vendedor na França. Foi em terras suíças, que Luciano começou a trabalhar com cabelos.

“Um cunhado de um amigo era cabeleireiro e precisava de um ajudante aos sábados. Eu fui e, já no primeiro dia deu um clic. Ele havia sido assistente pessoal de Jean-Marc Maniatis, que foi um grande cabeleireiro francês que cortava à seco. E eu corto à seco. Mesmo que depois não tenha trabalhado com mestres que usavam essa técnica, é a primeira coisa da minha memória e sempre guardei isso”, relembra.

Na segunda-feira depois de seu primeiro sábado de trabalho, Luciano já procurou uma escola de cabeleireiros para iniciar seus estudos. Por sorte, um novo curso já começava naquele dia, então Luciano comprou todos os materiais e começou na terça-feira as aulas.

Para ele, as aulas não bastavam. Depois de passar o dia inteiro na escola, Luciano ia para a porta de um famoso salão de Genebra e ficava observando o trabalho dos profissionais. Até o dia em que o dono do lugar o convidou para observar do lado de dentro. Pouco a pouco, começou a ajudar os profissionais do salão até seu fechamento e, na parte da noite, trabalhava em um bar. Toda essa rotina sem abandonar o cabeleireiro que o iniciou no meio, trabalhando em seu salão aos sábados.

De volta a Paris
Depois de um ano, um dos mestres de Luciano o aconselhou a voltar para Paris e o indicou para uma vaga no salão Toni & Guy, muito famoso nos anos 90. “Isso é tudo muito importante porque minha técnica vem de tudo isso”, reflete Luciano, que conseguiu uma vaga no salão tão concorrido.

Durante seu período por lá, Luciano enfrentou momentos muito complicados, por causa das exigências dos profissionais. “Lá, treinava constantemente. Passávamos por exames, em que fazíamos cortes em até dez modelos. Eles olhavam milimetricamente nosso trabalho, quem não acertava, não passava. Mas tínhamos cabeleireiros que admirávamos treinando a gente”, lembra. Luciano ficou dois anos no Toni & Guy e acabou saindo por não concordar com o estilo do salão.

Junto com uma colega de trabalho, Luciano foi trabalhar no salão de David Mallet, que atendia os fashionistas de Paris. Depois de dois anos e meio, cansado do ego e da postura de alguns clientes, Luciano migrou para o mundo da moda, trabalhando com desfiles. Com 28 anos, o cabeleireiro começou a alternar momentos em Nova York e em Paris, quando trabalhou com publicidades e desfiles de grandes marcas como Victoria Beckham, Ralph Lauren e Marc Jacobs, área que ficou por três anos.

Apesar de ter transitado por meios glamourosos, uma característica interessante de Luciano é que ele não se deslumbra com celebridades – e este foi um dos principais motivos que o fez abandonar as passarelas e retornar aos salões. Foi nessa época que decidiu mudar de ares e apostou em salões menores, mais naturais e com diferentes características para ampliar seu lado profissional.

Depois de não ficar satisfeito em nenhum desses lugares, Luciano voltou a trabalhar com David Mallet, no salão que ele abriu no Ritz de Paris, onde trabalhou por mais três anos antes de voltar ao Brasil.

Em terras brasileiras
Luciano desembarcou no Brasil no dia 3 de março de 2019. Quando seu aniversário de 40 anos foi ficando mais próximo, o cabeleireiro sentiu a necessidade de dar mais sentido a sua vida, ao invés de continuar na rotina e no conforto europeu que tinha, ou seja, correr mais riscos e recomeçar – pela quarta vez.

Mesmo sem ter um plano concreto, Luciano veio para o Brasil sem se preocupar com quanto tempo demoraria para arranjar outro trabalho ou onde se encaixaria. “Sempre acreditei muito na minha intuição e sabia que daria certo, entãoencarei este momento como uma busca de trabalho mesclada com férias”, explica.

Um de seus maiores objetivos está o projeto de visitar pequenos vilarejos e cortar o cabelo de pessoas que não tem acesso a esse momento tão importante para a autoestima – ação que já desempenhou anteriormente no interior do Amazonas.

Desde junho, o cabeleireiro atende uma clientela fiel na Dominique Maison de Beauté, que acredita no olhar do profissional. “As vezes tenho um cliente que me pergunta o que vou fazer e digo que não sei. Escuto a pessoa, entendo o que ela gosta e o que não, então vou cortando. Trabalho muito com a intuição e dá certo, nesses nove meses, nenhum cliente reclamou”, conta.

“Como morei muitos anos fora, os clientes sempre falam que gostam muito das referências que trouxe comigo. Sou o único cabeleireiro na Dominique atualmente, mas – com a recepção positiva – já pensamos em ampliar o time”, disse Luciano.

Para os interessados, os valores variam entre R$ 200 (corte masculino) e R$ 350 (corte feminino), já com lavagem e secagem. Luciano também faz escovas e penteados – pelo que não é tão conhecido no Brasil. “Gosto de pentear noivas que conheço, minhas clientes de algum tempo. Acho uma coisa muito pessoal e intima. Tenho um apego pelos meus cliente e gosto de ter um contato emocional com eles”, acrescenta.

“Não esqueço que, há oito meses, não existia no Brasil, então estou reconstruindo tudo aos poucos. Quero que este espaço cresça, que posso trabalhar com pessoas legais e respeitosas, não focar no marketing e no dinheiro, mas no serviço e em sua qualidade, acho que falta isso no País. Vejo as pessoas como uma missão de deixá-las bonitas e não enxergar o cliente como números ou valores”, conclui.

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