Mandy Candy – Foto: Reprodução/Instagram/@mandycandy
Com o Dia Internacional da Mulher comemora-se também o mês da mulher. Nas empresas, uma grande movimentação passa a circular no ambiente, com ações como rosas e buquês para funcionárias, mensagens corporativas, bombons e dias de beleza. A mensagem, no fim das contas, é a mesma: lutar sem perder a feminilidade. Mas afinal, de quais mulheres estamos falando?
Foi-se o tempo que o padrão europeu que molda o estereótipo da mulher era considerado unânime. Hoje em dia, resistir ao preconceito e à violência faz parte do cotidiano de mulheres que lutam para ser respeitadas pelo o que são.
“Uma vez, eu estava indo trabalhar (trabalhei durante dois anos em telemarketing) e na frente do ponto de ônibus tinha um bar, que sempre estava cheio de homem e quando eu chegava eles ficavam me olhando rindo e falando ofensas. Um dia não aguentei e voltei pra casa chorando, quando minha mãe viu meu estado e soube do que acontecia, ela saiu de casa como um raio e foi até o bar, chegou lá e falou que se continuasse ia chamar a polícia e causar o maior barraco. Depois desse dia nunca mais falaram nada”, conta Mandy Candy. “Já até jogaram uma lata de cerveja na minha cabeça.”
E enquanto o Dia Internacional da Mulher é comemorado no mundo inteiro, vale lembrar: o Brasil ainda é o País que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo.
Conforme o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), que monitora dados globalmente levantados por instituições trans e LGBTQIA+, 70% de todos os assassinatos registrados aconteceram na América do Sul e Central, sendo 33% no Brasil.
Então, afinal, quais são as mulheres que estamos, de fato, celebrando?
Representatividade: como se aceitar sem saber o que és?
Mandy conta com mais de 3 milhões de seguidores em suas redes sociais e em 2016 lançou o livro “Meu nome é Amanda”, que conta toda sua jornada, mas quando decidiu trabalhar com internet no ano de 2014, quando “tudo era mato”, não existia quaisquer tipos de conteúdos de influenciadores trans ou para pessoas trans. Foi aí que ela se tornou uma das pioneiras na criação desse conteúdo.
“Comecei minha transição dos 18 para os 19 anos, em uma época em que quase não era falado sobre pessoas trans e toda informação que eu tinha vinha de comunidades do Orkut. Foi muito complicado me encontrar e saber quem eu era, pois passei a vida toda achando que minha existência era um erro”, desabafa. “Minha infância e adolescência foram muito complicadas pois me olhava no espelho e não conseguia me enxergar.”
Hoje em dia, apesar de não ser um marco histórico, já temos muitas outras referências de personagens e personalidades trans, tal qual Jules em Euphoria, Natasha em Segunda Chamada, Cassandra em Manhãs de Setembro e muitos outros. Mas, em 2014, quando Mandy ainda estava tentando se descobrir, essa representatividade era nula, o que fez com que sua visão sobre quem ela era fosse completamente deturpada.
“Quando pequena uma vez me perguntaram o que eu queria ser quando eu fosse mais velha e eu respondi “Quero ser uma mulher”, isso com cinco anos”, conta. “Mas tudo foi mudando pela pressão que os outros colocavam em mim, falando a todo momento que eu não poderia ser uma menina, que não devia falar da forma que eu falava, de gostar do que eu gostava, que eu era um menino.”
Durante muito tempo, pessoas trans eram representadas de um jeito bastante sexualizado ou caricato na televisão. Mandy conta que como era do interior, uma pessoa homossexual e uma pessoa trans eram a mesma coisa na percepção dela. Foi só aos 18 anos, quando conheceu uma pessoa trans e compreendeu as vivências dela, que começou a se compreender melhor. “Foi quando começamos a conversar, que eu soube na hora que eu era igual a ela. Depois dessa conversa, comecei a procurar na internet mais sobre isso e foi no Orkut que encontrei uma comunidade para Mulheres Transexuais. Eu nasci de novo.”, diz ela. “Foi como se um peso que carreguei durante toda minha vida tivesse desaparecido. Percebi que eu não estava sozinha.”
“Assim que entendi o que eu era, coloquei o vídeo de uma menina trans na internet, em inglês com legendas e disse para minha mãe: ‘Mãe, eu sou que nem essa garota’, ela me olhou, me abraçou e disse que estava tudo bem e que sempre me amaria. Eu achava que não teria apoio, porque sempre temos medo de como as pessoas que amamos vão reagir”, finaliza.
E apesar de árdua (e difícil trajetória), Mandy sempre aconselha: “Não tenham medo de viver as suas vidas, cada dia que passa vivendo uma história que não é a nossa é um dia perdido. Imagina viver uma vida inteira sendo alguém diferente do que somos? A Hora é agora.”