Top

Estúdio Alavantú apresenta “Balancei, Balançou” em estreia na DW

Foto: Divulgação

As relações afetivas, as histórias resgatadas da infância e os “causos” contados por ancestrais ganham movimento e novos contornos na exposição “Balancei, Balançou”, que o artista alagoano Túlio Augusto apresenta em sua estreia na 11ª edição da DW – Design Weekend, que acontece até 11 de setembro, em São Paulo.

SIGA O RG NO INSTAGRAM

Curador do Estúdio Alavantú – Arte Brasileira, em Maceió, Túlio convida o público a mergulhar em uma reflexão de resgate a afetividade de memórias – vividas e relatadas – por meio de fotografias do cotidiano e um balanço criado pelo artista Jasson, elemento central da instalação montada no Estúdio Rodas, do fotógrafo André Nery, na capital paulista.

Jasson é conhecido por criar cadeiras emblemáticas. Túlio pediu para o artista “cortar” as pernas da cadeira, na intenção de criar o balanço para criar a ideia de “flutuar”, e assim, trazer leveza em contraponto com a brutalidade da madeira, que mesmo rústica, se apresenta na natureza em uma infinita variação de formas, movimentos, de torções a nós.

“Jasson é conhecido por criar verdadeiros tronos. E agora, sem os pés, permite que nos balancemos em nossas próprias memórias”, diz Túlio, que acrescenta: “Quem nunca esteve em um balanço não sabe a sensação de sentir aquele friozinho na barriga misturada com o sorriso largo que surge quando o balanço sobe. E essa brincadeira de criança vira de adulto quando olhamos nossos álbuns fotográficos, quando conseguimos reviver coisas que nos fazem sair da nossa zona de conforto”.

Assim como a madeira, o balanço pode ser feito de diversas formas, dos mais simples, com um pneu velho suspenso por cordas até aqueles com pedaços de madeira sustentados por correntes. Túlio mesclou esses conceitos a uma ideia muito disseminada em Alagoas, e potencializada por histórias contadas pelos mais velhos, de que um dia, o sertão vai virar mar.

Túlio Augusto – Foto: Divulgação

“Algo que faz as pessoas flutuarem, sonharem”, afirma. Jasson também já ouviu muito falar disso, e como apaixonado por ambos – sertão e mar – criou o balanço que movimenta as concepções enraizadas sobre o Nordeste, visto como um lugar de miséria e pobreza, para levar o expectador à uma outra ponta: “O sertão que conheço é verde, de céu azul, às vezes de chão rachado, outras vezes de chão alagadiço; um chão forrado de quartzo branco, cactos que aparecem como verdadeiras colunas imperiais e pássaros coloridos como o Carcará, uma ave de rapina que com sua coroa de penas amarelas, é conhecido como o rei do sertão”, descreve o curador.

Esse colorido também aparece nas casas, nas vivências do cotidiano e na concepção do que aquele lugar representa para as pessoas que ali vivem e, como diz Túlio, “Fazem balançar nossos conceitos de vida por meio de processos de escuta”. Algo também capturado pelas fotografias expostas na DW.

“Ouvi diversas vezes: ‘Minha vontade de sair daqui não existe, o lugar mais longe que vou é na cidade para fazer feira’. Esse é o sertão desenhado, ao longo dos anos, por um olhar de pena que hoje pode fazer parecer que a arte vive só de artesanato. Mas é o contrário, a vivacidade que habita os artistas do cenário da arte alagoana é repleta de cores e materiais da natureza, incluindo o reaproveitamento de madeiras de árvores mortas ou que descem pelos rios na época de chuva. Viram pinturas, esculturas, e toda expressão artística que contam histórias, que expressam sentimento e demonstram sensibilidade extrema”, explica.

Em suma, do mesmo jeito que a leveza do balanço contrapõe a rusticidade da madeira, o sertão e o mar são duas coisas antagônicas, mas que, no final das contas, se encontram. “O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, no sudeste do Brasil, e corta diversos estados, para também banhar parte do Sertão Alagoano, no município de Belo Monte (AL), que é a terra de Jasson”, conta Túlio.

“E por meio de suas corredeiras de água forte vai desembocar no meio do mar. ‘Balancei Balançou’, e chega no mar. Nada impede, só colabora: a leveza das nuvens, o céu azul, o balanço das ondas e a resistência do sertão: tudo desemboca no movimento das águas, tais resgatar causos e contos de seus ancestrais e memórias fazem balançar suas relações afetivas”, finaliza.

Mais de Lifestyle