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Ana Xisdê quer expandir suas habilidades com games para as telas

Foto: Mateus Aguiar

A indústria dos games tem sido uma mina de ouro para novos talentos. A juventude que aprendeu a fazer do amor pelos jogos a sua profissão, tem duas vantagens importantes: as possibilidades da tecnologia e a própria habilidade desta geração de ser multifuncional. Ana Xisdê representa bem este grupo: jovem, apaixonada pelos games, talentosa e carismática, ela tem apenas 27 anos e coleciona uma carreira diversificada e muito bem-sucedida.

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Suas múltiplas capacidades a levaram de jogadora para apresentadora de supereventos da área como BGS (Brasil Game Show – maior evento de games da América Latina), o palco de games da CCXP (Comic Con Experience), Poco X3 para a Xiaomi em 2020, entre outros. Em 2019 , Ana foi eleita a Melhor Caster BR pelo Prêmio Esports Brasil (maior premiação dos esportes da América Latina). Em 2020, foi finalista a Apresentadora do Ano pelo Esports Awards (maior premiação dos esportes do mundo) e em 2021 se tornou jurada deste mesmo prêmio internacional.

O trabalho de profissionais como Ana Xisdê é uma inspiração importante para incentivar outros jovens a despertarem seus talentos. Seu relacionamento com a comunidade game tem crescido a ponto de criar sua própria comunidade virtual: a Família Xisdê. “Meus fãs e pessoas que me acompanham são a Família Xisdê. Sempre digo isso porque quando deixei minha família em Itu para correr atrás da minha paixão pelos jogos, os seguidores que me acompanham se tornaram minha família”, explica a paulista que interage com mais de 380 mil pessoas em seu Instagram diariamente.

Foto: Beatriz Pannaim

O conteúdo criativo de sua conta no Instagram, somado ao reconhecimento e fidelidade dos seguidores, tem aberto portas para outros projetos, como é o caso da expansão do seu trabalho com o Free Fire. “Meu foco é trabalhar com vários jogos. Quero continuar crescendo, nunca quero sentir que estou dando passos para trás”, conclui. Ela também planeja levar seu knopw-how para o cinema ou o streaming, e gostaria de ter um programa de TV. “Apresentar continua sendo minha paixão, mas expandir horizontes é essencial para quem está na internet.”

Leia a seguir o papo que RG levou com Ana Xisdê.

Quantos anos tem?

– Fiz 27 anos no dia 26 de janeiro, sou aquariana.

Onde nasceu? Onde vive?

– Nasci em Itu, mas hoje moro em SP. O trabalho me trouxe para a capital.

Mora com quem?

– Moro com meu noivo, o médico Daniel de Oliveira Chaim, mais conhecido como Sr. Xisdê. Moramos juntos desde que me mudei para SP.

Foto: Beatriz Pannaim

Conte sobre sua infância, como foi? 

Como a caçula de três irmãs com uma distância considerável de idade (dez anos de diferença da irmã do meio e 13 da irmã mais velha) eu sempre fui um pouco sozinha, recorria muito à tecnologia para me sentir melhor. Apesar desse interesse estranho para a época, meus pais sempre respeitaram muito minhas escolhas e eu acredito que isso me proporcionou a melhor infância que eu poderia ter, são poucas as situações ruins que eu me lembro desse período.

Estudou? 

Sou formada em Pedagogia com especialização em ensino de matemática. Mas minha verdadeira paixão é a profissão que exerço hoje.

Quando passa a se interessar por internet?

Meu pai é tecnólogo, então ele precisava testar muito as coisas que eram lançadas para estar sempre se atualizando. E eu acho que, às vezes, ele ficava cansado, então ele me colocava para testar. E foi assim que eu comecei com os jogos, testando com meu pai. Inclusive, meu primeiro Bate-papo UOL foi ao lado do meu pai.

E por games, quando entram na sua vida?

Nascida nos anos 1990, hoje vejo que esse período foi um momento de grande avanço tecnológico, talvez o maior dos últimos 50 anos. Meu pai como tecnólogo precisava estar atualizado sobre todos esses avanços. Ele trabalhava durante o dia e, à noite, ele testava as novidades, como sempre tive interesse nisso, observava meu pai e, muitas vezes, testava com ele as máquinas. Dessa forma, mesmo sem intenção, meu pai me tornou gamer, pois os games sempre foram (e até hoje são) uma ótima forma de testar a força computacional de uma máquina, além de trazer um tipo de entretenimento que era bem diferente do da televisão (especialmente para aqueles sem poder aquisitivo para ter um videogame, como era nosso caso). Eu nunca larguei o computador e os games desde então.

O que mais gosta de jogar?

Eu já joguei de tudo, tudo quanto é tipo de jogo, mas minha preferência sempre foram jogos competitivos, de jogador x jogador, até porque eram os mais comuns em computadores e os de história ficavam mais para o videogame. Hoje mudou completamente, por trabalhar com esportes eletrônicos, quando estou no meu momento de lazer, eu busco jogos menos competitivos, mais focados em história e lutas contra o computador.

Acha que o mundo dos games é machista?

Sim, porém claramente muita melhora já aconteceu. O mundo dos games passou por períodos difíceis até se solidificar como um novo entretenimento, uma das escolhas que foi feita nessa época foi a de tornar os “meninos” o público principal para os jogos. Isso construiu todo um mercado bastante dominado por esse sexo, claro que isso gera uma consequência de perpetuar por muitos anos até que seja quebrada, por isso até hoje sentimos a dificuldade de ganhar nosso espaço, sentimos o preconceito e a diferença, sentimos o medo, mas sabemos que é apenas enfrentando tudo isso que poderá haver a desconstrução.

Foto: Beatriz Pannaim

Como sua presença no mundo dos games pode ajudar outras meninas a se inserirem nessa realidade?

Quando comecei era extremamente incômodo gostar tanto desse mundo, porém não me sentia segura dentro dele. Usei nomes neutros por muito tempo para evitar xingamentos e apenas dava “dicas” de que eu era mulher quando estava jogando muito bem, era a minha forma de tentar desconstruir esse machismo, então sempre fui muito inquieta sobre ele. Hoje, ser uma personalidade pública dentro do cenário me permitiu pegar essas coisas que eu fazia dentro dos meus jogos e transformar em uma escala muito maior, mostrando que sou mulher, sim, sou boa no que faço e nós podemos fazer o que quisermos. Comecei como a primeira comentarista feminina oficial no Brasil, hoje já fiz parte de equipes de 50% mulheres. Quanto mais presentes estamos, mais nossa presença vira “igual” e mais seguras outras mulheres se sentem. O entretenimento é para todos.

Como surgiu o convite para ser  jurada do Esports Awards?

Em 2020 fui finalista como Apresentadora do Ano pelo prêmio e foi assim que os primeiros contatos com a organização começou. Mesmo sendo finalista, era claro como o prêmio sentia dificuldade de entender todo o ecossistema brasileiro dos games, já que não falamos inglês como nossa língua nativa, mas eles tinham muito interesse em saber mais, já que a intenção é tornar o prêmio verdadeiramente mundial. A partir disso o convite veio de forma muito natural e já no começo de 2021 eu participava das primeiras reuniões para decidir os próximos passos e começar a apresentar novos nomes a serem considerados em todas as categorias.

Qual a importância desse convite para você?

Tudo que eu faço eu faço com muita paixão, mas também com muita responsabilidade. Então claro que sei que o convite é um reconhecimento muito grande do meu trabalho, meu conhecimento e minha representação dentro do mercado, mas o que mais me move é saber a responsabilidade de representar o meu País, de representar pessoas, de ser porta-voz de tantos talentos que temos por aqui e por todo o mundo e abrir espaço para os latinos não só como finalistas, mas como especialistas dentro de todo o cenário mundial.

Como você passa de jogadora a apresentadora de eventos de games?

Mesmo tendo jogado por tanto tempo, sempre levei essa vida de forma muito casual, então pra mim a passagem foi marcada pela decisão de virar essa chave e intencionalmente me tornar profissional na área. Era uma mentalidade muito diferente porque passei a pensar em estratégias e preparações para que eu pudesse chegar onde estou hoje. Quando tomei essa decisão lá atrás, além de estudar muito tanto sobre os jogos quanto sobre dicção, didática, comunicação, eu fui atrás de fazer conteúdos que mostrassem para o público quem eu era, enquanto ninguém maior me dava uma oportunidade. Ao mesmo tempo eu ia atrás dessas oportunidades como podia, mandando mensagens e ficando sempre ligada no que rolava dentro da comunidade, até o dia que consegui a primeira grande oportunidade e ficou difícil não me engolir, porque nunca aceitei parar.

Como os games te ajudam a lidar com seu público?

É algo muito natural porque a maior parte do público chega a mim porque conhece meu trabalho com games, então a gente se reconhece um no outro. Os games se tornam um estilo de vida, já que ainda não é todo mundo que entende o quanto isso pode ser uma profissão ou até um lazer saudável e divertido. Através dos games e da minha comunicação meu público sabe que é possível alcançar muitas coisas, trabalhar, se divertir, ter um relacionamento saudável, tudo isso conectado à diversão que os jogos trazem. Acaba sendo algo que só de viver e fazer o que eu faço a gente já se conecta, então é natural mesmo.

Como produz seus conteúdos?

Exatamente por ter essa conexão muito natural com o público os conteúdos são pensados sobre situações que passo ou passei, que sei que não são únicos meus e isso é fácil de saber, mas além disso, eu também mostro o dia a dia da profissão, já que ainda é bastante incomum por aí. Quando não falo disso, eu mostro quem eu sou, como eu brigo, como eu penso, como eu me divirto, aquilo que me diferencia de qualquer outra pessoa é quem eu sou, então assim como todo tipo de criador de conteúdo é importante mostrar essa parte, na minha opinião. Agora, a produção mesmo acontece normalmente uma vez por semana aqui em casa e no restante da semana por meio dos trabalhos que faço e das situações que vão acontecendo.

Foto: Mateus Aguiar

Como lida com seus seguidores?

É até estranho pensar em como eu “lido” com os seguidores porque também é algo que vem natural. Eu faço conteúdos que eu quero fazer e conteúdos que eu gosto e me orgulho, sou muito transparente, e no geral eu sinto que isso me aproxima de pessoas que possuem interesses semelhantes e uma energia positiva no geral, então eu sinto que preciso “lidar” com meu seguidores, eles fazem parte do meu conteúdo e de quem eu sou como pessoa pública, como uma extensão de mim. Eles torcem por mim, eles me entendem, eles aprendem, eles riem e eles estão comigo em todas as decisões e caminhos.

Já teve haters? Se sim, conte o que houve.

Eu diria que nunca entrei em grandes escândalos, mas já tive hater por uma situação que ainda estou enfrentando, na qual uma equipe de games resolveu usar meu nome e meus elementos visuais. Essa situação impacta diretamente minha vida como um todo, trazendo confusão ao público que pensa que a organização é minha, entre outras coisas. Quando me posicionei sobre a situação e fui atrás dos meus direitos muitas pessoas não gostaram e acabaram vindo atrás para falar algo “defendendo” a organização, por outro lado muitas outras pessoas me apoiaram e outras ainda confundem até hoje eu e a organização… De qualquer forma, é algo que estou disposta a enfrentar já que depois de tudo que lutei para ter meu espaço como mulher nesse meio não posso deixar que alguém tire esse espaço e utilize tudo que eu fiz para se beneficiar, me prejudicando no processo. Estou aqui para mostrar mais uma vez como as mulheres podem e devem lutar por aquilo que acreditam.

Como surgiu a Família Xisdê? Qual o objetivo disso?

Eu decidi chamar as pessoas que me acompanham de Família Xisdê principalmente porque sempre fui uma pessoa muito ligada a minha família, mas para trabalhar com games da forma como trabalho é preciso estar na cidade grande e, por conta disso, precisei deixar toda a minha família “origem” no interior para vir para cá. Quando isso aconteceu, estar em contato com as pessoas por meio das minhas redes me trouxe um conforto muito maior do que imaginei, senti que eles me apoiavam e torciam por mim como minha família fazia, então foi assim que passei a chamá-los. Eles realmente são minha Família Xisdê e o objetivo é apenas reconhecer tudo que eles representam e são para mim todos os dias em que escolho acordar e compartilhar algo da minha vida.

Como moda e maquiagem se inserem no seu dia a dia?

A maquiagem veio primeiro. Sou viciada em um delineador desde os 13 anos, quando essa ainda era a única maquiagem que eu usava. Já a moda, ela veio inicialmente por uma necessidade e se tornou uma paixão. Eu era a pessoa que sempre usava preto em todas as ocasiões, porém quando consegui meu primeiro trabalho profissional nos jogos a empresa pediu para que usássemos outras peças coloridas, vibrantes… Eu não sabia o que fazer, então fui em uma loja e comprei a mesma blusa em cinco cores diferentes e eu as intercalava dependendo do dia… Quando eu fui chamada por essa mesma empresa para viajar para fora do País para apresentar um campeonato em inglês eu pensei “ok…  não posso ir com essas regatas…”, então contratei uma personal stylist para me ajudar. Ela abriu meus olhos de uma forma que não sei nem dizer, eu aprendi a me expressar e me sentir bem por meio da vestimenta e a moda virou uma paixão, eu não saio para nenhum lugar sem pensar em como irei me vestir, não perco uma oportunidade de me expressar dessa forma. Em conjunto a isso, a maquiagem também evoluiu, usando ela muito mais para complementar essa expressão do que simplesmente para esconder olheiras.

Moda e make estão relacionados a games? Como?

Acho que moda e make são muito visuais e os games são muito visuais, precisam ser assim para usarem de todos os signos possíveis para passar sua mensagem. Como pessoa inserida no mundo dos games, eu diria que a moda e make estão relacionadas com o estilo. O gamer é colorido, possui um fone colorido, uma cadeira característica, LEDs em seu quarto, são aspectos visuais muito característicos… Agora, quando o gamer não está no ambiente onde essas coisas estão disponíveis, como ele pode se expressar como tal? Na minha visão por meio da moda e make! A diversão, as cores, o estilo de vida te acompanham onde estiver.

Em seu Instagram, você dá conselhos de autoestima a seus seguidores, de onde surgiu essa ideia?

Acho que toda ideia que eu tenho de conteúdo surge de uma junção de querer falar e o público querer ouvir. Quando você é uma pessoa que costuma mostrar sua vida nas redes sociais, você passa por algumas situações na vida que te fazem mais aberto ou mais à vontade para falar para diversos assuntos e quando você sente que as pessoas querem ouvir o que você tem a dizer é tudo muito natural. No caso dos conselhos, acho que muitos de nós ficamos tristes quando vemos pessoas maravilhosas não reconhecendo todo seu potencial, e muitas vezes essa pessoa pode ser a gente mesmo, então falar e ouvir algo que possa te ajudar nisso sempre acrescenta, na minha opinião.

Gostaria de ter um programa de TV? Se sim, que tipo de programa seria?

Com toda certeza! Tem alguns tipos de programa que eu ia amar fazer. Eu adoro reality shows, então eu iria amar apresentar uma competição assim. Adoro talk shows onde além de entrevistar você faz dinâmicas com os convidados e com o público. Adoro falar sobre games, então um programa voltado a isso também seria bacana. São muitas possibilidades, espero um dia ter essa abertura para realizá-las.

Foto: Mateus Aguiar

Já pensou em enveredar sua carreira para o cinema ou streaming?

Sim, inclusive atualmente estou me profissionalizando em teatro e dublagem na escola Wolf Maya. Apresentar continua sendo minha paixão, mas expandir horizontes é essencial para quem está na internet. Eu sou uma pessoa com pavor de parar, então estou sempre pensando no próximo passo, estar no cinema ou streaming parece um passo muito plausível para alguém que já usa muito das expressões corporais e do teatro para entreter o público, dominar um palco e conduzir um show.

E livro, gostaria de escrever um? Se sim, qual seria a temática?

Olha… Eu já pensei em escrever um livro sim… E talvez isso esteja mais próximo de acontecer do que se imagina, mas o desafio é exatamente esse da pergunta: falar de quê? Eu estou tão acostumada a falar sobre o que eu quero falar e mudar de assunto quando e quantas vezes eu quiser que sinto dificuldade em construir todo um pensamento dentro de um mesmo livro, talvez ele precise se tornar uma série… Vamos ver.

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