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Caso Naomi Osaka chama atenção para saúde mental negligenciada de atletas

Naomi Osaka – Foto: Getty Images

Por Li Lacerda

Depressão, estresse, crise de ansiedade e pensamentos suicidas são alguns males da sociedade contemporânea, que agora também assombram o universo dos esportes. Após a tenista japonesa Naomi Osaka deixar o torneio de Roland Garros para cuidar da saúde, o tema veio à tona. De acordo com informações, a atleta, que é a jogadora mais bem paga do mundo e a número 2 do ranking mundial, não estava conseguindo administrar a pressão e as crises de ansiedade provocadas por causa dos grandes eventos, por ser uma grande estrela aos 23 anos e por parte da imprensa.

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E foi a recusa de Naomi em conceder entrevista coletiva à imprensa pós-jogo que na qual se sentia desconfortável devido à ansiedade que jogou luz sobre a relação da saúde mental dos atletas e suas obrigações contratuais. Multada em US$ 15 mil pela organização do evento, Naomi aceitou conceder entrevista ainda na quadra, desistindo em seguida pela repercussão do caso, alegando que lhe causaria ansiedade e desconforto.

Diante de um cenário em que uma atleta declara publicamente que sofre de uma doença, Roland Garros e o mundo do tênis foram muito mais longe. Além da multa, o torneio e os outros três organizadores do Grand Slam (Wimbledon, Austrália, US Open) emitiram um comunicado conjunto condenando a tenista de 23 anos, no qual eles alertavam que, se ela recusasse – a dar entrevista-, poderia ser expulsa e não participar dos quatro grandes eventos novamente . Basicamente, eles ameaçaram encurtar sua carreira se ele não cedesse. A tenista foi forçada a decidir, e decidiu que tinha prioridade diante de um mundo bastante insensível. 

Mas apesar de triste, o caso de Naomi não é único. Atletas como o tenista australiano Nick Kyrgios, de 25 anos, e o jogador de basquete americano Kevin Love também já chegaram a tornar público seus quadros de ansiedade e depressão. Outro caso no Brasil foi o do ginasta Diego Hypolito, que chegou a perder cerca de 10 kg, em 2013, quando enfrentou uma forte depressão. O processo é doloroso, mas nem sempre trazido a público, já que, na maioria das vezes, é após a aposentadoria que os atletas falam sobre a situação que viveram, como o multimedalhista olímpico Michael Phelps. 

Tratada com tabu durante muito tempo, a doença entre os esportistas se tornou assunto e chegou a ser discutido pelo especialista em perfis comportamentais Zé André, que desenvolveu sua própria metodologia, o “Método PMA” – Preparação Mental para Atletas. Segundo o profissional, a preocupação se torna ainda maior durante a pandemia, já que o confinamento, a quarentena, o escasso acesso a vacinas e a morte de familiares vítimas da Covid-19 estão colaborando para o aumento dos casos de depressão no mundo do esporte, assim como em diversos outros setores. 

Tudo isso vai de encontro ao estudo publicado recentemente no “Jama” (Journal of the American Medical Association), que pesquisou em uma universidade na França as reações da quarentena em alunos. Participaram do estudo 69.054 estudantes, que relataram apresentar ansiedade (28%), estresse traumático (22%), depressão (16%) e pensamento suicida (11%), com 43% relatando pelo menos um fator de risco. Já outro estudo feito no Brasil, pelo Instituto de Psicologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena, entre março e abril do ano passado. Dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%, enquanto o índice foi de 8,7% para 14,9%, nos casos de quadros de ansiedade. 

Os dados, para Zé André, ressaltam ainda mais a preocupação dos atletas sobre o tema e justificam o questionamento sobre medidas que precisam ser adotadas o quanto antes.  O especialista é responsável pelo sucesso de atletas do UFC como Vanessa Melo, Warlley Alves e Minotouro, no mundo da bola, Wagner Santos, Sabino (Brasil), Lucas Africo (Portugal), Élber e Vinícius Araújo (Japão) e Natália Guitler super campeã de Futevôlei e Teqball.

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