Paula Lima – “Mulheres extraordinárias: somos espelhos umas das outras”

Foto: Salvador Cordaro

Por Paula Lima

Salve, salve meus queridos! Hoje eu trago uma reflexão coletiva sobre a importância de mulheres especiais na minha vida e no mundo, e o tanto de soma que isso traz para muitas de nós. Venho de uma família matriarcal com mulheres fortes e inspiradoras: minha avó Marina, minha tia Lena, minha mãe, primas, todas as tias e as tias das tias. 

SIGA O RG NO INSTAGRAM

As pautas, conquistas, os conceitos e a força delas fizeram com que a minha existência tivesse um sentido especial. Também sigo impressionada pela presença e fundamentos de mulheres singulares que cruzam o meu caminho.

Como é importante proteger, cuidar, acolher, aconselhar, dar exemplo, sermos empáticas, dar carinho e motivar outras de nós. Tenho recebido amor e apoio – com ou sem motivo – de pessoas que admiro, mulheres extraordinárias, muito evoluídas que conseguem compartilhar o que é bom e o que faz bem.

Escritora Conceição Evaristo – Foto: Divulgação

Acho fantástico que estejamos juntas e atentas ocupando esse novo lugar de sororidade e irmandade. De afeto e cura. De novos caminhos para um bem feminino maior.

Palavras e ações motivacionais podem proporcionar continuidade, segurança e interessantes processos de reflexão, autoconhecimento e grandes avanços internos e externos. Sigo na tentativa de ser alguém melhor, uma pessoa melhor, uma mulher melhor.

Nesta semana, escrevi um texto no meu Instagram, “Conká”, para falar sobre o tão atual e incoerente “cancelamento” e propagação de ódio e racismo em cima da rapper brasileira Karol Conka, que participou do BBB 21 e saiu com rejeição máxima do programa (99,71%), que podem ir muito além de grandes erros e falhas pessoais.

O que também me chamou a atenção é a força da união e a indignação coletiva diante do que nos faz mal. Mas “peraí”: como fica essa mesma união e não aceitação quando estamos diante de tantos absurdos em relação às outras vidas e à política que nos fere e nos dilacera diariamente?

Também registrei no texto como de fato, sobre pessoas negras que já nascem às margens e “canceladas”… um duplo cancelamento e a mão mais pesada sobre a pele escura seria a atitude mais justa?

Vocês conhecem a história de Simonal?! Um homem negro, um dos maiores artistas do Brasil de todos os tempos que, no auge da ditadura, foi acusado de ser um traidor, delator de artistas, de seus iguais. Ele foi preso e teve sua vida e carreira canceladas, para sempre! Não podemos repetir os mesmos erros do passado. Precisamos estar atentos e fortes para o que está acontecendo na vida real, para os verdadeiros vilões e para o que está por vir. Força não nos falta.

Tudo o que faço, canto ou escrevo é muito verdadeiro, genuíno. A música é meu primeiro lugar, e não sou uma escritora, mas passei a escrever de forma espontânea durante a pandemia e descobri esse prazer em compartilhar sentimentos e opiniões. Não posso dar o que não tenho. E sempre quero dar ao mundo o que há no meu coração e mente. Deslumbre e status nunca foram coisas que acreditei ou que me fazem feliz. Acho extremamente “nada a ver”.

Escritora Conceição Evaristo – Foto: Divulgação

Mas, a notável mestra, tudo a ver, Conceição Evaristo, ativista, premiada escritora, poetisa, romancista e ensaísta, do movimento pós-modernista, leu meu texto e generosamente escreveu: “Sim, boa lembrança. Simonal parece ter sofrido uma espécie injusta de cancelamento. Paula Lima, li e reli o seu texto. Boa a reflexão que você nos oferece”. Ela, que é vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura em 2015, do Faz a Diferença na categoria Prosa e do Prêmio Cláudia na categoria Cultura em 2017, e indicada à Academia Brasileira de Letras, me deu esse presente. Essa mulher pensante, à frente de seu tempo, uma referência comentando sobre o meu texto, que reflete o meu sentimento…

Este olhar, carinho, atenção e esse “carimbo” vindo dela, encheu meu peito de alegria, de gratidão, do pensamento de que estou no caminho certo. E nem falo pela escrita em si, mas a escrita somada aos caminhos… E isso foi muito além e é muito mais profundo. Me deu a sensação de um abraço, de empoderamento, elevou o sentimento de amar ainda mais mulheres especiais. Como é bom estar no mesmo tempo que o delas. 

Obrigada querida, Conceição. Me sinto honrada! Valorizar, olhar além e para outras de nós importa. O espelho importa.

Quero aqui deixar o meu carinho a outras mulheres essenciais na minha vida (de várias formas e jeitos): minha prima e irmã Leninha, Marina Lima, Patty Duraes, Maju Coutinho, Valéria Almeida, Rachel Maia, Carol Barreto, Zélia Duncan, Simone Cury, Alessandra Maestrini, Aline Midlej, Joice Berth, Djamila Ribeiro, minha surpreendente Tia Cecília, Nath, Carla Kotirene, Val Benvindo, Ale Freitas, Lucy, Fernanda, Flávia e Fran e a todas mulheres da família já citadas lá no início, Manu Motta, Midiã, Dani, Erica Balbino, Tamara, Gabriela Prioli, Júlia Belioglo, Mariana Bertacini, Zezé Motta, Kizzy. 

É fundamental, por mil motivos, ter vocês nesse plano. Mulheres que apoiam, acreditam e incentivam outras, são dignas de um muito obrigada.

E esse texto eu dedico à Maria da Conceição Evaristo de Brito!

Paula Lima é cantora, compositora e apresentadora. Atualmente, está à frente do “Chocolate Quente” na Rádio Eldorado. Também é uma das diretoras Na União Brasileira de Compositores (UBC).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site RG.