Paula Lima é colunista de RG e escreve, geralmente, aos sábados (Foto: Lucas Fonseca)
As mulheres especiais são uma referência e é sempre um prazer falar sobre elas. Também neste espaço e na vida, sigo compartilhando pensamentos sobre opressão e desrespeito, acreditando que novos passos nos levam a um futuro melhor.
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Nessa semana, tive o dissabor de assistir a um “debate” em um canal aberto. Fiquei estarrecida diante das afirmações e opiniões do mediador e de uma das convidadas. A convidada, branca, dizia que não há desigualdade no Brasil e que há justiça por aqui. Afirmou acreditar em meritocracia e teve apoio do âncora/mediador, que também acrescentou ser contra “qualquer tipo” de cotas e, ao contrário da convidada, disse que é normal e que sempre haverá desigualdade. Assisti a um programa ideológico, com ares fictícios e com um olhar fora do mundo real. Um programa direcionado para alguns com as piores ideias no sentido evolutivo.
Como cidadã, mulher e negra fiquei indignada ao ver no ar uma cultura baseada nos privilégios, com um tom prepotente, arrogante e preconceituoso. Como exemplo, é importante ressaltar que homens brancos ganham 159% a mais que mulheres negras nos mesmos cargos.
Sempre acho necessário lembrar que, durante quase quatro séculos, famílias negras com suas crianças, mulheres e homens foram vendidos, separados, violentados e assassinados, com uma cultura de estupro legalizada. Sem direito ao conhecimento, à moradia ou ao pagamento pelo trabalho executado. Enquanto isso, famílias brancas viviam no conforto do lar, bebendo seu leite quente, tendo acesso à cultura, enriquecendo com o trabalho escravo e prosperando.
Como é possível diante de tantas colocações, informações, explicações, estatísticas, debates sobre as injustiças, pessoas sendo perseguidas e mortas (hoje, inclusive), que esse tipo de pensamento absurdo seja discutido dessa forma tão egoísta, não empática e ignorante? Desacreditei, foi vergonhoso.
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Foto: Divulgação
Em compensação, tive o prazer de assistir ao programa Roda Viva, na TV Cultura, com a presença da sensacional e à frente do seu tempo, Luiza Trajano. Que mulher admirável, que tomou para si grandes responsabilidades e causas. Ela acredita em transformação, em dias melhores, em um futuro mais justo. A empresária disse ter chorado ao entender o que é racismo estrutural.
Também com a clareza de entendimento e de se fazer entender, explicou porquê outros programas voltados para negros, diferente do programa de trainee lançado pelo Magazine Luiza, não causaram e causam tanto impacto na sociedade, no judiciário e em outros setores voltados para a alta classe. Ela diz que, neste tipo de programa, você cria a possibilidade para que pessoas negras ocupem outros lugares, como uma presidência ou tenham respaldo para ocuparem os cargos de CEOs das empresas. E ela acrescenta que é onde não encontramos negros e precisamos dessa presença para mudar a realidade vigente.
O olhar 360º e social que Luiza Trajano traz consigo é impressionante. Uma mulher com atitudes reais e ciente do seu lugar, promovendo a igualdade e a prosperidade. Um grande e exemplo a ser seguido.
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Thelma Assis veste blazer e calça Emilio Pucci, brincos Joccali e sapatos Fendi – Foto: Adriano Damas, com direlçao criativa de Thiago Batista, edição de moda de Rodrigo Yaegashi, styling de Bruno Uchôa, beleza de Max Weber, tratamento de imagem do Studio Bruno Rezende, assistência de fotografia de Arthur Vahia, assistência criativa de Chloè Yuki e de moda de Maria Flevy e Larissa Romano
E ainda exaltando a presença transformadora feminina, essa semana tive um encontro via live com Thelminha, ex-BBB. Gosto muito da elegância, do conhecimento e da gentileza dela. Falamos sobre música brasileira. Sim, a música brasileira que segue brilhante. Quarta-feira foi o dia do compositor. Tudo começa pelas mãos e coração de quem compõe. Sou grata aos meus parceiros de música e aos arquitetos da música brasileira.
E neste mesmo dia, aconteceu também o Prêmio UBC 2020, da União Brasileira dos Compositores da qual sou diretora vogal. O homenageado foi o nosso poeta genial Herbert Vianna. Cheio de história e amor. Foi emocionante! Levar amor através da música é uma dádiva.
No programa da Thelminha, também falamos sobre as mulheres que vieram antes de nós e abriram caminhos. Falei sobre a beleza do encontro de gerações que vem acontecendo e gerando novos ares, compartilhamentos. Sempre há o aprendizado e a riqueza artística como consequência, como por exemplo o que acontece com Alcione e Iza. Gerações que se fundem e se completam!
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Cantora Iza l Foto: Divulgação/Bruno Ryfer
Nesta semana as maravilhosas Iza e a bailarina Ingrid Silva, foram eleitas como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo pela Must Influential People Of Africa Descent. Que vibe! Que momento especial esse nosso. São mulheres que ocupam espaços e dizem a que vieram com muito talento e consciência sobre o poder da sua voz.
É também o caso da D. Margarida Arcebispo, que é uma das participantes do novo Masterchef, da TV Bandeirantes. Carismática, sábia, negra, um corpo novo em um cenário tão sem diversidade… ela chegou protagonizando! E ela tem um sonho: ganhar um ano de mercado. Sigam no Instagram: @margarida_arcebispo. Viva a Margarida!
E por fim, parabéns a Emmanuelle Charpentier e a Jennifer A. Doudna, cientistas vencedoras do Prêmio Nobel de Química de 2020 pelo desenvolvimento do Crispr, uma ferramenta que consegue editar o DNA, o código genético de seres vivos. Contribui para o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer e pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias. A tecnologia é revolucionária. Viva a Ciência, o conhecimento, a vida prolongada bem vivida e a saúde.
Ah, e hoje é o meu aniversário. Ver mulheres especiais com realidades e histórias diferentes mostrando como o mundo pode ser mais interessante é o meu presente! Estamos todas conectadas! Viva o poder feminino que transforma!
Paula Lima é cantora, compositora e apresentadora. Atualmente, está à frente do “Chocolate Quente” na Rádio Eldorado. Também é uma das diretoras Na União Brasileira de Compositores (UBC).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site RG.