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Depoimento: da comunidade para a presidência de um dos mais importantes comitês do País

Foto: Divulgação

Por Helenice Moura

Cresci em Botujuru (interior de SP) e vim para a capital com 16 anos. Desde os 13, sustentava minha casa e comecei a trabalhar cedo, fazia limpeza em um clube de campo e logo em seguida fui empacotadora de um supermercado.

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Mas eu tinha um sonho: fazer faculdade, e na época, havia conseguido uma bolsa de 100% para cursar jornalismo, mas era em São Paulo. Por esse motivo, em 2005, fui morar com dois primos e um rapaz que morava com eles em uma comunidade em frente ao Centro Empresarial de SP, no Jardim São Luiz.

Me lembro que nesta época, entrava ratos do tamanho de gatos dentro de casa. Certa vez, compramos um pacote de arroz errado (parborizado), e tivemos que comê-lo puro durante um mês inteiro porque não tínhamos condições de comprar outro melhor.

Cursando jornalismo, também me recordo que às vezes só assistia a primeira aula, pois o bilhete único durava 4 horas e não podia perder a viagem se não, não conseguiria voltar para casa. Passei muitas dificuldades e até fome na grande selva de pedra, mas eu venci.

Mulher, mãe e empreendedora

Ser mãe da Ana, 7 anos, é o maior presente e privilégio da minha vida. Ana é super independente e já é muito digital, faz calls com as bonecas, manda invites e seu melhor amigo imaginário se chama Cupom, ou seja, é uma criança, 100% e-commerce. Ela aparece em todas as calls para dar oizinho, e já é esperada pela mais alta cúpula das empresas em que atuo porque sempre aparece para quebrar o gelo nas reuniões.

Eu era empreendedora quando engravidei. Quando a Ana nasceu me mudei, literalmente, para o lado da agência e com cinco dias de vida dela já estava de volta ao business. Foi uma fase bem complexa, mas necessária.  Quando tinha uma reunião longe, eu entregava ao motoboy o leite materno para levar em casa para alimentá-la.

É sempre um desafio conciliar a família e a vida agitada de executiva, mas eu tenho a sorte de ter uma família muito, mas muito compreensiva.

Em janeiro, fui a uma feira de negócios em Nova York e passei quase 30 dias, meu marido e a minha filha, se viraram super bem. Quando estou com eles o desafio é estar presente, mentalmente, disponível, me desconectar e nem sempre isso é possível, mas eles também entendem que isso é uma fase.

Eu sempre fui da comunicação mesmo sendo jornalista de formação, sempre atuei no e-commerce e no digital. Comecei em 2005, no call center do Terra Empresas, fui crescendo dentro da operação e me apaixonando cada vez mais pelo digital. Participei de projetos superbacanas como a chegada da Voz por IP no Brasil, imagina foi basicamente a avó da comunicação por voz que vivemos hoje no WhatsApp.

Foto: Divulgação

As conquistas

Depois de tantos desafios que passei, a minha maior conquista é ter minha família e poder dar aulas aos jovens e vê-los agradecendo e contando que minha aula mudou suas vidas, isso para mim é uma grande conquista e me deixa muito feliz. Hoje ministro aulas em ONGs, pois é uma forma que encontrei de devolver à sociedade o tanto que recebi. Me considero uma pessoa de muita sorte, a exceção que confirma a regra.

Mesmo com tanta força de vontade, sair de Botujuru, (no interior de SP) e vencer na metrópole é uma questão de sorte e não de meritocracia. Por isso, neste ano, com a Edilaine Godoi, fundamos “A Liga Digital”, um projeto social de inclusão digital para jovens de escolas públicas. Quando começou a pandemia tínhamos uma turma presencial programada, eu e a Edilaine conversamos com os alunos e decidimos testar online e deu tão certo que isso escalou. A primeira turma foi com 20 jovens, a segunda com 450 e no ano que vem, queremos formar mil jovens.

Outra grande conquista é presidir o ComEcomm (Comitê de Líderes de E-commerce), o maior grupo de empreendedorismo do comércio eletrônico, e estar à frente desta história aqui em São Paulo é uma honra. O grande retorno que tenho nesta minha caminhada é que gosto de pensar que as pessoas se inspiram em mim, que acreditam e que me respeitam. Estou neste mercado há muitos anos e fui crescendo, conhecendo tudo e boa parte deste mercado também me reconhece e isso não tem preço.

A mulher no comando

Eu me acostumei a estar em ambientes onde sou a única mulher. Quando você sobe de nível nas empresas, você começa a sentir cada vez menos a presença feminina. Hoje como presidente do ComEcomm, é comum estar numa mesa com apenas eu de mulher. Tem sim pouquíssimo espaço de fala, você precisa o tempo todo se provar, se manter firme é quase como se tivesse que roubar a fala para poder ser entendida/ouvida. Recentemente, numa call com outro presidente, e mais uma série de diretores, eu não tinha espaço para falar. Toda vez que iniciava uma fala, era interrompida pelo outro presidente, muitos levariam isso na boa e deixariam passar, mas eu não. Parei tudo e disse: “Estamos numa call e entendo que numa call, você fala e você ouve, então eu gostaria de falar ou essa reunião acaba aqui”. Algumas pessoas me falam que sou grossa, mas, claro, um homem com posições fortes é firme, sério e comprometido com o resultado, é “agressivo nos negócios”, mas uma mulher com a mesma postura é “grossa”. Também sou embaixadora do grupo “Mulheres no E-commerce”, e esse meu relato também é comum em nossas conversas, por isso, lutamos para mudar essa realidade.

Hoje sou presidente do Comitê de Líderes de E-commerce, fundadora da A Liga Digital – projeto social que leva jovens de periferia para o mercado digital. Também sou comentarista da Record News, no programa sobre e-commerce. Sou Google Partner desde 2008. Além disso, possuo especialização em Gerência Comercial pela FGV, sou fundadora de startups de Marketing Digital e atuo neste segmento desde 2005. Tive passagens por grandes empresas, como Terra, Scup, foi sócia-diretora da Ativi Intellingence Marketing. No meio acadêmico, sou professora das disciplinas de Marketing Digital, Influencers e Novas Mídias. Também fui responsável por criar estratégias para marcas, como Amend Cosméticos, Sky, Ticket, Any Any, Speedo, Abilio Diniz, Banco Carrefour, Atacadão, Mapfre e Braskem.

Hoje se alguém me perguntar se valeu a pena, eu sempre vou dizer: Valeu muito a pena!

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