O que aconteceria com suas redes sociais se você morresse? Segundo pesquisas, há mais de 20 milhões de usuários mortos apenas no Facebook e a estimativa é que em 2098 haverá mais contas de mortos do que de vivos nesta ferramenta.
Duas semanas depois da morte de um parente, o médico, neurocientista e empresário Jô Furlan se deparou com o perfil do morto online no Skype. A conta, provavelmente, deve ter ficado aberta em algum computador ou celular que estava sendo usado. Furlan entrou em contato com outro membro da família para lhe explicar os procedimentos para que a conta fosse encerrada, mas a pessoa lhe disse que não gostaria de fazer isso, porque se sentiria matando o parente novamente.
Foi a partir dessa conversa que médico começou a idealizar o Morte Digital, serviço que encerra contas digitais de pessoas que morreram para seus familiares. O processo é simples: o interessado deve contratar o serviço pelo site, onde fará o pagamento e terá acesso a um termo de autorização. O documento deverá ser assinado por um representante legal e enviado para a empresa com um atestado de óbito autenticado. A partir daí, os contratados entrarão em contato com as empresas, pedindo o cancelamento das contas. A família é notificada quando a confirmação da suspensão das redes é enviada à empresa. Os valores dos planos variam entre R$ 199 e R$ 299.
“O procedimento é relativamente simples, o problema é que é extremamente burocrático junto a essas empresas e muitas pessoas não se atentam para esse fato”, explicou Orlando Stumpf, sócio-diretor da empresa Morte Digital. O empresário de tecnologia da informação aceitou se tornar sócio de Furlan logo que o conheceu, em um curso em São Paulo. A ideia é que a empresa poupe a família de um procedimento que pode ser doloroso, além de garantir que as informações do morto não caiam em mãos erradas. “Existe uma massa de dados que fica na internet, e se você não tem uma precaução, inclusive legal, de que essa conta seja encerrada, é possível que alguém acesse seus dados. Nossa proposta é encerrar com dignidade a vida digital da pessoa”, explicou Stumpf.
Nenhum funcionário do Morte Digital tem acesso às informações, senhas e arquivos dos mortos, e a empresa se preocupa com a privacidade dos clientes. “A ideia não é invadir a privacidade de uma pessoa. Temos também a previsão de, num segundo momento, ter um serviço que chamamos de ‘Herdeiro Digital’, em que a pessoa contrate em vida a destinação das suas contas, uma espécie de testamento digital”, contou Stumpf.
Por enquanto, o público da empresa é pequeno, principalmente por estar no início e em fase de divulgação. “Algumas pessoas brincam que querem distância de mim, por trabalhar com um assunto delicado. Mas temos alguns clientes nos contatando para encerrar contas de familiares que morreram há anos. Essas contas ficam como zumbis e nós damos um fim digno a elas”, explica o empresário, acrescentando que a iniciativa é a primeira no Brasil e uma das únicas no mundo, segundo as pesquisas de mercado feita por eles.