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Coluna Ricky Hiraoka: Da rede social para o cinema, um filme feito com vídeos do Snapchat

Por Ricky Hiraoka, colunista de RG

Da próxima vez que acusarem você de registrar excessivamente a vida nas redes sociais, você já tem uma desculpa para dar: está captando material para fazer um filme. Não acredita que isso é possível? Então, saiba que o roteirista Rafael Lessa e o diretor Daniel Ribeiro, do longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, transformaram a troca de vídeos no Snapchat num curta-metragem: Love Snaps, que foi premiado no Festival do Rio, e tem exibição garantida no Festival Mix Brasil.

Além de escrever o filme, Rafael protagoniza o projeto ao lado do namorado Yuri. Love Snaps mostra a crise no namoro de Rafael e Yuri, que se incomoda com o vício do namorado de mostrar o dia-a-dia nas redes sociais. Na entrevista abaixo, Rafael fala sobre o processo criativo do filme.

Como surgiu a ideia de gravar a partir do material feito no Snapchat?
A ideia surgiu de forma bem espontânea. Em outubro de 2015, eu e Daniel Ribeiro, o co-roteirista, co-diretor e montador do filme, durante o Festival do Rio daquele ano, estávamos usando muito o Snapchat para falar entre nós e postar coisas. Aí, conversando, via Snapchat na verdade, falamos que estávamos com vontade de usar o app para filmar algo. Daniel propôs um longa! Demos risada e eu propus um curta. Logo, começamos a pensar nas possibilidades de histórias que poderíamos contar. Algo que o Daniel sempre dizia é que as pessoas criam suas próprias narrativas no app. Você acompanha a vida daquela pessoa, mas como só tem a duração de 24 horas, cada dia é algo novo e, dependendo de como a pessoa posta, ela vai criando uma narrativa para si já que por mais que a pessoa se exponha muito, ela seleciona o que expor e a ordem do que posta no app.

Havia a vontade de ser inovador?
Não tínhamos a pretensão de revolucionar nada. Mas nos interessava as possibilidades do app enquanto uma obstrução criativa, ou seja, só usaríamos o app para captar as imagens e os sons. Logo, acho que existe dentro desse processo um desejo natural de inovação, mas não no sentido muitas vezes vazio que a palavra inovação tem hoje em dia. Não embarcamos em Love Snaps “só” para inovar.

Em algum momento, o filme pretende fazer uma crítica a quem se expõe demais nas redes sociais?
Não acreditamos que é uma crítica com C maiúsculo. É uma espécie de crônica de costumes. O meu personagem no filme não sou eu – exatamente – é uma versão em 220V minha de um cara que se expõe demais nas redes sociais e, logo, expõe o próprio namorado. Essa premissa em si já tem uma crítica a essa exposição embutida nela, mas é uma crítica bem-humorada com o desejo de não alienar o espectador. Nosso desejo sempre foi de contar a história junto dos espectadores, sejam eles usuários ou não do snapchat.

Como foi aparecer em frente das câmeras? Ficou tímido em algum momento?
Sendo bem sincero, foi bem fácil. Eu já fiz cursos de atuação, já dirigi vários atores, então parte do projeto era topar o que viesse, tanto ideias minhas quanto do Daniel. Não fiquei tímido, mas alguns momentos senti necessidade de filmar mais de uma vez a mesma cena por não ter gostado da minha atuação. Por mais que eu já usasse o app e falasse nele, ou seja, fosse personagem dele, num filme é diferente. Não é realidade. É ficção

Como é sua relação com redes sociais? Você se preocupa em nao se expor demais?
Olha, acho que tenho uma relação bem saudável e não-neurótica. Eu exponho o que eu quero. No Facebook, às vezes apago alguns posts, se mudo de ideia sobre tal opinião por exemplo. É ok mudar de ideia. Isso acontece fora das redes sociais o tempo todo. Mas não tenho desejo de expor coisas muito íntimas, então, não é uma preocupação, é falta de vontade mesmo.


Amanda Nunes, campeã brasileira do UFC e homossexual assumida: “Quando as pessoas aprenderem a respeitar, tudo vai ser mais fácil”

Única atleta assumidamente homossexual do UFC e primeira brasileira campeã da modalidade, Amanda Nunes se prepara para uma das lutas mais importantes de sua carreira: no dia 30 de dezembro, ela enfrenta a ex-campeã Ronda Rousey, que retoma a carreira após ter sido derrotada. Amanda falou com a coluna sobre o desafio e sobre a importância de ter saído do armário.

Lutar contra Ronda tem um gostinho especial por ela ser o grande nome feminino do UFC?
Eu acho que tem um gostinho especial sim, porque os fãs querem ver a Ronda lutar de novo. Ela foi uma atleta que dominou bastante essa categoria. Depois que perdeu, ficou um tempo fora, ficou a expectativa se ela voltava ou não… E agora no melhor momento da minha carreira, ela volta e direto para disputar esse cinturão. Essa luta vai ser boa para mim em todos os aspectos. Com certeza tem um gostinho diferente.

Durante a Olimpíada, por conta da vitória de Rafaela Silva, um assunto que foi muito comentado foi o apoio financeiro a atletas mulheres que praticam modalidades pouco divulgadas, como judô. No UFC, as mulheres têm problemas de patrocínio? Como funciona isso para você?
Ainda rola sim, mas depois que entrou a Reebok melhorou um pouco. Você tem um patrocínio certo. Antigamente e ainda hoje, não tem muitos patrocinadores interessados em ajudar o feminino. Espero que mude no futuro.

Você é homossexual. Sofre preconceito no meio esportivo por conta da sua condição?
Se tem, eu nem sei. Sou bem tranquila em falar, em me defender se alguém perguntar alguma coisa. A única coisa que gosto de dividir com as pessoas é minha felicidade. Hoje, eu conquistei meu maior sonho: eu sou campeã do mundo. Eu posso ajudar os outros que passam pelo mesmo que eu, que não sabem o momento certo de falar, tem receio da reação dos outros… Quando eu comecei a subir esses degraus da minha carreira, me deu força pra falar para o mundo e quando você encontra alguém que você ama, que é sua parceira, que está ali 24 horas com você, não tem porque a gente não dividir isso.

Recentemente, Fernanda Gentil assumiu que namora uma mulher. Qual a importância de atletas e celebridades assumirem a orientação sexual na luta pelos direitos LGBT?
O respeito. Eu sou a melhor do mundo, sou gente boa, sou humilde… Isso ajuda a plantar o respeito com as outras pessoas. O mais importante é o amor. Temos que amar uns aos outros e ser feliz pela felicidade dos outros. Cada pessoa que entra nas minhas redes sociais vê meu dia a dia com a minha namorada, vê que eu estou feliz, que eu vivo a vida que pedi a Deus, vê o que eu trabalhei para chegar aqui, a positividade ao meu redor. Então, acho que isso (sair do armário) vai ajudando a gente a conquistar um mundo melhor, de respeito. Cada um tem que viver a vida que quer. Esse foi o motivo de eu abrir minha vida, porque daí as pessoas vão respeitando, não só a mim, mas um vizinho do lado, um amigo que sempre quis te contar, mas não sabe qual a sua reação. Eu sentei e conversei com a minha irmã, depois com a minha mãe. E depois da apreensão veio a paz. Quando as pessoas aprenderem a respeitar, tudo vai ser mais fácil.


#perguntemeondeir: A Volta do Dzi Croquettes
Estreou no dia 03, o espetáculo Dzi Croquettes, que conta a trajetória do grupo que incendiou os palcos brasileiros na década de 1970 com suas performances irreverentes. No elenco está o ator Bruno Gissoni e Ciro Barcellos, um dos fundadores do Dzi Croquettes e responsável pela concepção da peça, que fica em cartaz no Teatro Augusta até 15 de dezembro.


*Ricky Hiraoka foi titular do Terraço Paulistano, coluna social de VEJA SP, por três anos. Hoje, trabalha como roteirista e escreveu programas para E! Entertainment, Multishow e SBT. Quando não está escrevendo, está na noite de SP caçando histórias curiosas e gente interessante.

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