Por Jeff Ares
Santiago, no Chile, não é um destino óbvio, ou um destino final de turistas – em geral é rota de quem vai à Nova Zelândia, ou dos muitos brasileiros que vão esquiar nas sensacionais estações de esqui chilenas ou de quem vai conhecer as incríveis paisagens daquele país – a Ilha de Páscoa, a Patagônia, o Atacama – meu caso.
Eu teria que dormir duas noites na cidade, mas não conhecia absolutamente nada dali – à exceção das empanadas. Pedi ajuda a uma amiga, que me indicou o bairro Lastarria. Há cerca de 8 anos, a zona central da capital passou por um processo de renovação, uma “MeatpackingDistrictzação” aos moldes do que ocorre em regiões centrais de grandes metrópoles – São Paulo tenta, mas tá difícil.
Pois lá, que é bem pequeno, deu certo. O bairro é agradável, tem um quê europeu, parece já gentrificado (haters gonna hate). O Williamsburg local é um conjunto de edificações nos anos 1920, de arquitetura francesa, símbolo da pujança econômica do país naquela época, em especial de seus barões do sal, que fizeram fortunas e construíram palacetes – abandonados por décadas, hoje abrigam museus, teatros, cinemas… e hotéis, como o Lastarria Boutique Hotel, onde me hospedei, no quarto 6 (guarde este número).
Imbicado numa rua pequena, a 10 minutos da Plaza de Armas, o hotel criado por três investidores em 2011 tem 14 quartos e uma fachada discreta, sóbria, que contrasta com o lobby, um pouco mais, digamos, animado. Reserve sem pestanejar o quarto 6, a maior suíte. O piso, que range, e os muito lindos azulejos azuis do banheiro confirmam as marcas do tempo, o grande charme do hotel, uma construção de 1927.
O quarto é bastante confortável, cama de dormir a noite toda, mobiliário elegante, com cara de loja de antiguidade (uma boa loja). Um chá me esperava, com petit fours e um bilhete bem simpático. O staff é prestativo e cortês – em especial a moça que comanda o café da manhã, de sorriso constante. O salão do desjejum descortina o ambiente mais bonito do hotel: a piscina e seu pequeno jardim, cheio de heras, escasso em banhistas – faz frio em Santiago.
Pegue um guarda-chuva na recepção e explore Lastarria. Eu tive pouco tempo, praticamente uma tarde. No caminho para a rua principal, a Calle Lastarria (eles amam essa alcunha), você já sente a aura mais hip do bairro nos grafites – não vou esquecer jamais da alcachofra cósmica que realiza desejos. Na onda da brisa, tem um bar de nome espetacular, o Marley Coffee, que não é um coffee shop, mas… quem sabe é. Vale um pit stop para um café.
Mais adiante você chega na Calle Lastarria, coisa de 5 minutos do hotel. Uma rua supercharmosa, pequena, mas com as coisas que você precisa: bons restaurantes, lojinhas de design e moda (não espere muito da moda local…), um cinema com filmes europeus, docerias, museus…
Dei de cara com uma feirinha de antiguidades em frente ao prédio do Centro Cultural Gabriela Mistral. Pra quem gosta, é divertido. Para almoçar, fiquei em dúvida entre o Bocanariz, onde o menu é harmonizado segundo os ótimos vinhos chilenos, e o Casa Lastarria. Optei pelo segundo, porque o Bocanariz é um pouco turístico demais. O Casa Lastarria é mais do pessoal de lá, um mix de executivos, oficiais do exército, desquitadas (a melhor mesa) e jovens moderninhos. Comi um prato louquíssimo, muito típico, um Pulmay Chilote, um ensopado de frutos do mar, porco e vegetais. Interessante e forte. Mas há ceviches (chilenos adoram comida peruana), tartares, assados… e um vulcão de chocolate, uma versão patriota do petit gateau. O ambiente é boêmio, e a coleção de revistas Natinal Geographic dos anos 50 entretém sua espera.
Na saída, fui tomar um café na doceria La Manzana Confitada. Gerenciada por moças de cabelos coloridos, coturnos e roupas assimétricas, tem um quê almodovariano – doces grandes, muito coloridos, muito doces, café muito frio… Mas é um bom lugar pra perceber as caras e a vida do bairro – e a moça te dá um novo café, quentinho, porque ela mesma reparou que o seu estava frio.
Da próxima vez, espero tomar um sorvete no Emporio La Rosa, que descobri, depois de ir-me, que é bem famoso e bom. E fiquei com vontade de entrar numa loja de design, que estava fechada para o almoço – parecia uma daquelas lojas legais de Amsterdam. E de tomar uma cerveja local e de conhecer o Museo Arqueológico de Santiago.
Talvez na próxima, no caminho para a Ilha de Páscoa… ou para Torres del Paine. Conforta saber que a estadia em Santiago pode ser tranquila, com um Lastarria pelo caminho.
Lastarria Boutique Hotel
www.lastarriahotel.com
De outubro a março, preço médio de 200 a 400 dólares
De abril a setembro, preço médio de 160 a 360 dólares