“Não somos um app de encontros. Somos um app de inteligência de encontros”, diz co-founder do Lulu

Por Carol De Barba

O aplicativo que causou pânico entre os homens brasileiros em 2013 está de volta e, pelo menos em seus primeiros dias de funcionamento, não gerou discórdia – muito pelo contrário, já que agora os meninos também podem entrar na jogada para ver as suas “notas” e até conversar com as garotas. O Lulu (que precisou se retirar do Brasil por causa da sobrecarga tanto de usuários quando de processos relacionados à violação de privacidade e danos morais) já é o quarto app mais baixado da AppStore local em menos de uma semana no ar.

Repaginado, ele promete ir além das avaliações e utilizar a inteligência de dados para romper os paradigmas dos dating apps tradicionais. Pelo menos é o que defende a co-fundadora da ferramenta, Alison Schwartz. RG bateu um papo com ela e descobriu que até seu marido anda reclamando da pontuação do Lulu. A gente reproduz a conversa a seguir:

Como vocês tiveram a ideia para o aplicativo?
A ideia original foi de Alexandra (Chong, a outra fundadora e CEO do Lulu). Ela estava nesse brunch com um monte de meninas, algumas amigas, outras conhecidas. Era um dia pós o Valentine’s Day, e elas estavam tendo discussões muito íntimas sobre tudo: como pedir um aumento a seu chefe, uma sugestão de dermatologista, um batom novo, enfim, ideias de produtos e recomendações. Quando paramos para pensar sobre o que estava acontecendo, percebemos duas coisas. A primeira é que quando as mulheres estão sozinhas, sem homens, elas se sentem muito confortáveis para dividir. A segunda é que mulheres estão dispostas a compartilhar informações muito íntimas com outras mulheres mesmo que elas não se conheçam muito bem. Percebemos que isso era algo muito poderoso, e pensamos em recriar essa relação no Lulu: combinar a tecnologia mobile com o poder das recomendações femininas. Obviamente, começamos com relacionamentos, mas queremos ter espaço para tudo que as mulheres gostam, para que elas tomem decisões melhores na vida.

Você não acha que esse tipo de aplicativo contribui para que as relações se tornem mais descartáveis?
Eu acho que há uma distinção muito importante entre o Lulu e os outros. Não somos um app de encontros. Somos um app de inteligência de encontros. O que você fala sobre relacionamentos descartáveis é verdade quando você está apenas passando fotos, e as pessoas se tornam apenas cartinhas que você passa indefinidamente. O que o Lulu está tentando fazer é acrescentar dados inteligentes nessas interações. E ajudar os homens a se tornarem melhores para a garota certa.

Algumas pessoas dizem que o Lulu é um app sexista. Pelo seu discurso, ele se aproxima mais do empoderamento feminino.
Obviamente, nós acreditamos no empoderamento feminino. Entendemos que algumas pessoas achem o Lulu provocador. Mas também sabemos que falar sobre homens e relacionamentos é normal. As mulheres fazem isso o tempo inteiro na vida real. Estamos recriando isso de um jeito que os homens tenham feedback para que possam melhorar, de um jeito divertido e acessível. Principalmente, estamos dando oportunidade para as mulheres recomendarem caras legais com toda certeza.

Por que vocês decidiram fazer essas mudanças no app? Foi por causa dos problemas de 2013?
Quando chegamos ao Brasil pela primeira vez foi extraordinário. Três milhões de brasileiras se inscreveram. Chegamos a meio bilhão de visualizações de perfil. Sempre soubemos que as mulheres brasileiras amavam o Lulu. Quando voltamos, no entanto, apresentamos várias novas funções. Agora temos toda uma experiência voltada para os homens, eles têm acesso à pontuação e podem ver como estão se saindo. E o Lulu também não está mais conectado ao Facebook.

Por que?
A primeira razão é porque foi um ótimo jeito de levantar o negócio. Como muitos apps, queremos ser os “mestres do nosso próprio destino”, sem depender de nenhum parceiro para isso.

Como as novas features estão se saindo nos outros países?
Ótimas! O chat, especialmente. É uma ferramenta diferente porque apenas as garotas podem começar a conversa. Então, os garotos tem que ser interessantes, educados e respeitadores para que elas continuem no papo. Ou, se a garota se interessa por um cara que tem hashtags interessantes, pontuação alta em alguns quesitos, ela pode puxar conversa com ele. O fundamental é que a mulher toma a iniciativa apenas quando se sentir confortável, por isso é tão único dentre tantos apps de encontro. Sei que o Tinder é o app de encontros líder no Brasil, e algumas das preocupações que ouvimos das mulheres nos testes foram justamente sobre ele. Os garotos simplesmente as atacam com mensagens sem sentido, porque são as mesmas encaminhadas para várias garotas, ou são mensagens muito inapropriadas. Então, o que tentamos é mostrar uma alternativa ou uma correção para essa tendência.

O que você acha das comparações com o Tinder?
Ouvimos muitas. O que percebemos é que o Tinder e o Lulu são usados lado a lado. Você conhece alguém no Tinder, ou qualquer outro app de date, e vai até o Lulu para pegar mais informações. Todo mundo está “app dating”. Tornou-se muito comum, não há mais vergonha. É ótimo, porque aumenta as chances de conhecer alguém legal. Quando você conhecia alguém por meio de amigos ou família, era fácil ter referências dessa pessoa. Mas quando você conhece alguém por um aplicativo, no fim das contas, é um completo estranho da internet. O valor do Lulu está em adicionar essa camada de referências que faltava na era do app dating.

Como foi em 2013, quando vocês saíram do Brasil?
Tecnicamente, não estávamos esperando esse interesse e essa demanda, que realmente sobrecarregou o nosso sistema. Também surgiram outras preocupações. Então, nos retiramos do Brasil. Sempre planejamos voltar, mas queríamos um produto realmente melhor, o que levou um tempo de trabalho. E o que é ótimo, claro, é que conseguimos trabalhar com escritores brasileiros muito talentosos. Sempre que lançamos o app em algum país, selecionamos escritores e comediantes locais talentosos para ter certeza de que vamos acertar no tom das brincadeiras. Fizemos isso na primeira vez e de novo recentemente. É muito empolgante trabalhar com essas pessoas.

Você casou no ano passado. Em sua opinião, qual o segredo para um relacionamento feliz?
Eu acho que ser gentil é o mais importante. Tolerância e senso de humor também. Mesmo em tempos difíceis, conseguir rir, ser leve, é fundamental.

Como o seu marido lida com o fato de ser casado com uma das fundadoras do Lulu?
Na verdade, ele me provoca porque acha que deveria ter uma pontuação melhor. Ele diz que eu mantenho artificialmente baixo para ele se comportar. E acha que deveria ganhar um boost por ser casado comigo.