Por Renata Zincone, com fotos de Deco Cury
Muito se fala sobre como a aceleração da tecnologia vem reduzindo o trabalho tradicional. Mas existe uma tendência em que pessoas estão optando por uma estrutura de trabalho fora do convencional e de grandes centros. E se voltando à tradição.
O Brasil e o mundo estão passando por um momento de escassez. Uma situação de grande transformação, que nos possibilita reavaliar tudo. E buscar, dentro de nós, uma vida com mais calma, com mais tempo, com mais presença. É uma chance para viver de nossas próprias experiências, escolher nosso próprio caminho, buscar por profissões com base na paixão. O que há vinte, dez anos atrás parecia um modo de vida alternativo – cheio de julgamentos – hoje é admirado: fazer e viver de algo que você se identifica, se conecta. Com horas flexíveis e liberdade.
Inaugurando um estilo de vida retrô, é cada vez mais normal encontrar alguém neste caminho.
Esta é a vida do Chicão (para os amigos), que depois de rodar a Austrália, descobriu sua arte em Roma: o amor de trabalhar com o ferro, junto dos irmãos Stenico. Por sete anos, aprendeu e produziu a alquimia dos romanos artesãos, que trabalhavam com métodos tradicionais em moldar ferro.
De volta à confusão de São Paulo, Francisco Abrão, 36 anos, tentou. Porém, para iniciar um ofício do gênero, que envolve fogo, São Paulo tem uma série de burocracias que te impedem de realizar tal feito. A vivência na Itália o ensinou que o caminho do campo seria possível. Sua casa/atelier foi construída nas montanhas, entre Minas e São Paulo, onde ele criou a Licht, sua marca de luminárias que transborda bom gosto e qualidade. Tudo feito à mão, composta por fios elétricos revestidos de linhas de algodão ou poliéster.
Em um container, Chico desenvolve os desenhos e as composições de cores para revestir os fios. No caminho, entre as árvores, muito verde, ar puro, som dos pássaro e a companhia do seu cachorro “Ugra”, um australian cattle dog. Dali saem criações como a “Muracatiara”, luminária de teto que traz o nome da madeira com a qual é produzida, de forma 100% artesanal, com torno manual, três opções de fios coloridos. Ou o “Zé Iluminista”, luminária de mesa superflexível, em madeira, que já se tornou queridinha de muita gente que procura originalidade. E tem muito mais… o “Pimentão”, “Tétu”, “O Poste”, “O Postinho”, “Antena”, “Caveiras Falantes”, entre outras poesias transgressoras. O “Poste” nasceu como peça de mais de 2 metros, e já com os sapatinhos jogados sobre a fiação.
Com Ugra, Chico recebe os amigos nos finais de semana, regados a boas risadas em volta da fogueira, comida caseira, tudo colhido da horta – e sem celulares. O retorno para o campo é tendência.
Luxo é tempo e qualidade de vida. Grande parcela da população já não funciona de segunda à sexta das 10 às 20 horas de trabalho. É cada vez mais difícil encontrar pessoas aptas a realizar trabalhos de qualidade com tarefas monótonas para viver o “sonho americano”. Talvez, no futuro próximo, a equação de tempo versus salário irá mudar positivamente e beneficiar mais gente. O Chico não viu outra maneira. Está próximo um mundo em que os trabalhadores terão o poder de ditar suas próprias horas, seus próprios salários e, o mais importante, a liberdade para explorar suas paixões. Uma mudança enorme, que abre oportunidades.
Para o Chico, esse mundo já existe: lichtdesign.com.br