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50 Best: O Backstage

Emoções de uma gourmand no prêmio “The World’s 50 Best Restaurants”, que premiou os brasileiros D.O.M e Maní. Por Rosa Moraes

Rosa Moraes é Diretora de Hospitalidade e Gastronomia da Laureate Brasil e tem o prazer de rodar o mundo para almoçar e jantar nos restaurantes mais incríveis. Ela, que vive colaborando com a revista RG com suas pautas saborosas – e super bem escritas, diga-se –, contou com exclusividade as emoções de acompanhar o “The World’s 50 Beste Restaurants”, prêmio que elege anualmente os melhores restôs do mundo e que aconteceu este ano no dia 29 de abril, em Londres. Que Alex Atala ficou com o 6º lugar e que o Maní passou a integrar a lista, você já deve estar sabendo. A nossa insider vai além da notícia e entrega suas preferências e sua torcida, além de contar de sua experiência no restaurante espanhol que abocanhou o lugar no topo do ranking.

Certezas Gastronômicas

por Rosa Moraes

Há poucos dias retornei de Londres e trouxe comigo na bagagem duas certezas e uma esperança. Como participante do evento “The World’s 50 Best Restaurants”, que anuncia todos os anos o ranking da revista inglesa “Restaurant”, tive a oportunidade de conferir in loco a nata da gastronomia mundial, conversar com os participantes, sentir o clima festivo dos bastidores e, como legítima brasileira, torcer pelos conterrâneos nessa premiação que é considerada o Oscar do segmento.

Agora, quem puxa a fila dos 50 melhores estabelecimentos do planeta é o restaurante espanhol El Celler de Can Roca, que desbancou o dinamarquês Noma, ocupante da liderança da classificação nos últimos três anos. O restaurante do celebrado chef René Redzepi deixou o alto do pódio para a posição de vice. Presente na seleta lista há oito primaveras e depois de figurar por dois anos consecutivos no segundo lugar, o restaurante localizado em Girona, uma linda e encantadora cidade medieval da Catalunha (nordeste da Espanha), a menos de uma hora de trem da vizinha Barcelona, três estrelas no guia Michelin, mereceu ser laureado por priorizar produtos típicos do entorno na elaboração de seus pratos.

Capitaneado por três irmãos que se completam – Joan é o chef de cozinha, Josep, o sommelier, e Jordi, o confeiteiro – é ali que a família Roca tem construído sua história de 26 anos e aperfeiçoado sua hospitalidade. A avó do trio já possuía um restaurante na cidade, e seus pais tocam até hoje um bar local. Lembro bem a recepção que tive ao chegar ao Can Roca. O espaço é moderno, com um belo jardim interno cercado por um triângulo de vidro. Impossível não reparar que, em cada mesa, repousam três pedras que representam os irmãos “J”.

A gigantesca carta de vinhos, praticamente uma bíblia dividida em três partes (brancos, tintos e outros) é entregue ao freguês em um carrinho. Para harmonizar, optei por um longo menu degustação de 16 pratos, que me fez passar em torno de cinco horas à mesa.

Um dos momentos mais marcantes foi a chegada da sobremesa multimídia batizada de “Gol de Messi”, em homenagem ao craque do Barcelona. Tive que colocar um iPod para seguir os sons de “Vai” e “Gol!” enquanto o garçom orientava a, literalmente, comer a grama, a bola de chocolate branco e a rede feita de fios de açúcar. Ao final da visita, convidada a conhecer a adega da casa, fui surpreendida com uma espécie de performance teatral. As luzes se apagavam e acendiam, orientando a um passeio pelo mundo dos vinhos, como se fossem flashes de um sonho mais do que real. Josep pediu então para fecharmos os olhos. Naquele momento, tive certeza de que vivenciava uma experiência inesquecível.

De olhos arregalados, mas de felicidade, eu fiquei quando, no final do evento de premiação, ouvi que o casal formado pela gaúcha Helena Rizzo e o espanhol Daniel Redondo estreou entre os melhores com o restaurante Maní (São Paulo), que ascendeu do 51º para o 46º posto. O fato curioso é que ambos já trabalharam no Can Roca. Encerrada a premiação, o burburinho girou em torno da novidade tupiniquim. Todos queriam conhecer os segredos do mais novo integrante da turma. Em meio à comemoração radiante da dupla de chefs, tive outra certeza: a de que o Brasil é querido no exterior. Afinal, ter dois restaurantes em disputa com Espanha, Itália e França é maravilhoso. Mais do que isso, D.O.M e Maní são casas de comida verdadeiramente brasileira que se dedicam à pesquisa com ingredientes nacionais.

Pelo oitavo ano seguido, Alex Atala continua na lista dos 50 melhores e figura, mais um ano, no top 10. Cedo ou tarde, nosso herói ruivo, barbudo e tatuado será o número 1. Essa é a minha esperança. Tomara que ela vire certeza.

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