A chef carioca Karen Couto embarcou num tour gastronomico daqueles. Conduzida pelo amigo e chef Jun Sakamoto, foi se aventurar pela rota gourmet da terra do Sol Nascente. A viagem voce ve por aqui? Ela conta os detalhes:
“Nossa aventura comecou por um restaurante especializado em sushi, o Kyubei. Uma estrela no guia Michelin e muita privacidade para deleite em estado puro. Tres chefs cozinhando exclusivamente e diante de nos, num “reservado” onde eles ensinam como comer – e a gente obedece. Seis paulistas e uma carioca “gourmets” mais o mestre Jun Sakamoto. Com o perdao da palavra, me permitam abusar dos adjetivos. O Otoro (barriga do atum) estava fabuloso. O camarao vivo dava piruetas mortais e era servido cru, apos um “golpe” que o chef disferiu, jogando-o sem casca na mesa/tabua de corte? Absolutamente fantastico. O ikura (ovas de salmao) com yuzu (limao aromatico japones) e o Uni (ovas de ourico) sao indescritiveis. O unagui (enguia) derretia na boca. A raiz de wassabi (que nada tem a ver com a pasta que comemos no Brasil) era ralada na pele do tubarao seca (superficie crespa que funciona como ralador). Como se tudo isso nao bastasse, o sake, humm, o sake…
Na noite seguinte tivemos a honra da companhia da chef e profunda conhecedora de gastronomia Mari Hirata. O pratos do menu de tempuras do restaurante Kondo vem acompanhados com tentsuyu (caldo de peixe com sake e shoyo) que voce tempera a gosto com nabo e gengibre ralados, ou simplesmente limao e sal. Todos fritos em azeite de gergelim (isto mesmo, nao e oleo, e azeite). Que alias, durante o servico, foi trocado pelo menos uma vez. Fritura sim mas, de qualidade. E impressionante a riqueza de detalhes e precisao com que os chefs aqui do outro lado do mundo trabalham, nao e a toa que eles estao doze horas a frente, if you know what I mean. O que mais me emocionou ali foi a raiz de lotus (tuberculo), a vieira (robusta e macia), o camarao e o kissu (saborosa pescadinha local). Ja o Jun destacou o pimentao e a beringela; e na simplicidade que identificamos a qualidade. Quem sabe, sabe.
Na terceira noite fomos no Kukai-tei, em Omontesanto. E especializado em teppanyaki de kobe beef, feito numa chapa que mais parecia um espelho. Esta carne e de uma raca de gado que, ao longo da vida, recebe tratamento a “pao-de-lo” com direito a massagem e musica classica. O resultado? Uma carne macia que derrete, com aparencia marmorizada, finisimas veias de gordura. E subarashii (sublime em japones)! E pode parecer trivial, mas de sobremesa comemos uvas. Apenas uvas. Me faltam palavras para descrever inigualavel sabor e textura.
Em Hakone, a oeste de Tokyo e aproximadamente 40 minutos de trem, ficamos hospedados no Oh-an. Um Ryokan (hospedagem tradicionalmente japonesa), em que voce tira a roupa. Literalmente. Eles te vestem com um kimono do qual voce so se despede na hora ir embora. Os banhos de termas a 42º voce tambem faz peladinho. Relaxam ate o espirito. Mas, infelizmente, nao e unissex. Antes de seguirmos viagem, estivemos num spot nada turistico, um pequeno e charmoso restaurante de soba (macarrao de trigo sarraceno). Hatsuhana.
Mas foi em Kyoto, esta charmosa ex-capital de Tokyo, que vivenciamos o auge do sabor. O Giro Giro e um local despretensioso, extremamente pequeno, com cozinheiros jovens que sabem exatamente o que fazem. O menu e bem costurado e as loucas sao todas diferentes. Orgasmico. A segunda noite por la foi no restaurante Junidan-ya, um dos mais antigos do Japao. Ali, uma colecao milenar de ceramicas. Foi a noite do shabu-shabu de kobe beef e verduras. E como se fosse um fondue em agua fervendo, em que tambem colocamos verduras, cogumelos e ervas, Depois bebemos o caldinho. Glup, glup!
O gran finale foi o auge, como deve ser. O restaurante Kitcho especializado em Kaseiki (tradicional refeicao japonesa), 3 estrelas no guia Michelin e do chef Tokuoka Kunio, nos alagou com um servico primoroso e uns pratos de arrepiar. Tamanha a qualidade dos produtos e a forma com que sao tratados, nao me atrevo nem a descrever. Tudo divinamente pensado para que a ocasiao fosse desfrutada ao maximo. Ate o Gohan (arroz) comove. O menos e mais. E o mais e demais!
Num pais desenvolvido como o Japao, a preocupacao na gastronomia nao e a sobrevivencia, i.e., apenas um trabalho. E sim o desenvolvimento de uma especialidade, com profunda dedicacao ao aperfeicoamento de uma arte. Kampai (saude)!
Restaurantes (enderecos):
Tokyo
Kyubei: 7-6, Ginza 8-chome, Chuo-ku, Tokyo. Tel: +81 3-3571-6523. * Restaurant
Kondo: 7-6, Ginza 8-chome, Chuo-ku, Tokyo. Tel: +81 3-3571-6523. * Restaurant
Hakone
Hatsuhana: +81 46085-5555 6, www.hatsuhana.co.jp
Kyoto
Giro Giro Hitoshina: 420-7 Nanba-cho, Nishi Kiya-machi-dori, Higashigawa, Matsubarashita, Shimogyo-ku, tel.: +81 75/343-7070
Kitcho
901 Shiokojimachi. Karasumashiokoji, Shimogyo-ku | JR Granvi Kyoto M3F, Kyoto, 600-8216, tel.: +81 75-342-0808. www.kitcho.com