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Eco Teatral estreia releitura contemporânea de “Macbeth”

Foto: Sorais Costa

Depois de ter se debruçado em “Hamlet” no espetáculo “O Apocalipse de um Diretor” (2019), o grupo Eco Teatral mergulha em outra tragédia de William Shakespeare (1564-1616). A trupe estreia uma montagem contemporânea de “Macbeth” no dia 15 de abril, no Teatro de Contêiner. A peça fica em cartaz até o dia 08 de maio, com apresentações aos sábados e às segundas, às 20h, e aos domingos, às 18h.

O trabalho tem direção de Thiago Franco Balieiro, que ainda está no elenco ao lado de Arthur Alfaia, Camila Ferrazzano, Chrystian Roque, Eduarda Kortmann, Emmanuelle Barcelos, José Bello, Giovanna Barros, Marcelo Villas Boas e Marco Canonici.

A história se passa no século 11 e tem início com a volta dos generais Macbeth e Banquo à Escócia, depois de terem vencido uma grande batalha. No caminho, eles encontram três bruxas que fazem a seguinte profecia: enquanto Macbeth se tornará rei, Banquo será pai dos próximos monarcas, mas nunca será soberano.

Sedentos pelo poder, Macbeth e sua perversa esposa Lady Macbeth começam a tramar uma insana, ardilosa e sanguinolenta ascensão ao trono. A tragédia de Shakespeare cria uma discussão sobre até onde a ambição e a culpa podem deteriorar o caráter humano.

Já a montagem do grupo Eco Teatral relaciona essas questões ao atual contexto da política brasileira, uma vez que tivemos recentemente como presidente da República um militar da reserva incapaz de separar a violência do exercício da política saudável e capaz de qualquer coisa para se manter no poder.

“A montagem é uma releitura contemporânea sobre o golpe de estado e as dinâmicas de poder que estruturam a tragédia macbethiana. Queremos pensar esse texto à luz (e sombra) de um Brasil em 2023 sem desconstruir sua dramaturgia e, portanto, preservando a história a ser contada”, explica o diretor Balieiro.

E, para acentuar esta discussão, alguns papeis que são tradicionalmente interpretados por homens brancos agora são assumidos por corpos femininos e negros, ampliando a reflexão sobre questões identitárias, de gênero e raça.

Assim, o grupo indaga: Quando um corpo de mulher ocupa uma posição que no imaginário está circunscrita como não pertencente a ela, quais estruturas sobre as aguardadas performances de gênero se abalam? Qual o feminino de soldado? E quando este mesmo corpo é uma mãe morta por uma guerra interna e não declarada?

“Atravessados pelos levantes identitários, atentos às políticas de gênero e as manobras retóricas do poder, o espetáculo não pretende formular nenhuma resposta. Mas nos importou, em sala de ensaio, bordear as perguntas que o real do corpo de cada ator e atriz gerava em cena em relação, também, aos lugares dramáticos que eles ocupam. A racialização do projeto também foi um aspecto que se desvelou para o grupo conforme o tempo em sala de ensaio. Flagrar e posicionar a branquitude e suas tecnologias tornou-se, com o processo, um dos pontos centrais da pesquisa”, revela o diretor.

Uma importante referência para discutir os mecanismos para a conquista e manutenção do poder são as provocações sobre a contemporaneidade propostas pelo filósofo sul-coreano Byung-chul Han, com as quais o grupo teve contato desde o processo criativo de “Apocalipse de um Diretor” (2019).

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