Foto: Acervo pessoal
Por Liana Padilha
Chegamos em Lisboa em julho passado para o lançamento dos singles “Nome Sujo + Estranha e Louca” e para preparar, junto com o Pedro Ribeiro (UmQuartoClub), o lançamento do quarto álbum do Noporn, “Contra Dança” (lançado em 2 de setembro). Iniciamos a tour em setembro, em Vigo, na Galícia (Espanha), e terminamos em outubro, em Portugal. Tocamos em 11 cidades: Vigo/ES, Barcelona/ES, Berlim/DE, Londres/UK, Amsterdam/NL, Bruxelas/BE, Paris/FR, Lyon/FR, Lisboa/PT, Aveiro/PT e Porto/PT. E fizemos show ao vivo em duas rádios, a Kiosk, de Bruxelas, e para o programa “REIF”, da Rinse France. Esse diário tem fotos, elementos da tour e algumas coisas escritas pelas cidades onde passamos. Impressões rápidas de quem passou dois a três dias em cada cidade.
Fazer uma turnê, é um sonho construído e vivido junto. E no nosso, como dupla, estreita e reforça o que nos trouxe até aqui: muito amor e uma enorme vontade de fazer poesia e música, com um som que a gente e o público, goste de dançar. Turnês não são turísticas, têm um tipo de logística de tempo e dinheiro. Fazemos música eletrônica e independente, mas não somos independentes, precisamos dos amigos e da energia das pessoas dançando nossas músicas. Precisamos de dinheiro. Mas é um tipo de trabalho pesado e adorável, porque é novo e todos os dias são novos e diferentes. São lugares novos, comidas, pedaços de cidades, pessoas que encontramos, novos e velhos amigos, erros e acertos, tudo isso em um período relativamente curto de tempo.
Essa foi a nossa segunda turnê e também a maior que já fizemos, vimos que podemos muito e podemos mais. Nesse diário, juntamos um pouco do que vivemos nesses dias loucos, batemos tudo em um liquidificador e o suco ficou incrível. Voilá!
Pensamos no tempo das coisas e na absoluta necessidade de expressar os sentimentos, transmitir liberdade, através da arte, da música e das festas das sexualidades e das trocas entre as pessoas pelo mundo. Quase sempre chegamos em projetos que namoram com o Cinema ou a Literatura. O Noporn é como um filme, um livro, histórias contadas ao ouvido, histórias gritadas no meio de músicas altas e batidas graves. São histórias de amor e close, são pedaços de vidas e contamos um pouco delas nas músicas. Este ano o Noporn comemora 20 anos nas pistas e falamos de e para um mini mundo de pessoas apaixonadas pela mágica das pistas de dança. Ano passado foi o ano de SIM para abrir os caminhos. Os próximos movimentos são dos corpos, vivos, livres e prontos pra dança.
Foto: Acervo pessoal
Espanha • Show 1 (10 de setembro)
Vigo/Galícia – Clube Radar
– A incrível luta do Polvo gigante contra o barco pesqueiro.
Foto: Acervo pessoal
Barcelona • Show 2 (15 de setembro)
Meteoro
“Riscar o fósforo
Torcer pelo fogo
Você vem e eu flutuo nas ondas
me esparramo no ar
Se não vem
me desfaço nas pedras
Piso em ouriços-do-mar”
Foto: Acervo pessoal
Berlim • Show 3 (18 de setembro)
Berghain – Saule
Aqui estamos nós.
Às vezes os sonhos são suaves e surgem em momentos chave pra mostrar que nossas escolhas podem nos levar bem longe. Os sonhos são feitos de forma estranha. Sonhos são construções da nossa mente, mistura de desejo e medo. É muito bom dividir nossos sonhos com outras pessoas. Nesse fim de semana, o sonho é em Berlim ❤ Que venham outros sonhos.
Londres • Show 4 (22 de setembro)
Village 512
Um edredom de nuvens sobre Londres Setembro e a luz entra pela janela do avião e cega os olhos. God Save The Queen. A rainha é morta e hoje é o dia do Funeral. Mix de cheiros e sonhos esses nossos desejos se perpetuando, em músicas, lugares e pessoas novas. O que é de verdade fica. E tudo o que fazemos hoje, escrevemos e falamos e criamos, é de verdade.
Amsterdam • Show 5 (23 de setembro)
Subbacultcha
Contra dança
Criar mundos, contar histórias, ouvir o tempo e entrar nessa viagem maluca. Noporn 20 Anos de pista, anos de festas, noites sem fim.
Fotos: Acervo pessoal
Bruxelas • Show 6 (27 de Setembro)
Live show / Kiosk Radio
Posso esperar uma tarde por você, ali naquele banco em que a gente conversava sobre as coisas que ainda não sabíamos que iríamos viver. Somos videntes do futuro, com algumas vantagens do tipo já termos passado por isso. Muita chuva e o ar cinza, algum frio, nenhum medo. Posso esperar por você, só pra ouvir você rir de si mesmo, numa dança feliz de menino que ganhou um brinquedo novo. São tantas pessoas em você, e eu posso amar cada uma delas.
Fotos: Acervo pessoal
Paris • Show 7 (29 de setembro)
Le Klub / Slut Behavior
Setembro e a crise na Europa. É outono em Paris e as ruas têm sol. As águas aqui tem um gosto estranho, dizem que logo não haverá mais água. Tem uma Guerra na Europa, o gás e a luz estão caros. É semana de moda em Paris, e a moda é estar fora da moda.
Viemos tocar nossas músicas, moda é ser livre e de verdade. A tendência Y2K reina nas ruas e o look pretos de preto continua forte, até em brancos. Noporn toca hoje num “inferninho” parisiense cheio de suor e fumaça. Lembranças de outros tempos com show na cabine de Dj. No Club, alguns amigos de todos os tempos se juntam aos novos amigos nessa jornada. Vinho e queijos de café da manhã. Hoje seguimos para Lyon.
Fotos: Acervo pessoal
Lyon • Show 8 (30 de setembro)
Ninkasi Gerland – Furie Music
Uma esteira de pedras guia o caminho, uma linha de ferro, um traço no chão.
Ogum afia sua espada nesses trilhos, faz tempo.
Muitas noites sem dormir profundo.
Peso do amor nas batatas da perna.
Peso de ferro nos pés.
Mala sem rodinha, trem para Lyon.
E uma imensidão de linhas que se cruzam, num universo multifacetado.
Uma sucessão de terras e casas cheias de vida dentro, passam pela janela do trem.
Os olhos fecham, num cansaço ancestral.
Atmosfera fria.
Na próxima parada, dormir como um bebê.
Fotos: Acervo pessoal
Lisboa • Show 9 (6 de outubro)
Musicbox
Vejo da janela, bêbados passam na rua. Aqui dentro amor e música.
Luminosidade única de um domingo em Lisboa. Roupas pretas nos varais.
Não há nada melhor a fazer hoje que ficar bêbada e dançar.
Muitas mulheres já dançaram aqui nessas ladeiras, todas bêbadas dessa luz.
Os turistas passam na rua do poço dos negros, esquina com o beco do carrasco. Eles não sabem de nós, eles não sabem nada.
Muitos mistérios antigos escancarados num verão europeu interminável. Vou ouvir fado em Alfama e brindar as coisas belas e raras, as que são curtas e intensas, são tristes e lindas, como o amor. Não tenho luxo de sofrer. Definitivamente.
Fotos: Acervo pessoal
Aveiro • Show 10 (07 de outubro)
GRETUA
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Fotos: Acervo pessoal
Porto • Show 11 (08 de outubro)
Passos Manuel
A Cidade Invicta
Chove na cidade Barroca do Porto. Uma nostalgia molha tudo junto com a chuva. Pedras molhadas contam histórias que não vi. Um povo rude no meio da montanha, que guarda vinhos doces e sardinhas salgadas em salas escuras. Tem muita dor e poesia nessas águas do Douro. Tem muito mistério nesse orgulho de resistência.
Foto: Acervo pessoal