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Dermatologista abre consultório especializado em pele negra em São Paulo

André Moreira quer ser inspiração para crianças e jovens – Foto: Divulgação

Em dezembro do ano passado, viralizou nas redes sociais uma ilustração da anatomia de uma mulher negra grávida, feita pelo estudante de medicina nigeriano Chidiebere Ibe. Para muitos, aquela foi a primeira vez que entravam em contato com um desenho médico de uma pessoa negra.

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Os números comprovam a falta de representatividade no setor. Um estudo publicado pela Academia Americana de Dermatologia e realizado pela Universidade da Pensilvânia apontou que apenas 4,5% das ilustrações na literatura médica representam peles negras.

Ilustração de Chidiebere Ibe – Reprodução/Twitter

Esse cenário é sintomático em várias áreas da medicina, inclusive na dermatologia. A falta de representatividade racial tem várias implicações, como a dificuldade de diagnósticos precisos. É isso que André Moreira quer mudar. Com uma clínica já consolidada em Brasília, o médico é especializado em peles negras e passa a atender também em São Paulo duas vezes por mês, na Clínica Alessandra Haddad, no Itaim Bibi.

“Quero que a pessoa se sinta acolhida do momento em que entra no meu consultório”, afirma o dermatologista. Quando chega em seu consultório, o paciente normalmente já teve outras experiências negativas por falta de preparo dos profissionais para atenderem as especificidades de peles negras.

Conforme ele explica, algumas das condições mais frequentes entre as reclamações das pacientes são formação de manchas na pele e perda volumétrica com o envelhecimento. “É preciso muito estudo e conhecimento para um olhar cuidadoso com as necessidades específicas da pele preta. Nem sempre há acesso às informações corretas para que o tratamento seja preciso e eficiente. Quero ser um facilitador desses cuidados e difundir meu conhecimento”, explica o especialista.

Com o seu trabalho, ele busca fazer os pacientes chegarem na melhor versão para si mesmos, respeitando suas características étnicas. “A ideia é que, enquanto pessoa negra, sou a manifestação viva da minha ancestralidade. Essa é minha melhor capa, vou me preservar e manter minha capa”, afirma.

Essa é outra característica da forma como ele aborda os tratamentos estéticos em seu consultório. Com a explosão da procura por procedimentos como harmonização facial e preenchimento, ele busca levantar questionamentos sobre a motivação dos pacientes.

“Se você quer harmonizar, você está se considerando desarmônica. Mas que padrão é esse? Essa harmonização, muitas vezes, pode trazer um apagamento étnico. Isso serve a quem? É importante entender se você realmente está buscando esse procedimento para se encaixar em um padrão inalcançável”, reflete.

Além de contribuir para o bem-estar dos pacientes, tanto físico quanto mental, ele faz parte de um movimento de profissionais negros que buscam o protagonismo em sua suas áreas para que crianças e jovens possam ter em quem se inspirar. “Não é mais por mim, é para outras pessoas se verem”, explica.

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