Foto: Pixabay
O seu creme não pode ser o mesmo da sua amiga. É por isso que na pele dela o resultado parece ser muito melhor que o seu. Isso não tem a ver com a ideia de que a “grama do vizinho é sempre mais verde”: existe, na verdade, uma explicação em seu material genético.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
De acordo com o geneticista Dr. Marcelo Sady, pós-doutor em genética e diretor geral Multigene, todos nós somos resultados da interação dos nossos genes com fatores ambientais. “O nosso estilo de vida, nossa alimentação, nível de atividade física e nível de estresse modulam a nossa suscetibilidade genética a desenvolver doenças e alterações, inclusive de pele. Mas sabemos que qualquer suscetibilidade genética pode ser amenizada com hábitos saudáveis, principalmente uma alimentação adequada e personalizada com base no nosso genótipo, e no caso da pele, uma rotina de skincare com produtos altamente personalizados, que permitem uma melhor estimativa das nossas necessidades individuais”, afirma o geneticista.
É por isso que cresce no mundo inteiro a ideia da personalização dos cremes baseada no DNA. “A personalização é a bola de cristal dos cuidados com a pele. Nos últimos cinco anos este setor em crescimento começou a iluminar as possíveis direções que a indústria irá tomar para chegar ao futuro dos cuidados com a pele”, afirma a farmacêutica Mika Yamaguchi, diretora científica da Biotec Dermocosméticos.
No mundo, essa tendência vem sendo chamada de hiperpersonalização dos cuidados com a pele, ou Skin Tech 2.0. “Através da saliva, os exames analisam o DNA de sua pele e apontam especificidades como propensão à acne ou ao fotoenvelhecimento, nível de sensibilidade e reatividade e até mesmo a capacidade de cicatrização do tecido cutâneo. A vantagem é que eles ajudam o dermatologista a indicar o que é melhor para a pele de cada paciente levando em consideração seu gene, o que faz com que seja possível uma abordagem mais precisa para a rotina de cuidados com a pele de cada um, com produtos e tratamentos específicos para oferecer o que o tecido cutâneo mais necessita”, explica a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
De acordo com a dermatologista Dra. Claudia Marçal, também membro da SBD, com o advento do mapeamento genético DNA da pele, é possível avaliar minuciosamente a composição genética de cada paciente, quais são as mutações que ele apresenta, se estas são totais (com os dois alelos comprometidos) ou parciais (com apenas um dos alelos alterados), demonstrando quais são as predisposições a que essa pele está disposta pela herança hereditária que vem mapeada no código de cada um. “Por exemplo, o genótipo do gene MMP1 está relacionado a uma degradação do colágeno oito vezes maior que o normal após a exposição solar. Existe também o genótipo do gene COL1A1, ligado à menor produção de colágeno. É possível ver, além disso, a carência de genótipos de genes como SOD2 e CAT, o que compromete a capacidade antioxidante da pele em responder bem contra a ação dos radicais livres”, afirma Sady. Ou seja, essas características predispõem o paciente a ter mais rugas e sofrer mais com o fotoenvelhecimento. “Existem substâncias que podem agir para prevenir essas alterações. Usar cremes com antioxidantes como OTZ 10, Superox C e Alistin é uma boa opção. O médico pode também indicar cápsulas orais com Exsynutriment e In.Cell para um tratamento completo dessas alterações, na medida em que as substâncias são responsáveis por uma maior produção de colágeno”, afirma Mika.
Mas não é só isso. Existem marcadores genéticos ligados a diversas alterações, como acne, pele desvitalizada, sensibilidade excessiva e flacidez, somente para ilustrar alguns exemplos. “É possível perceber também uma forma de envelhecimento relacionada à flacidez quando esta tem a ver com a perda dos níveis de gordura e o envelhecimento estrutural, influenciados pelos genes LIPC, LPL e INSIG2”, diz o Sady. “Esse tipo de paciente deve repor essa gordura com Adipofill, uma substância preenchedora presente em cremes, e utilizar FC Oral, um poderoso anti-inflamatório que previne contra a perda das estruturas da pele, além de manter uma boa alimentação”, explica Mika.
O exame é feito por meio da coleta da saliva em um chip. Esse material genético é analisado e pode identificar as alterações, por exemplo, alguns genes que favorecem o aparecimento de rugas, manchas, gordura localizada. “Com o resultado do exame, a indicação médica é mais precisa para escolher os ingredientes ativos nas concentrações ideais para tratar essas alterações”, afirma o geneticista. A análise é realizada utilizando-se várias metodologias e a importância do genótipo é encontrada em vários bancos de dados, sendo os mais utilizados o PUBMED e o SNPEDIA. “Mas é fundamental procurar um médico. Somente ele poderá indicar os produtos mais recomendados para cada caso”, finaliza.