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Conexão Brasil-Alemanha: Por dentro da 4711, fragrância com mais de 200 anos de história

Por Maíra Goldschmidt, de Berlim

Que tal fazer a sua própria água de colônia? Foi esse convite que me levou a flagship da 4711 Original Eau de Cologne, na Glockengasse, em Colônia, no oeste da Alemanha. Uma das marcas mais antigas e conhecidas do país (são mais de 200 anos) é também, por coincidência, uma das principais lembranças olfativas da minha infância. Lá no final dos anos 80, era esse vidrinho hexagonal que fazia companhia ao Chanel n°5 da minha avó – e, depois de uns dias de férias no apartamento em que ela vivia no Copan, no centro de São Paulo, fazia mesmo, já que o perfume virou vizinho do meu Giovanna Baby a quilômetros de distância da capital paulista!

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Pois bem, voltando ao que interessa. Desafio aceito e mãos à obra. Alexandra Kalle, diretora de desenvolvimento de fragrâncias da M&W, comandou o workshop de criação da água de colônia que participei. Após uma introdução sobre os ingredientes que constam na fórmula supersecreta da 4711 – entre eles: bergamota, limão e laranja nas notas de cabeça; lavanda e alecrim, nas de coração; e neroli, na de fundo – foram apresentados outros 21 ingredientes, como baunilha, chá verde e gengibre. Agora eu estava livre para misturá-los como quisesse.

Você pode imaginar que, depois de dez minutos, eu já não diferenciava bergamota de laranja doce! E olha que meu nariz não é pequeno, não! Mas continuei firme na missão de fazer a minha fragrância. Na fórmula, que batizei de Frau Goldschmidt, tem 6ml de bergamota, 4ml de laranja doce, 2ml de lavanda, 1ml de vetiver e, ousadia minha, menos de 1ml de manjeiricão, ingrediente considerado “perturbador”. Claro que o resultado ficou exótico! No entanto, por incrível que pareça, tenho usado a Frau Goldschmidt e até agora ninguém reclamou… Ou eu só conheço gente educada!

Mas, agora que os dias (espero eu!) começam a esquentar na Alemanha (aqui é primavera!), vou ficar mesmo é com a versão original da 4711, que é fresca na medida certa há mais de dois séculos!

Um pouco de história…
Diz a lenda que a 4711 Original Eau de Cologne foi criada em outubro de 1792, em Colônia, após o comerciante Wilhelm Mülhens receber a fórmula de presente de casamento de um monge – mas também é verdade que em 1709 Giovanni Maria Farina já havia desenvolvido o que chamou de “água de Colônia” na mesma região. Se a fórmula é a mesma ou uma adaptação, ninguém diz (ou sabe) ao certo…

Durante a ocupação francesa, em 1794, as tropas de Napoleão deram à casa de Mülhens, na rua Glockengasse, o número 4711, daí o nome da fragrância. Em 1820, Peter Heinrich Molanus criou o frasco hexagonal usada até hoje. Além de Napoleão, nesses quase 224 anos, a marca sobreviveu aos prússios, à primeira guerra, ao nazismo e, consequentemente, aos ataques das tropas aliadas que destruíram cerca de 90% de Colônia. A recuperação da empresa na década de 50 é atribuída a uma mulher, Maria Mehl-Mülhens, quinta geração da família Mülhens.

Em 1958, o perfume é citado no livro de Truman Capote, “Breakfast at Tiffany’s” (“Bonequinha de Luxo”), como o perfume da protagonista Holly Golightly. Na exibição permanente do Palácio das Lágrimas, como é conhecido o antigo terminal da Friedrichstrasse, em Berlim, um sabonete 4711 exemplifica que tipo de produtos eram contrabandeados da Alemanha Ocidental para a Oriental (principalmente após a construção do muro, entre 1961 e 1989).

Desde 2006, a empresa Mäurer & Wirtz detém os direitos sobre a fragrância, que está presente em 65 países. No Brasil, terá distribuição nacional a partir de abril de 2016 em perfumarias e na loja de departamento Renner. Os preços variam entre R$ 135 (90ml) e R$ 450 (800 ml).

Desenvolvimento sustentável
Se em 1869 a família Mülhens pode comprar fazendas em Grasse, na França, e Peter Paul Mülhens ia pessoalmente à Índia buscar novos aromas, hoje a garantia de qualidade e produção ética e ecológica são responsabilidade dos fornecedores. Entre eles, estão: a Firmenich, empresa suíça que trabalha no Brasil com cooperativa de pequenos agricultores de laranja, ou a alemã Symrise, que também utiliza a laranja brasileira, e se compromete a proteger áreas ameaçadas da Mata Atlântica investindo em projetos de preservação ambiental. Ainda com projetos e certificações que apoiam o desenvolvimento sustentável na Ásia e África estão a Givaudan e a International Flavors and Fragrances.

Serviço
O workshop de fragrâncias é ministrado em alemão, mas há possibilidade de agendamento em outros idiomas, e acontece às quintas-feiras, às 15h (seja pontual, por favor, alemão considera atraso um tremendo desrespeito!). Investimento: 35 euros.

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