Por André Aloi
Rico Dalasam estreia neste domingo (29.05) seu novo show, Orgunga, no Auditório Ibirapuera, no parque de mesmo nome, em São Paulo. A data não poderia ser outra, que não a da Parada do Orgulho LGBT na capital paulista e dia em que ele põe pra jogo seu primeiro disco cheio, cujo nome é o mesmo da tour e simboliza “meus melhores orgulhos”. Para ele, ser espelho para parte das pessoas foi sua maior conquista neste último ano.
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Mas quer muito mais do que apenas isso. “Meu maior sonho é marcar minha geração. Quando vi que era um cabeleireiro, as pessoas sentavam na minha cadeira, plantava algumas ideias e isso transformava a auto-estima, deixava a vida delas mais fácil ou mais leve porque fui um bom ouvinte, eu falei: ‘cara, já faço isso’. Mas, precisava de mais”, conta. Foi então estudar Artes Visuais na faculdade e construiu sua própria narrativa, o chamado storytelling, para que as pessoas se vissem ou criassem um tipo de relação com isso.
Quando isso aconteceu, ele não acreditava que poderia ser protagonista dessa cena de rap gay, apesar de querer muito isso. “Não considerava minha história especial. Tinha vergonha de várias coisas, como amar e estar em lugares”, argumenta, explicando que por ser negro sentia na pele o preconceito. “As pessoas me olham com olhar estrangeiro. Elas não estão preparadas para o meu cabelo, minha roupa. Só mostram imponência e querem construir o constrangimento”, reforça. O momento que passou a se aceitar foi no fim da adolescência, reflexo do rap em sua vida. “O que sentia vergonha, comecei a me orgulhar”.
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Dalasam tenta não bater na tecla do repertório gay, como tombou, sambou e coisas do gênero. “Não consigo ser tão lúdico com as coisas. Apesar de conversar muito com a moda e outros lugares, em que as pessoas vêm primeiro a futilidade do que a utilidade da mensagem, não consigo passar a palavra com menos cunho social. Pra mim, ferver tem uma conotação política. O Orgunga tem uma conotação social. Mas na hora de entregar isso, uso o entretenimento: é dançar no palco, provocar as pessoas a viver”, afirma.
Expoente do chamado movimento Queer Rap, o cantor assumidamente gay explica o novo trabalho é o reconhecimento de uma transição desde o EP Modo Diverso, que foi um ponto de partida para tudo isso. “No começo, não sabia o que ia acontecer com as músicas. O caminho que se deu, as curvas tomaram outras proporções. Achava que ia virar artista de fazer essas turnês que só frequenta clubs até vir o disco”. Não foi nada disso, pois ainda fez apresentações fora, entrou no circuito de casas de shows e festivais.
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O rapper rodou o Brasil, teve reconhecimento de revistas de moda internacionais pelo seu estilo e ele aposta naquele que foi seu maior acerto: “cruzar coisas já existentes e ressignificar com sentido de inovação. Alcancei um monte de gente, mas o poder de identificação é algo que traz muita gente”, argumenta. O cantor afirma que conseguiu partir da extrema solidão, de quando fazia sua música em casa, para alcançar muitos fãs – de quem é próximo, seja nas rede sociais, seja no pós-show.
Rico é ex-cabeleireiro, foi criado na periferia de São Paulo, mas a moda é algo constante em sua trajetória. Seus looks, por vezes espalhafatosos, são um reflexo de glamour e status que ele sempre buscou traduzir em sua música. “A moda é minha música quando estou quieto”, diz ele sobre a construção da imagem. “Posso pegar um monte de rouba incrível e não contar a história que preciso. O storytelling está na pessoa em conceber uma história inédita, em como edito isso, e sentir uma necessidade de explorar”.
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Para ele, sonho está muito ligado ao consumo e coisas que podem acontecer em sua vida, que servem de termômetro para medir o que deu ou não certo. “Posso escrever para chamar e acontecer. Por exemplo, escrevi Aceite-se para depois viver aquilo. O mesmo com Riquíssima”, pontua. Ele acredita na palavra como forma de materialização das coisas. “Posso dizer que daqui um ano, estarei no Taj Mahal, andando de elefante. Mas quando estou no palco, o efeito é outro, contamino mais gente e elas sonham com você”.
Além do Queer Rap, Rico faz parte ainda da chamada Geração Tombamento, que se orgulha em ser diferente e traz em sua música uma mensagem de aceitação. “É tudo recente. Pra quem tem vinte e poucos anos, ninguém plantou quando a gente tinha 10”, retruca. “Não é só na balada e se sentir bem. É estar sozinho, no quarto, em casa, e ver que está tudo bem também. Posso estar representando o futuro e as pessoas que estão acompanhando essa tendência, também. Mas pode ser que no ano que vem possa sumir todo mundo. Mas é uma forma de buscar política para aqueles que são invisíveis”.