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Marca ensina técnicas têxteis a mulheres que sofreram violência doméstica

Trabalho das mulheres na Utopiar – Foto: Divulgação

Transformar vidas por meio da moda é uma das principais missões da Utopiar, marca de vestuário feminino que tem parte da produção realizada por mulheres que passaram por situações de violência doméstica. Criado em 2017 pela empresária Renata Rizzi, o projeto foi a maneira que ela encontrou de ressignificar sua própria experiência com a violência, ao acolher mulheres que passaram pela mesma condição e proporcionar a elas o reencontro com a autoestima.

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Renata Rizzi e Natália Seibel – Foto: Divulgação

Ao lado da administradora de empresas, e agora sócia, Natália Seibel, que em março de 2020 passou a agregar ao projeto sua expertise em gestão, Renata promove cursos de capacitação em beneficiamento têxtil a mulheres indicadas pela ONG Casa Mariás, que oferece apoio psicológico, jurídico e abrigo sigiloso para pessoas em situação de violência doméstica. Os cursos, totalmente gratuitos, incluem técnicas de bordado, block print e tingimento.

“As alunas aprendem um ofício que pode inseri-las no mercado de trabalho, porém, mais do que a oportunidade de geração de renda, queremos ajudá-las a se fortalecer emocionalmente e a reescrever a história de suas vidas”, comenta Renata.

O resultado do trabalho realizado pelas alunas pode ser conferido nas peças lançadas pela marca. São duas coleções já disponíveis no e-commerce www.utopiar.com.br. ]

“Com a entrada na Nati no projeto, e por conta da pandemia, a Utopiar passou por uma reformulação. Eu tinha um plano de negócios que precisou ser refeito. Então, durante esses meses, idealizamos as coleções “Da Vida”, que lançamos em outubro, e a “Mergulho”, que apresentamos ao mercado agora em novembro”, conta a empresária.

A marca aposta em um mix de modelagens amplas e confortáveis. Peças como calças, camisas, regatas e quimonos recebem as estampas criadas pelas quase 60 mulheres já atendidas pelo projeto. “A ideia é a cada mês lançarmos uma coleção, uma nova história em cima dessas mesmas modelagens, trazendo outras técnicas. Daqui a alguns meses também vamos elaborar novos modelos”, conta Renata. “Nossas escolhas de processos e matérias-primas também são orientadas pelos princípios da sustentabilidade, buscando respeitar o meio ambiente e valorizar a mão de obra e toda a rede de geração de valor”, completa.

As flores da Utopiar

As turmas da Utopiar são formadas, em média, por cinco alunas, e cada curso tem duração de um mês, com encontros semanais, mas que podem variar dependendo da complexidade da técnica ensinada. Após esse período, quem tiver interesse pode integrar a equipe de produção da marca.

Para preservar a identidade das mulheres atendidas pelo projeto, cada uma escolhe uma flor para ser seu codinome. “Ao comprar uma peça, o cliente sabe quem a fez e pode conhecer um pouco de sua história”, revela Natália. É o caso da Flor de Lírio, que relata que sofreu violência durante os 25 anos em que esteve casada, e só em 2018 conseguiu uma medida protetiva contra o ex-marido após as agressões serem constatada por meio de perícia. “Estou muito feliz na Utopiar. Espero que o projeto cresça e eu cresça junto com ele. Desejo que as mulheres que viveram o mesmo dilema que eu ergam a cabeça, se amem e descubram que são muito especiais e que têm valor. Eu demorei muito para reconhecer isso, mas tomei a decisão e estou indo em frente”, conta a aluna.

Trabalho das mulheres na Utopiar – Foto: Divulgação

Uma situação semelhante viveu Rosa, de 47 anos, que passou por diversos tipos de violência, incluindo um abuso sexual aos nove anos de idade. “Tenho encontrado apoio dentro de trabalhos sociais, pois nos unimos com os mesmos objetivos. São feridas que no decorrer do tempo foram curadas, mas que precisam ser assistidas um pouco mais de perto, constantemente, para que não voltem a abrir. Por isso é muito importante estarmos envolvidas em trabalhos sociais, empresas que acolhem a causa e nos ouvem, nos ajudam e nos veem de forma diferente”, relata.

Um dos pontos positivos do projeto, segundo Natália, é a troca entre as mulheres acolhidas, que dividem suas histórias e experiências. “São pessoas que passaram por experiências semelhantes, então o apoio mútuo é fundamental para que elas consigam superar.” 

O objetivo do Utopiar é transformar a vida de 5 mil mulheres nos próximos dez anos.

O Brasil é o 5º país no mundo – em um grupo de 83 – em que se matam mais mulheres, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Em 2020, foram registradas 105.671 denúncias de violência contra a mulher nos canais Ligue 180 e Disque 100.

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