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E se o chão não rachar?

Maitê Proença fala sobre a fragilidade da modernidade, o “gelo fino” sobre o qual caminhamos em nossas vidas

Por Maitê Proença

Existe uma imagem inventada por Emerson (não o Fittipaldi, o outro, o Ralph Waldo) que, já no século 19, dizia que nós, os modernos, estamos atravessando um inverno, deslizando sobre uma fina camada de gelo, e que, se pararmos, o gelo vai rachar embaixo de nossos pés. A gente se sente cada vez mais assim.

Não é um fato isolado, todos estamos tomados dessa aflição, duvide de quem não está! As vezes piora, em épocas de férias, quando somos obrigados a diminuir os afazeres e a rapidez com que lidamos com todas as coisas, é frequente bater uma deprê e solidão, como se estivéssemos a sós na agonia. Sofrimento não é doença, mostra que você é um cara denso que em algum momento terá que olhar pra desordem interna e refletir sobre o que fazer. Desconfie de quem não passa por isso. Existe um ou outro, são os normais, os intrinsecamente adaptados, os felizes. E chatos, chatíssimos. Verdade que os outros, os atormentados, também são chatos (não há saída), mas são chatos mais consistentes, interessantemente chatos.

A demanda é por uma velocidade cada vez maior, por mais agilidade, na busca de mais eficácia. Segue nisso até quebrar. A única chance que há para não se adoecer dessa maluquice é parar de fazer o jogo e correr o risco de ralentar o ritmo. E talvez, do chão rachar. Ou não.

Maitê Proença é colunista do site As Meninas.

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