RG foi conversar com fotografos brasileiros para repercutir a morte de Otto Stupakoff.
Os depoimentos contam um pouco sobre o genial fotografo, que morreu dormindo aos 73 anos, em Sao Paulo. O velorio acontece ainda hoje, a partir das 20h, no Cemiterio Sao Paulo. Otto sera cremado nessa sexta-feira.
Assistente de Otto por muitos anos, Paulo Bega atendeu RG com a voz triste. “O Otto tinha um romantismo com a fotografia que nao se ve mais. Fazia as coisas com amor, querendo construir uma imagem forte, nao simplesmente fotografar por fotografar”. Bega observa que Otto vivia uma situacao depressiva. Mas que seguia produzindo – nos ultimos tempos, se dedicava a colagens.
Daniel Klajmic recebeu a noticia por RG – estava o dia inteiro em estudio. “Quando eu era assistente do (Luis) Garrido, o Otto ja era uma referencia pra ele… Otto e referencia pros caras que sao a referencia da minha geracao. E o comeco de tudo, ja escreveu o nome dele la… foi o primeiro a trabalhar fora do Brasil. Pra mim e essa a importancia dele, a de ser um desbravador. E um grande merito”.
Fernando Laszlo conheceu Stupakoff em Portugal, fotografando para a Vogue Brasil. Ficaram amigos mais tarde, quando se reencontraram nos Estados Unidos. “Ele morava fora de NY, convidava amigos para jantar – e cozinhava. Muito bem. Fazia tudo com outro tempo, parava tudo. Nunca conheci ninguem como ele, que ia ate o fundo das coisas, buscava a excelencia. O Otto ia alem da estetica”.
Claudia Guimaraes tambem nao sabia da morte do fotografo. “Eu nunca trabalhei com o Otto, mas ele sempre foi inspiracao. Ja fez coisas absurdas, trabalhos (principalmente da decada de 70) que me impressionam. Fotografava com espelho, usava luz natural. Suas fotos sao lindas e emocionam. Carrego em mim a naturalidade e a imagem instantanea, marcantes no trabalho dele”.
RG tambem conversou com o assistente de Otto em seus ultimos anos de vida. Marcelo Naddeo acredita que “ele foi incompreendido nessa volta ao Brasil… As pessoas se preocupavam mais com o icone Otto do que com o que ele realmente fazia. Ele teve pouca chance de trabalhar como antigamente , com cuidado em todas as etapas do processo”, acredita. Naddeo lembra da sua relacao com ele: “Eu mexia no foco da camera, o que e muito importante para um fotografo. Essa confianca era um presente pra mim”. E segue: “Muitas pessoas vao aparecer para falar. Mas a verdade e que ele ficou sozinho, poucos mantiveram contato com ele, poucos tinham paciencia para ouvir suas historias. Ele acabou so”.
Bob Wolfenson conta suas experiencias com Otto: “O meu primeiro contato com o Otto foi nos anos 80, quando fui a uma enorme exposicao da obra dele no Masp. Na epoca, fiquei impressionado mais com o que ele significava do que com a obra dele em si. Ele era a personificacao da aventura de ser um fotografo: o glamour, as viagens, era bonitao, tinha mulheres ao seu lado. Fiquei fascinado por isso. Procurei o Otto em 82, quando fui morar em NY. Liguei para ele porque queria trabalhar de assistente de um grande fotografo, mas ele nem retornou. Anos mais tarde, quando contei isso, ele respondeu: ?Perdi um excelente assistente, e voce perdeu um excelente mestre?. Fiquei anos sem ter contato, ate que em 86 vi uma capa da Vogue feita por ele, com o Jorge Amado. Fiquei encantado e me tornei um admirador. Nos anos 2000, no primeiro numero da minha revista ( a S/N), fui atras dele. Encontrei o Otto numa cidade do interior dos Estados Unidos, numa fase ruim, sem grana, sem trabalho. Fiz uma materia de 20 paginas com ele e voltei disposto a fazer algo maior com isso. Falei com o Paulo Borges, diretor do SPFW. Dois anos depois, o Paulo fez a exposicao sobre a obra dele na semana de moda. O Otto voltou para o Brasil depois disso. Ficamos muito proximos por uns dois anos, mas ele era uma pessoa dificil. Mas sempre o admirei profundamente independente de seus humores. Ele era uma pessoa incrivel”.