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Aposta RG: Não Recomendados entoa e personifica o “doce protesto dos marginalizados e oprimidos da sociedade”

Por Carol De Barba |

Impossível passar incólume aos versos fortes da canção que é hino e dá nome aos Não Recomendados. “Pervertido, mal amado, menino malvado, muito cuidado. Má influência, péssima aparência, menino indecente, viado. A placa de censura no meu rosto diz, não recomendado à sociedade”. Caio Prado, Daniel Chaudon e Diego Moraes apresentam nesta quinta (2.06), no Theatro NET, em SP, sua música-protesto em um show que talvez nunca tenha sido tão relevante quanto agora. RG conversou com eles sobre o projeto e a apresentação – que, a gente garante, é imperdível (confira o serviço no final da matéria).

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Pelas faíscas que os Não Recomendados soltam em cima do palco, fica fácil adivinhar que o projeto surgiu natural e inevitavelmente. Daniel e Diego se tonaram amigos antes da música, graças aos bares e baladas de Campinas. Diego e Caio se encontraram cantarolando no banheiro de um hotel, no meio de pelo menos mais 80 cantores que tentavam a sorte em uma competição musical. A união dos três aconteceu na cidade maravilhosa. “Numa época em que os saraus no Rio de Janeiro tinham voltado à cena. De segunda a domingo, amigos abriam suas casas pra receber música. Íamos a esses saraus e entoávamos “Não Recomendado”, canção que compus em forma de doce protesto dos marginalizados e oprimidos da sociedade”, conta Caio – ouça a música aqui.

“Quando Caio abriu a boca e entoou essa facada, minha vida mudou. Na verdade minha vida entendeu. Acho que fiquei chorando por um mês com essa música no repeat. Interno. E com isso, uma espécie de chamado. Ao mesmo tempo, os vidros dos carros do mundo gratuitamente continuavam abaixando e gritando “VIAAADO”… O sentindo havia tomado conta do meu cantar”, relata Diego.

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A transformação do grito em espetáculo aconteceu com a chegada do maestro e diretor musical Edu Capello. É ele quem cuida da banda (Henrique Torres nas guitarras e Jean Michel na bateria), faz parte da criação de cenário e até vídeos. “A cada show é uma divisão de tarefas diferente. Somos todos de tudo um pouco: designers dos nossos próprios flyers, carregadores de van, roadies, produtores, empresários, divulgadores, desmontadores de palco, muitas vezes nossos próprios figurinistas, terapeutas, psicólogos, saco de pancadas… Corremos atrás dos shows e nos viramos na medida do impossível, como todo e qualquer artista brasileiro”, explica Diego.

Em muitas das apresentações, o trio ainda leva consigo convidados muito especiais, como Ney Matrogrosso e Maria Gadú. A performance de quinta (02.06), em São Paulo, contará com a presença de Filipe Catto e Mariana Aydar.

No repertório, além das músicas autorais, tem Gilberto Gil, Chico Buarque, e mais releituras de clássicos da MPB e até do pagode e do axé – tudo extremamente não-recomendado. “Nossas referências passam por Secos e Molhados, Tropicália, Dzi Croquetes, tudo que há de transgressor, amor e sem tabu na nossa cultura brasileira”, resume Caio.

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A estrutura do espetáculo é dividida em duas partes. O primeiro momento é mais sério, denso, com os meninos Caio, Daniel e Diego. No segundo, eles surgem repaginados, digamos assim: Janina, a mimada de realengo; Morenita, a revoltada de Piracicaba; e Carlota, a despejada da capital. “Acho que me considero CrossDresser, não sei ainda… Aos 3 ou 4 anos de idade já dava show na garagem dos meus pais usando as sainhas das minhas irmãs. Uma típica ‘criança viada’. Creia, não tem coisa mais libertadora que um vestidinho curto”, ri Diego.

A brincadeira, no entanto, é bem à parte, mesmo. “É muito louco, porque precisa de muita coragem pra cantar isso, assim. Esse hino (Não Recomendados) nos justificou e nos explica. Por isso creio que estamos juntos”, afirma Diego. “Enquanto negro, gay e pobre é importante fazer da música uma potência ativa buscando reflexões e superação de paradigmas da nossa sociedade machista, racista e homofóbica”, completa Caio.

Fato: os questionamentos levantados tanto pela encenação quanto pelas letras das músicas vem a calhar no momento pelo qual o país passa. “Para nós, a existência do show não é política. Creio que esse show seja uma “Ode à Liberdade” e mais que isso, uma “Ode ao respeito à Liberdade de ser o que se quer ser e o que se é em sociedade”. Como infelizmente a onda conservadora brasileira anda criando até leis que interferem nos “Direitos Humanos”, as pessoas acabam vendo o show como político… Eu queria dar um VIP para o Bolsonaro e o Feliciano”, desabafa Diego.

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Assim como RG, os Não Recomendados só tem a comemorar que essa tal “Geração Tombamento” esteja ganhando cada vez mais relevância. Além de já terem contado com a participação de Johnny Hooker em sua estreia, no Rio, Diego já andou trocando figurinhas com Rico Dalasam. “O sucesso desses artistas é fruto de um “despertar geral” do grande público a essa “descaretização” musical tão necessária”, conclui.

SERVIÇO
Show Não Recomendados
Quando: quinta-feira (02.06), às 21h
Onde: Theatro NET (Rua Olimpíadas, 360. Itaim Bibi – Shopping Vila Olímpia, 5º piso)
Ingressos: Plateia Central, Balcão I e Balcão II – R$30 (compre neste link)
Classificação: 16 anos

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