Desde as 17h15 da última quarta-feira (23.07), quando o escritor paraibano Ariano Suassuna faleceu, as redes sociais ganharam uma avalanche de homenagens ao poeta. Entre todas as frases e textos escritos para Suassuna, os destaques vão para Selton Mello e Matheus Nachtergale, o João Grilo e Chicó, de “O Auto da Compadecida”, uma das obras mais queridas do público.
Confira as homenagens feitas para Ariano Suassuna:
Grazi Massafera: “‘Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver’ #simplesmente #sabedoria.”
Carol Castro: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso” #ArianoSuassuna #RIP #MaisUmGenioQueSeVai #FestaNoCeu”.
Fernanda Souza: “Obrigada por sua arte! Por nos divertir, nos entreter e nos ensinar… Seu talento e sua história estão em nossa memória e coração! Muito obrigada!”
Felipe Solari: “Suassuna me fazia rir muito !!! Acompanhei muitas palestras/papos com ele… Que figura doce e divertida… Perdemos Ubaldo e ele :(“
Samara Felippo: “RIP Ariano Suassuna, vai com Deus, descanse em paz mestre. Sua obra é eterna. Obrigado”
Claudia Raia: “Palmas para o genio Ariano Suassuna! Obrigada pelo seu talento, pela sua obra e sua dignidade! Que Deus ilumine seu caminho”
Bob Wolfeson: “Minha homenagem à eterna elegância de Ariano Suassuna”. O fotógrafo postou um click de 1995 do seu livro “Jardim da Luz”.
Serginho Groisman:”Ariano Suassuna. Paraibano-Recifense-Brasileiro que nos orgulha para sempre. Fica em paz.”
Luiz Inácio Lula da Silva: “É imensa a tristeza de receber a notícia de que um amigo tão querido como Ariano Suassuna nos deixou. Este paraibano de língua afiada, alma solidária, escrita ao mesmo tempo simples e profunda, sempre nos honrou com sua amizade. Ariano fez muito pelo povo brasileiro através de suas palavras, sabedoria popular e compromisso político. Um escritor premiado e reconhecido, que nunca se esqueceu que era um homem do povo. Cresceu no sertão do Nordeste e traduziu tantas vezes em seus textos as alegrias e os sofrimentos dos brasileiros. Ariano representou com coerência e grandeza a cultura do Nordeste e do país. Com enorme tristeza, me solidarizo com seus familiares, amigos e admiradores. Como escritor e como militante das causas populares, Suassuna continuará vivo em nossos corações”.
Dilma Rousseff: “O Brasil perdeu hoje uma grande referência cultural. Escritor, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna foi capaz de traduzir a alma, a tradição e as contradições nordestinas em livros como Auto da Compadecida e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. A obra de Suassuna é essencial para a compreensão do Brasil. Guardo comigo ótimas recordações de nossos encontros e das suas histórias. Aos familiares, amigos e leitores, meus sentimentos neste momento de perda.”
Carta do ator e diretor Selton Mello
E o Brasil ficou mais pobre.
E triste.
Ariano, poeta entendedor do Brasil profundo.
Defensor de nossa riqueza cultural e emocional.
Sua obra descomunal fica para sempre.
Tive a honraria graúda de dar vida a um de seus passarinhos (era como se referia a seus personagens queridos).
Chicó fui eu, Chicó é Ariano, Chicó é tu.
Chicó e João Grilo têm morada no coração dos brasileiros.
E na minha mente e coração sempre estarão gravadas as palavras sublimes que proferi em “O Auto da Compadecida”:
“Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados”.
Celebre-se o homem, celebre-se o brasileiro, celebre-se o artesão das palavras.
E se um dia perguntarem se tudo que criou foi exatamente assim como ele idealizou, imaginarei Ariano dizendo com um sorriso de menino nos lábios: “Não sei, só sei que foi assim.”
Carta do ator Matheus Nachtergale
“Carta para Ariano,
Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo.
Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo.
O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar com ferros minha boca cansada. Sentou-se sem cela e estribo, à pelo e sem chicote, no lombo dolorido de mim e nele descansou. Não corria em cavalgada. Buscava sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura dos nossos caminhos. Me fazia sorrir tanto que eu, cavalo, não notava a aridez da caminhada. Eu era feliz e magro e desdentado e inteligente. Eu deixava o cavaleiro guiar a marcha e mal percebia a beleza da dor dele. O tamanho da dor dele. O amor que já sentia por ele, e por você, Ariano.
Depois do Grilo de você, e que é você, virei cavalo mimado, que não aceita ser domado, que encontra saídas pelas cercas de arame farpado, e encontra sempre uma sombra, um riachinho, um capim bom. Você Ariano, e teu João Grilo, me levaram para onde há verde gramagem eterna. Fui com vocês para a morada dos corações de toda gente daqui desse país bonito e duro.
Depois do Grilo de você, que é você também, que sou eu, fui morar lá no rancho dos arquétipos, onde tem néctar de mel, água fresca e uma sombra brasileira, com rede de chita e tudo. De lá, vê-se a pedra do reino, uns cariris secos e coloridos, uns reis e uns santos. De lá, vejo você na cadeira de balanço de palhinha, contando, todo elegante, uma mesma linda estória pra nós. Um beijo, meu melhor cavaleiro.
Teu,
Matheus Nachtergaele”