O estilista Maurício Duarte – Foto: Divulgação
Maurício Duarte, 28 anos, é nascido em Manaus (Amazonas) e é pertencente ao povo Kaixana, localizado no Alto Solimões. Ele é o idealizador desse projeto e sonho, fruto de muito trabalho, do choque entre as florestas, da alusão às suas raízes indígenas e do contraste concretista das grandes metrópoles. Com cortes disfórmicos e únicos, o artista abraça os saberes manuais e a moda com iniciativas positivas.
Ele será o primeiro designer e estilista do Amazonas a participar da SPFW, maior semana de moda da América Latina. A marca apresentará sua primeira coleção presencial na edição 55 no dia 27 de maio.
A coleção chamada “Tramas” recebe esse nome por abordar a construção das cestarias indígenas, que são um patrimônio cultural dos povos originários do Amazonas. Esses povos têm carregado consigo os conhecimentos e habilidades artesanais ao longo dos tempos. Para a produção dessa coleção, contamos com a participação de 16 comunidades indígenas distintas, que contribuíram na confecção dos artesanatos, compartilhando seus conhecimentos, habilidades artísticas e conexões ancestrais.
“Falar sobre ‘Trama’ é falar sobre aquilo que construímos, como uma teia tecida pelo coletivo que somos. Mesmo sendo de diferentes povos, que carregam os mesmos costumes e compartilham características históricas semelhantes. Estamos lutando pelo reconhecimento e visibilidade, buscando que as pessoas conheçam nossas tradições e culturas além dos meios midiáticos”, contextualiza Maurício Duarte, diretor criativo da marca que leva seu nome.
As formas geométricas presentes nos cestos e balaios são as principais inspirações para as peças da coleção, que apresentam formatos cilíndricos e circulares, originalmente encontrados em tipitis, luminárias e balaios. Essas formas remetem às memórias afetivas da infância do designer. As fibras de arumã e tucum, amplamente utilizadas nas comunidades tradicionais na construção de utensílios domésticos e decoração, são as principais matérias-primas para a confecção de acessórios e roupas. A intenção é evocar as fibras e os elementos do cotidiano ancestral, transmitindo a ideia de que o artesanato pode estar presente na moda da mesma forma que pode ser interpretado como decoração.
A coleção utiliza uma abordagem de alfaiataria moderna, com destaque para o tecido 100% algodão fornecido pela Vicunha Têxtil. Além disso, há a utilização de tecidos que mesclam algodão e juta cedidos pela Textilfio, proporcionando maior fluidez às peças de malharia.
Durante o processo de construção artesanal, a fibra de arumã é utilizada para a confecção das peças mais estruturadas, como as faixas que acompanham chemises, os acessórios de cabeça e a saia com corset, que é o destaque principal da apresentação. Já a fibra de tucum, que é mais maleável e semelhante a uma renda, é utilizada tanto de forma natural quanto na forma de fios encerados com breu branco.
Todo o processo de confecção é realizado manualmente, e o designer realizou duas viagens ao Amazonas para poder concretizá-lo. Durante essas viagens, ele visitou São Gabriel da Cachoeira (AM), município que abriga a maior quantidade de povos indígenas no Amazonas. São aproximadamente 23 povos indígenas, falantes de mais de 16 línguas, incluindo a língua geral, conhecida como nheengatu. A escolha de trabalhar em São Gabriel da Cachoeira teve como objetivo conhecer a origem da matéria-prima e identificar qual povo desenvolveu o artesanato.
O trabalho foi realizado em estreita colaboração com os artesãos, refletindo a cultura e o fazer manual, e buscando trazer para as passarelas a visão de Maurício, que acompanhou de perto todos os processos, desde a colheita até a confecção.