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Estúdio Cena, de Lucaz Roberto, marca um ano com peças hand made

Preta Gil – Foto: Divulgação

Em outubro de 2022, o estilista Lucaz Roberto precisou tomar uma decisão: continuar seu trabalho de visual merchandising em uma loja de departamento ou focar seus esforços no Estúdio Cena, hand made que ganhava cada vez mais relevância. Ele escolheu a segunda opção com a crença de que, com mais tempo para se dedicar ao seu ateliê, poderia alcançar voos ainda maiores para o projeto, que, em um ano, já colecionava alguns feitos ao vestir personalidades de projeção nacional.

Não sem medo, Lucaz apostou alto, algo que fez parte da trajetória do profissional. Formado em moda pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), sempre almejou ser estilista, mas mantinha receio de que o mercado teria espaço para jovens formados em instituições menos tradicionais no segmento. Por esta razão, dividiu seu tempo entre cumprir expediente em lojas de varejo ao tempo que começava a profissionalizar o Estúdio Cena, que surgiu durante o TCC do então estudante.

Lucaz Roberto – Foto: Divulgação

A ideia de Lucaz era, com o trabalho formal, conseguir recursos financeiros para criar seus primeiros vestidos. A experiência no mercado fast fashion o ajudou a idealizar o que acredita ser o papel da moda e de que forma seus valores poderiam ser traduzidos nos desenhos que fazia. Assim, em 2021, montou a “Catarse”, sua primeira coleção depois de formado, com o conceito de amplificar as possibilidades do vestuário. “O que mais percebi era que o  tamanho padrão das grandes redes não se encaixava na maioria das pessoas, o que mostra um desfalque no segmento. O dia a dia desses ambientes me mostrou que não é porque uma roupa serviu que ela necessariamente cabe em todo mundo, por isso, entendi que meu trabalho passaria por desenvolver roupas sob medida para todos os corpos”, defende o estilista.

Majur – Foto:  Fernando Young

O conceito por trás da marca traz junto forte influência da literatura, em especial, do britânico William Shakespeare. O que o escritor fez na literatura, Lucaz tenta replicar na moda. “Ele criou palavras e expressões e revolucionou o jeito de se escrever. Ele redefiniu no ambiente do teatro o que é palco e o que plateia, algo que tento fazer com o que é roupa de festa e o que não é e, principalmente, quem pode usá-las.” Aliás, foi a partir dessa referência que surgiu o nome Estúdio Cena.

Liniker – Foto: Nadja Kouchi

Lucaz entende que a moda precisa ser lúdica, por isso, acredita na filosofia descrita por Shakespeare no texto “Mundo Como Palco”, uma ideia que rege todo o conceito da marca. Para ele, todos os dias devem ser importantes quando o assunto é vestir-se. “Muitas vezes, o dia do casamento é um dos poucos momentos em que uma roupa é produzida nos mínimos detalhes para uma mulher, mas a gente pode vivenciar esse sentimento rotineiramente”, reflete.

O profissional sabe do valor de uma peça hand made, por isso, entende que seu público esteja concentrado nas classes A e B: “Utilizamos tecidos nobres, como shantung de seda, tafetá de seda, gazar de seda, musseline, rendas de pedraria, renda italiana e francesa e plissados feito à mão em tecidos planos. Muitos destes tecidos são exclusivos, inclusive na estamparia. Procuramos tecidos que sejam 100% aderentes ao corpo e todo o trabalho é feito à mão, o que garante mais durabilidade ao produto final. Ainda, temos o cuidado de fazer duas provas de roupa para cada vestido entregue”, detalha.

Jojo Todynho – Foto: Ivan Erick Menezes

Outra característica da produção do Estúdio Cena é a volumetria, ou seja, proporções grandes de peças por conta da quantidade de tecidos, a modelagem, que é feita em tecidos planos e de malha, e a alfaiataria voltada para abarcar todos os tipos de corpos. As peças do estilista variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil, um valor dentro dos padrões para a moda hand made brasileira, mas abaixo do mercado internacional. As inspirações do profissional são o britânico John Galliano e o mineiro Luiz Claudio Silva, do Apartamento 03.

O Estúdio Cena orgulha-se de ter como principal público pessoas que fazem parte da ideia original da marca. São 100% mulheres, sendo 90% pretas, além de ter uma parcela representativa de pessoas trans entre as clientes. Lucaz entende que a moda tem o poder de conectar pessoas e fazê- las enxergar que podem caber nas roupas que quiserem e que esse trabalho é algo coletivo entre estilista e cliente, uma construção conjunta capaz de despertar sentimentos valiosos.

Gaby Amarantos – Foto: Divulgação

Esta mentalidade já conquistou o interesse de personalidades como Jojo Todynho, Preta Gil, Liniker, Gaby Amarantos, Linn da Quebrada, Majur, Jordana Maia, Karol Conká e Lay, da banda Tuyo.

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