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Bonés de crochê simbolizam arte manual e expressão social

Foto: Danilo Sorrino

Dar voz a artistas crocheteiros independentes e luz a uma arte da periferia. Com esse propósito surgiu o coletivo recém-criado pelos artesãos e artistas Vitor Siqueira (Crochê de Vilão), Henrique Domingos (Arte do Magro) e Matheus Rodrigues (Sem Nome Ateliê). Eles confeccionam bonés e chapéus em crochê e promovem encontros para disseminar essa arte, trocar referências e exibir suas criações. Esses acessórios estão no radar da moda: já compuseram looks da coleção do Ponto Firme em duas edições do São Paulo Fashion Week e marcas internacionais já estão de olho nesse movimento aqui no Brasil, que resgata a cultura funk com a tendência bloke core, resumida em um “estilo de mano”.

O coletivo Artesanato Chave, que é apadrinhado por Gustavo Silvestre, com o Ponto Firme, e pela artesã Marie Castro, do Time de Artesãos da Círculo S/A e CEO da plataforma Moira, que conecta artesãos, busca criar ações e projetos que valorizem ainda mais o trabalho artesanal e, assim, gerar condições para um sustento digno para artistas independentes, artesãos e criadores.

Se você acompanhou as últimas duas edições do São Paulo Fashion Week, já deve ter visto os bonés de crochê nos desfiles do Ponto Firme. Eles foram confeccionados com os fios Liza da Círculo S/A, uma parceria de longa data do projeto, que se estendeu também aos artesãos envolvidos no desenvolvimento destas coleções.

“A Círculo S/A acredita no poder de transformação do artesanato como uma poderosa ferramenta de educação, expressão, empreendedorismo e fonte de renda. Por isso, a marca incentiva movimentos sociais que agreguem e valorizem o trabalho manual de forma criativa e empoderada, que impactem positivamente a vida de pessoas, assim como o Ponto Firme já faz ao longo desses anos com tantos alunos e egressos e agora também com o coletivo Artesanato Chave”, avalia o diretor de marketing da Círculo S/A, Osni de Oliveira Junior.

Foto: Danilo Sorrino

Esse apoio que Gustavo Silvestre deu aos artesãos, foi justamente para plantar uma sementinha do que pode virar uma trend no mundo da moda. Com estampas inspiradas em grandes marcas de luxo ou esportivas, ou com símbolos que representam ostentação e poder (e também remetem a uma crítica social e política), como os personagens Tio Patinhas e os Irmãos Metralha, os bonés já são um hit de comunidades da periferia e querem ultrapassar esses limites. A moda é uma forma de expressão e está atrelada a movimentos sociais.

“O trabalho desenvolvido nos bonés de crochê vai além da arte manual. É uma linguagem desenvolvida por jovens da periferia e também em presídios. A gente vê uma sinergia muito grande entre o Projeto Ponto Firme e o que eles fazem, já que são jovens da periferia e muitas vezes inviabilizados ou estigmatizados. Então acreditamos que é superimportante darmos esse apoio para que eles sejam vistos como os artistas que são”, pondera Silvestre.

Da rede social para o SPFW

O coletivo Artesanato Chave começou a ser estruturado em 2020, como um grupo de Facebook para divulgar e fortalecer a arte dos bonés de crochê e artistas independentes. Desde então, diversas atividades foram promovidas, de encontros entre artesãos, à partilha de receitas e gráficos com o passo a passo para confeccionar os bonés de crochê.

“Vemos o artesanato brasileiro cada vez mais sendo apropriado pelo mercado europeu, principalmente pela juventude, com tendências como a bloke core, por exemplo. Algo que pode ser resumido em “estilo de mano”, que é considerada a tendência mais cool dos jovens europeus do momento mas, na realidade, não passa de inspiração direta da estética e estilo dos jovens de periferia brasileira desde os anos 90. Inspiração sem ser dada a devida referência”, avalia Rodrigues, do Artesanato Chave.

Após as apresentações do SPFW, o grupo se formalizou como coletivo para dar mais força à valorização artesanal e tornar a atividade uma fonte de renda sustentável para artesãos, artistas e criadores. “Queremos que as ações e iniciativas em prol da comunidade do artesanato possam se tornar cada dia mais comuns e significativas, tendo sempre como meta a redução das desigualdades e o fortalecimento de quem vive da arte, do crochê e do artesanato”, explica  Domingos, do Artesanato Chave.

Siqueira (Crochê de Vilão), Domingos (Arte do Magro) e Matheus Rodrigues (Sem Nome Ateliê) já comercializam seus bonés e chapéus de crochê em seus perfis nas redes sociais, @crochedevilao@artedomagroofc @semnomeatelie, respectivamente. São modelos personalizados, feitos sob encomenda. “Com o coletivo, a ideia é criar caminhos de valorização do artesanato de periferia e dos artistas têxteis periféricos, tendo apreço pelo background cultural de cada um como peça chave para esse processo”, acrescenta Siqueira.

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