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Paulo Josepetti: “Dualidade é tendência na moda pós-pandemia”

Estilista Paulo Josepetti – Foto: Divulgação

Por Camila Neves

Mesmo antes da pandemia, a moda já vinha apresentando sinais palpáveis de mudança, com grandes inserções de ações sustentáveis, valorização de interessantíssimos trabalhos manuais (tão abundantes em nosso Brasil!), uso da tecnologia para o desenvolvimento de materiais cada vez mais ecofriendly, colaborações mil e, claro, um crescente  – até então tímido – de vendas online, há tempos apontadas como o varejo do futuro, mas sedentas por um empurrãozinho.

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Era de se esperar que, em algum momento da história, tudo isso finalmente deixasse de ser tendência para se tornar realidade. Eis que 2020 veio para chacoalhar, literalmente, todas as estruturas. Estabelecimentos fechados por meses, consumidores confinados em casa sem poder desfilar suas novas aquisições além das quatro paredes, boom de lives, desejos voltados para as seções de décor e de homewear, e a primeira grande descoberta: é, sim, possível viver com menos.

Mas não, ainda não estamos completamente preparados para apagar da memória os deleites proporcionados por certas pitadas de exagero e boas doses de luxo — o grande volume de vendas de labels que reabriram as lojas físicas depois de meses de confinamento está aí para comprovar.

Não há certo ou errado nestes extremos e tudo bem viver um pouco de cada mundo, sem ter a obrigação de se encaixar em apenas um dos rótulos. Esta é a base da dualidade, propriedade ou caráter do que é duplo, que contém em si duas naturezas, e palavra da vez no dicionário fashion, como bem observa o designer radicado em Nova York, Paulo Josepetti:

“De um lado, o ressurgimento dos anos 1980, década do consumismo extremo, do materialismo exacerbado, do brilho, da cor, do empoderamento feminino e dos corpos perfeitos construídos na academia. Peças ultramarcadas, ombreiras máxi e scarpins de salto agulha fazem parte da moda fetiche que vem sido resgatada por grifes como Balmain, Proenza Schouler, Louis Vuitton, Victoria Beckham, Gucci e Marc Jacobs, e muito bem ilustrada no mais recente projeto audiovisual de Beyoncé, “Black Is King”, que contou com figurino riquíssimo. Exageros são previsíveis em mundo paralisado e em crise que está ansioso para voltar a funcionar”, pontua o paranaense.

Paulo Josepetti – Foto: Divulgação

“Por outro lado, estamos mais conscientes do que nunca e acredito que sustentabilidade deixa de ser tendência, passando a ser praticamente obrigação moral. É um movimento de essência, que começa de dentro pra fora e inclui respeito (genuíno!) com a natureza, o ambiente, a sociedade, a cultura e a economia. Stella McCartney é rainha nesse quesito e dispensa apresentações. Outras marcas que trabalham com propósito real são a Reformation, que usa apenas matérias-primas descartadas e reaproveitadas, e a Mara Hoffman, que implementa práticas que estendem a vida útil de cada peça de roupa. Gigantes como Ralph Lauren também entram no game com ações pontuais como a produção da Earth Polo, produzida com garrafas de água recicladas e corantes que não requerem água no processo de aplicação. A natureza agradece!”, diz o estilista.

Josepetti entende que as marcas de moda devem se encaixar neste momento incerto que estamos vivendo, sendo mais presentes, verdadeiras e originais na vida de suas clientes. “A mulher de 2020 está em um ritmo de evolução cada vez mais acelerado e já não se encaixa mais em um único padrão. Ela continua chique e antenada, mas empoderada e sustentável. Ela medita, faz yoga e thetahealing, estuda sobre terapia quântica, mas faz questão de se vestir bem. Acompanha as novidades e quer saber a procedência dos tecidos. É uma mulher questionadora, que está se encontrando”, finaliza ele. Com tantas incertezas, esta parece ser um aposta bastante pertinente.

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