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Gabriel Gontijo: em função da pandemia, semanas de moda buscam democratização

Influencer participou à distância das apresentações (Foto: Acervo Pessoal)

Por Gabriel Gontijo

Em função da pandemia, as semanas de moda internacional, que já estavam revisitando seu formato, encontraram um modelo digital original. No início do mês (de 9 a 16 de julho), vimos muitas marcas mostrarem suas coleções masculinas de Verão 2021. A mais recente foi a de Milão, que finalizou no último dia 17. Pela primeira vez digital, assim como em Londres e Paris, um aplicativo deu lugar aos front-rows com diversos conteúdos, como apresentação de vídeos das marcas, páginas e até mesmo salas temáticas – além de alguns desfiles serem transmitidos também em tempo real para o mundo todo.

De todo o calendário apenas Etro e Dolce & Gabbana fizeram desfiles presenciais. Dolce mostrou suas peças nos jardins abertos do campus universitário do Humanitas Research Hospital, que recebeu doações da grife italiana destinadas ao combate da Covid-19. Segundo a marca, a coleção foi inspirada nas linhas arquitetônicas das decorações dos azulejos do hotel Parco Dei Principi projetado pelo arquiteto Gio Ponti na década de 60. Os vários tons de azul foram predominantes, remetendo a uma leitura de sauna/piscina – me fez lembrar até das obras da Adriana Varejão, com “azulejos piscina”. Há uma ressalva para um look muito moderno com calça ampla, camisa de botão branca e cardigan cropped cinza.

 

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Já a Prada, com o tema da coleção Prada Multiple Views, mexeu com a imaginação de todos e nos permitiu ter diversas interpretações. Mostrada em cinco capítulos lindos por diferentes artistas (Terence Nance, Joanna Piotrowska, Martine Syms, Juergen Teller e Willy Vanderperre) a coleção mostrou uma infinidade de visões onde cada observador tem sua opinião e ponto de vista. A percepção da silhueta parece ser mais estreita além de ser feita com tecidos inovadores e mesmo assim estando junto a roupas tradicionais sem tantos luxos. A alfaiataria foi destaque assim como peças em nylon, casacos e jaquetas em novos shapes ainda mais modernos, além dos acessórios em todos os cinco capítulos.

Concentrada na arte do pintor Amoako Boafo, a Dior celebrou lindamente a primavera que não foi “aproveitada” durante o isolamento social. A coleção foi inspirada nos retratos do artista de forma colorida e sublime misturando um lado esportista e também alfaiataria. Uma apresentação bem leve e natural, mas com um toque refinado e como sempre nos deixando ansiosos com a chegada da coleção aqui.

 

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A coleção verão 2021 da Zegna XXX de primavera-verão para uma experiência “phigital”, um encontro de um desfile (gravado e sem plateia) feito com uma tecnologia digital. Com o tema “From Nature to Machine” a marca trouxe a natureza como destaque no qual a apresentação começa numa espécie de “floresta”, transita para um ambiente com maquinário de produção têxtil e termina no rooftop da fábrica da marca, datada em 1910. A coleção mostrou materiais leves feito com tecidos reciclados e produção sustentável. Alguns destaques foram a malha furada com gola rolê “molinha” (que não fica tão estruturada) e as combinações de blusas de mangas longas com bermudas, além dos paletós mais leves e com fluidez. Mesmo sendo uma coleção de verão a marca apresentou uma cartela de cores mais sóbria, onde predominaram os tons azul, rosa claro, verde e terrosos. Mais uma vez Alessandro Sartori, estilista da marca, se preocupa em questionar a imagem do homem e sua pluralidade, e vemos isso refletido também na passarela.

A Gucci trocou a passarela por um espetáculo digital à parte. A coleção “Epilogue” contou com os próprios funcionários da marca no casting exibindo as criações por meio de uma transmissão de 12 horas, em um palácio de estuque do século XVI, mostrando os bastidores de toda uma coleção projetada. E no live streaming foram apresentados retratos dos funcionários com os looks. Nas palavras de Alessandro Michele, diretor de criação, ele quis “gerar um questionamento das regras, dos papeis e das funções que mantém o mundo da moda em funcionamento”. Entre as minhas escolhas estão as estampas florais, as peças em monogramas, as bolsas de alças para os homens em diferentes cores e tamanhos, as calças de cintura alta com barras por fazer ou às vezes em barras curtas, as puffer jackets, além de muita variação de cor, como verde, laranja, rosa e marrom.

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Em suma, perante todo o cenário atual, vimos que as marcas apresentaram, em sua maioria, cores mais sóbrias (creio que até me função de prazo mesmo, pois todos se comprometeram nesse começo, principalmente a Itália, então a produção ficou mais comprometida), que vai de encontro com a postura e respeito ao momento. As marcas conseguiram se adaptar de forma criativa, virtual e respeitosa à nova realidade, buscando uma maior democratização da moda.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site RG.

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