Por Carol De Barba |
A Casa Geração Vidigal, primeira e única escola de moda localizada em uma favela do Rio de Janeiro, é um dos destaques da 39ª Casa de Criadores, evento de moda que acontece até a próxima sexta-feira (15.04). A iniciativa, que levou um dos prêmios Ecoera de Projeto Social no ano passado, desfila no último dia do evento, às 21h, sete coleções criadas por 20 alunos e apadrinhadas por grandes nomes da moda nacional como Lenny Niemeyer, Fernando Cozendey e Dudu Bertholini. A gente adianta um pouco do que estará na passarela na galeria de fotos ao lado!
Leia mais: RG Entrevista: Fábio Souza revela detalhes da parceria com Herchcovitch na À La Garçonne
O projeto faz parte da Associação Brasileira sem fins lucrativos ModaFusion, e foi criado em 2013 pela jornalista de moda francesa Nadine Gonzalez e pela empresária e designer brasileira Andrea Fasanello (filha de outro designer, Ricardo Fasanello). Na Casa, jovens de comunidades têm um ano inteiro de formação em moda sem pagar nada. Ao final, apresentam uma coleção. Desta vez, ela será revelada na capital da moda brasileira.
O padrinho da relação com a Casa de Criadores é o estilista e stylist Dudu Bertholini. Seria dele o styling do desfile de conclusão de curso em terras cariocas. Porém, a prefeitura embargou a locação do fashion show. “Os meninos ficaram desesperados! Foi então que veio o convite do André Hidalgo. Ele é um príncipe”, conta Andrea, referindo-se ao criador e diretor da Casa de Criadores.
Em trabalho voluntário, Príncipe Harry ajuda a construir escola no Nepal
“Nós dividimos a turma em sete grupos, cada um com um segmento de moda”, explica. São eles: feminino (“bem sofisticada, porque a madrinha é a estilista Andrea Marques”), masculino, beachwear (“muito elegante com a madrinha Lenny Niemeyer”), streetwear, active wear (que teve como padrinho Yassine Saidi, diretor artístico da Puma), sustentável (que contou com a ajuda de Tarcísio Brandão) e teen (apadrinhada pelo irreverente Fernando Cozendey). Todos os tecidos foram doados pela Kalimo Têxtil. Além disso, a Casa mostrará a fragrância polisex Trama, que foi desenvolvida pelos alunos em um projeto especial durante o curso.
“É uma experiência inesquecível. Abre uma porta para jovens que têm poucas chances. Aqui no Brasil, tudo que é start up, primeira experiência, dificilmente recebe investimento. A participação na Casa de Criadores confere uma enorme seriedade ao projeto e uma oportunidade de fazermos negócios”, celebra Andrea.
Para ela, a continuidade da iniciativa depende diretamente da venda das peças – que já acontece, em menor escala, diretamente da Casa ou quando algum padrinho com loja própria se dispõe a montar um corner. “A única maneira de mudar de verdade a vida dessas pessoas é economicamente. Por isso somos um social business, e o que a gente ganha é investido na promoção social e educação dos meninos”, afirma.
A ESCOLA
A Casa Geração Vidigal, na verdade, é aberta a todos os jovens entre 18 e 25 anos. No entanto, quem vem de fora das comunidades (Zona Sul e outras regiões do Rio) paga uma taxa. “Todos eles passam por um processo seletivo que é nosso ponto forte. Antes de qualquer coisa, recebem um dossiê bem chatinho para preencher, então, já precisa demonstrar vontade aí”, brinca.
Para se inscrever (para mais infos, clique aqui), eles precisam passar por duas etapas de seleção e se comprometer com sensibilidade, habilidades e motivação. São apenas 20 vagas disputadas por centenas de interessados (em 2015, foram 400!). As aulas técnicas incluem estilo/criação, modelagem, corte/costura, história da moda, antropologia da moda e moda sustentável.
“Nosso trabalho existe desde 2006. Tínhamos a missão de identificar talentos dentro da comunidade e prepará-los para o mercado, deixando menos artesanal e mais fashion, com mais design”, conta. Depois de sete anos acompanhando principalmente grupos de mulheres mais velhas, a dupla foi convidada para atuar em projeto do Rio+20 na Cidade de Deus, e acabou percebendo outro potencial. “Resolvemos trabalhar com jovens, porque é por meio deles que conseguimos ter um impacto maior”, explica.