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RG Entrevista: Marisa Berenson, musa da arte, da moda e da Amsterdam Sauer

Por Carol de Barba

Mulher de beleza impactante, inteligência e carisma encantadores, ícone da moda e inspiração para as artes, Marisa Berenson, 68 anos, é musa e colaboradora da nova coleção de alta joalheria da Amsterdam Sauer, denominada “Éden”. A linha foi inspirada na célebre frase do escritor Victor Hugo: “Um único instante de amor reabre o éden fechado”. A frase tem tudo a ver com Marisa, mulher apaixonada pela vida e uma daquelas forças inexplicáveis da natureza.

Elsa Schiapparelli era sua avó, Diana Vreeland a lançou como modelo, Luchino Visconti a introduziu no cinema. John Travolta dançou com ela no Salão dos Espelhos de Versalhes; George Harrison, Ringo Starr e Mia Farrow foram seus companheiros de meditação na Índia. Yves Saint Laurent disse que ela era a encarnação dos anos 70; Andy Warhol, Halston e Liza Minelli foram seus companheiros nas pistas do Studio 54. Seu rosto foi imortalizado pelos maiores nomes da fotografia de moda, Guy Bourdin, Irving Penn, Richard Avedon e tantos outros. Indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta, estrelou filmes como Morte em Veneza, Cabaret e Barry Lyndon.

RG conversou com a musa (nossa e da marca), que participa do lançamento oficial da coleção nesta quinta (12), no Ateliê Sandro Barros. Confira!

Como foi ser a musa da Amsterdam Sauer?
Foi divertido e criativo! Tenho um ótimo relacionamento com eles, adoro o fato de ser um negócio familiar desde que começou. Trabalhei com Stephanie (Wentz), e tivemos uma ótima conexão. O tema, você sabe, é o Éden. Então, é sobre o Jardim do Éden, tentação, amor, paixão, com elementos simbólicos deles, o simbolismo surrealista e as cobras. Elas representam a capacidade de se livrar da pele antiga e se regenerar, renascer, por isso gosto tanto de cobras. A maçã mordida também é uma graça!

O anel Oroboros (uma serpente de ouro amarelo e diamantes brancos em torno de um rubelita) é mesmo o seu favorito?
Na verdade, gosto de todos. Adoro o coração com as flechas também, porque são uma referência ao Cupido. Flechas do amor. Dei para minha filha o anel com os olhos, que é muito surrealista. Também temos a boca de Man Ray, que lembra minha avó, designer e artista surrealista (Schiap). É meio que um lembrete da presença dela.

Como foi o processo?
Trabalhamos durante todo esse ano, mas não demorou muito. Nos conhecemos em Paris, nos comunicávamos pelo Skype, pensamos no conceito, a Stephanie me mostrava os desenhos. Foi uma ótima troca de ideias, criatividade e diversão. Tem que ser divertido, também!

Você já conhecia a joalheria brasileira?
É claro. Em primeiro lugar, porque as pedras brasileiras estão entre as melhores do mundo, são renomadas pela beleza. E a Amsterdam Sauer tem uma história com elas. Tenho trabalhado com pedras e cristais por toda minha vida. Gosto de cristais, gosto da energia das pedras, diferentes cores para diferentes significados. Eu medito com elas e acredito que carregam muita vida e muitas energias belas e profundas. Sempre fui fascinada por isso. E joalheria é algo maravilhoso porque em torno da pedra você pode criar sua própria história.

Como foi ter Elsa Schiaparelli como avó? Ela te influenciou?
Sim, de forma subliminar. Não é que ela tenha me dito algo sobre moda, porque eu era muito jovem quando ela parou de trabalhar com isso. Ela era uma pessoa muito forte, corajosa, independente, de espírito livre e criativa. Aprendi muito só de estar perto dela, morar com ela, ter a presença dela na minha vida. Acho que está nos meus genes. Eu a admirava muito. Ela era uma mulher muito interessante, forte e livre, como eu queria ser. Comecei a ter uma carreira muito cedo então, de certa forma, eu segui os passos dela. Não na mesma direção, mas com o mesmo desejo de liberdade e poder viver minha vida, criar, realizar meus sonhos.

É verdade que ela não ficou feliz quando você decidiu se tornar modelo?
Ela não ficou muito feliz, não. Porque eu não havia sido criada para isso. Tive uma educação muito rígida. A moda era seu trabalho, sua carreira, mas ela não queria a neta vivendo aquela vida. Ela era muito protetora comigo, acho que preferia que eu tivesse uma vida mais sossegada, casar… Ela passou por dificuldades na vida e não queria o mesmo para mim. Era uma época diferente também. Mas, pelas costas, sei que ela olhava minhas fotografias e falava sobre elas, apesar de nunca ter admitido.

Você percebe, hoje dia, jovens com essa mesma versatilidade que você tinha?
Sempre me perguntam qual conselho eu daria para as jovens. Acho que existem muitas mulheres extraordinárias, lindas e talentosas por aí, mas também acho que o mundo se tornou um lugar em você tem que ser capaz de fazer tudo. Tem que ser criativa, uma mulher de negócios, esposa, amante, mãe, ter uma carreira… As mulheres são fortes e realmente corajosas. Eu diria que você tem que ser verdadeira, seguir seu sonho, não ter medo de se expressar. O que mais admiro é uma pessoa que não tem medo de ser ela mesma, individual.

O Brasil passa por uma nova onda de movimentos feministas.Você viveu uma época de muitas conquistas para as mulheres e, ao mesmo tempo, trabalha num universo em que a mulher foi alvo de muito preconceito, diferenças salariais e abuso sexual. Isso mudou/está mudando?
Vamos encarar: isso ainda é um grande problema no mundo, em todos os países. As mulheres ainda precisam lutar pelos seus direitos, batalhar para serem respeitadas, ainda sofrem assédio sexual, não são tratadas com igualdade como deveriam. Não sou uma feminista, mas sempre fui uma mulher muito independente. É impossível entender porque isso acontece se as mulheres são tão inteligentes, talentosas e perspicazes quanto homens, às vezes até mais completas, porque, como eu disse, elas têm que fazer tudo. Têm que ser super-mulheres. Mulheres são maravilhosas! Quanto mulheres tivermos no poder, mais o mundo mudará para melhor. É importante empoderar as mulheres. Mas isso ainda é uma ameaça em muitos países. Trabalhei pela Unesco como embaixadora da boa vontade, nos Artistas pela Paz, e lutei por muitas causas em diversos países: educação, infância, abuso. Diante delas, percebo que, ainda hoje, as mulheres estão realmente em uma posição muito difícil, reprimidas. Pouco a pouco, o mundo está mudando, às vezes para melhor, às vezes não. Há muito o que fazer. Não sei quantas gerações vai levar, mas é uma questão mundial, importante e recorrente.

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