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Suzy Menkes e a nova Central Saint Martins

Suzy Menkes fala sobre a nova fase da histórica universidade londrina, que ganhou novo campus

Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune

LONDRES — Com modelos felizes soltando bolhas, fetichistas com orelhas de coelhinho segurando cenouras e um monte de roupas fantasticamente criativas, a Central Saint Martins comemorou o final de uma era com um maravilhoso desfile de formatura em maio. Famosa no mundo das artes e do design, a escola está de mudança dos velhos prédios na Charing Cross Road, que dava aos alunos uma sensação mordaz e urbana, para um novo e amplo campus que irá reunir as várias disciplinas que a instituição ensina sob o mesmo teto.

Depois de mais de 70 anos no coração da cidade, a escola está se mudando para um espaço de 30 mil metros quadrados em King’s Cross. Jane Rapley, diretora da faculdade, disse que a mudança trazia “uma oportunidade única para re-imaginar o modo como ensinamos os alunos de arte, design e performance da futura Central Saint Martins”.

Mas havia olhos úmidos quando o desfile de formatura começou, com filmagens de arquivo dos alunos trabalhando no prédio que abriga a Saint Martins desde 1939. Ex-alunos famosos em serviço incluíram Sarah Burton, que se formou em 1998. Ela trabalhou como estagiária para Alexander McQueen — que também se formou na C.S.M. — e começou uma carreira que levou ao desenho do vestido que Kate Middleton usou ao se casar com o Príncipe William em abril.

O desfile de formatura, sob a tutela de Willie Walters, provou que mesmo sob o teto com goteiras do prédio antigo, os alunos da C.S.M. desabrocharam e floresceram. Ex-alunos como Christopher Kane, Gareth Pugh e Jonathan Saunders compõem grande parte da lista da London Fashion Week e são uma homenagem ao sucesso e poder de fogo de Ms. Walters. O desfile de formatura de 2011 foi também uma exibição da moda artística pela qual a Grã-Bretanha é famosa, apesar de agora a C.S.M. atrair alunos do mundo inteiro.

De modo significativo, talvez, à vista do atual sofrimento de seu país, as peças mais extraordinárias nesta primavera vieram dos estudantes japoneses. Um prêmio foi concedido para Momo Wang, suas malhas folksy e seus acessórios de balões de hélio. Também foi exibido o projeto de artesanato e ecologia de Ryohei Kawanishi, um exemplo de moda com uma missão.

Malhas com texturas ricas, profundidade de escultura e ultra-imaginativas impressões eram temas constantes. Flaminia Saccucci, uma estudante italiana, ficou em destaque com sua coleção em couro e látex impressos com rodas de pneus. Sua linha criativa, mas ainda assim elegante, lhe rendeu o prêmio L’Oréal Professionel Young Talent Award para melhor coleção de aluno.

Inevitavelmente, a gradual revolta pela mudança da C.S.M. trouxe memórias nostálgicas. Muitos se lembraram do momento em que John Galliano entrou com tudo na cena da moda em 1984 com uma coleção inspirada nos “Les Incroyables” — os dândis estilizados da Revolução Francesa. “Foi diferente de tudo que qualquer outra pessoa estava fazendo”, disse Joan Burstein, da boutique Browns, que comprou a coleção inteira e a colocou nas vitrines da loja.

Ms. Rapley, que está na faculdade há 24 anos, se lembrou do desfile de formatura de Hussein Chalayan em 1993, mas seu veredito sobre o desfile de McQueen em 1992 foi que “não foi memorável, não foi tão significativo”.

Ainda que haja discordâncias sobre a mudança de campus, o fato deve ser de muita alegria para a faculdade. A nova localização está ancorada pelo sólido prédio Granary Building, da era Vitoriana, e outros marcos como o Regent’s Canal, criado para entregar produtos ao longo de uma rede de canais.

A maneira como o escritório de arquitetura Stanford Williams misturou o novo espaço ultra moderno da escola com esses prédios industriais históricos pode servir de inspiração para futuros alunos da C.S.M., cuja missão na moda é pegar ideias existentes do vestuário e traduzi-las em algo novo e moderno.

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