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Natalia Vodianova por Suzy Menkes

Nossa colunista fala sobre a causa apaixonada da top russa

Por SUZY MENKES, do International Herald Tribune

LONDRES — A vida de Natalia Vodianova não é o conto de fadas que o mito da moda
sugere: a modelo russa não foi descoberta por um olheiro enquanto vendia verduras
na feira de sua cidade natal, Nizhni Novgorod. Ela foi selecionada em um teste em
Moscou, depois de entrar para uma agência.

A sua realidade a partir dos 11 anos de idade era arrastar caixas de maçãs e
peras, e correr de volta ao apartamento de sua família pobre, para cuidar de sua meia-
irmã, que tem paralisia cerebral.

“Tinha responsabilidades desde os 6 anos”, diz Vodianova, agora com 29, baixando
seus olhos azuis-geleira enquanto descreve suas andanças pelo bairro pobre, onde o
único espaço público com trepa-trepas e um banco era frequentemente ocupado por
adolescentes bebendo cerveja.

“Um playground teria sido um sonho para mim — não tinha nenhum lugar para levar
minha irmã”, ela diz, explicando as origens de sua Naked Heart Foundation, que
construiu 60 playgrounds em 44 cidades russas.

A vida tem sido agridoce para Vodianova, que alcançou o topo da carreira como
modelo, mas também viu seu casamento com o aristocrata britânico Justin Portman
terminar em separação. Ainda assim essa jovem, com personalidade de aço por trás do
rosto meigo, ainda acredita em contos de fada e fábulas russas.

Para transformar essa magia em realidade, ela pediu que 40 estilistas criassem, cada um,
um vestido para o baile White Fairy Tale Love Ball, um evento para angariar fundos,
que acontecerá durante a semana de Haute Couture em julho. Será nos arredores de
Paris, no Château de Wideville, que pertence ao estilista Valentino e seu parceiro,
Giancarlo Giammetti.

Os vestidos, todos inspirados em contos de fadas, serão leiloados para a caridade pela
Christie’s. Um livro de edição limitada, fotografado por Paolo Roversi irá mostrar
Vodianova usando os vestidos.

“Sendo ainda uma garotinha russa por dentro, quis criar algo em torno do meu amor por
contos de fada”, diz Vodianova, que chamou seu amigo, o coreógrafo de moda Alex de
Betak, para fazer o design do cenário para o baile.

“A ideia é criar uma versão Dr. Jivago de um conto de fadas lindo e glamoroso – mas
bastante infantil”, disse Mr. de Betak, que trabalhou no projeto durante dois anos. “A
força do charme de Natalia é que você pode colocá-la na frente de qualquer pessoa e ela
tem a inteligência de pedir a coisa certa para as pessoas certas”, ele completa.

Ms. Vodianova diz que ainda sente raiva por crianças com necessidades especiais na
Rússia serem institucionalizadas, em vez de receberem uma quantia apropriada para
serem cuidadas em casa.

“Acho que as coisas que me acontecerem na infância estão me impulsionando”, ela diz,
enquanto conta com emoção sobre uma situação que era “dura, muito dura”, citando
a depressão de sua “corajosa e valente” mãe e o alcoolismo de seu padrasto. “Quando
comecei a ganhar dinheiro, a primeira coisa que fiz foi contratar seguranças grandes
para tirarem-no do apartamento e mandá-lo de volta à Ucrânia”, disse.

Sua infância foi dividida entre o caos em casa e a calma da casa de seus avós, onde ela
encontrava camisolas limpinhas, toalhas de mesa impecáveis e uma vida disciplinada.
Sua avó era uma figura maternal “com lábios vermelhos e coque”, que corria no parque,
nadava no lago congelado, levava a neta ao balé e organizava encontros familiares.

A partir desse cenário severo, Vodianova, apelidada de “supernova,” desenvolveu super
habilidades. Nas palavras de Mr. Giammetti, parceiro de Valentino: “Ela é uma Robin
Hood moderna que pega dinheiro dos ricos para dar aos pobres. A diferença é que,
depois desse enfrentamento, você se sente melhor que antes”.

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