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Madame Grès por Suzy Menkes

Nossa colunista fala sobre a lendária estilista Madame Grès, que criou o vestido drapeado

Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
 
PARIS — “Queria ser uma escultora – para mim, é a mesma coisa trabalhar com tecidos ou com pedra.” Assim disse uma estilista cujos vestidos agora estão pendurados sobre pregas e dobras talhadas entre estátuas poderosas. Madame Grès, a lendária criadora de vestidos drapeados de forma sensual e rigorosa, morreu na obscuridade há mais de 17 anos. Mas seu nome (o fake, porque o real era Germaine Krebs) voltou à vida em Paris nesta primavera. Seria um palpite razoável que a exposição, que pode ser vista no Musée Bourdelle, um museu dedicado ao escultor francês Antoine Bourdelle, terá um impacto semelhante sobre o mundo da moda à retrospectiva de Yves Saint Laurent, que ocorreu em Paris no ano passado, no Petit Palais.
 
Prepare-se para ver formas e drapeados como uma evolução do minimalismo do século XXI. O aspecto mais extraordinário de “Madame Grès: Couture at Work” é que muitos desses vestidos ficariam perfeitos em um red carpet do mundo moderno.

Por que essa exposição parece tão conveniente, em termos de época, e excepcional? Grande parte do crédito vai para o curador Olivier Saillard, que é uma combinação rara de historiador e showman. Isso pode ser visto na maneira dramática como ele colocou um vestido laranja-queimado sobre a empoeirada moldura de gesso e massa do estúdio original de Bourdelle, ou um longuíssimo vestido preto no solene e religioso dormitório do escultor.
 
A razão para esta interação entre a escultura e o drapeado é em parte por acaso: o Musée Galliera, onde Mr. Saillard é o novo diretor, está passando por uma reforma. Mas o resultado é mais do que uma simples mudança de local. Ele inspira o visitante a pensar sobre o trabalho poético de mãos humanas, e como a moda era diferente na época em que as roupas eram ajustadas ao corpo, e não apenas aproximadas para coleções prêt-à-porter. “Ela é uma mulher que conta muito na história da moda”, disse Azzedine Alaïa, um dos raros estilistas que produzem criações excepcionais com uma consciência do conflito entre o tecido e o formato do corpo. Quando a empresa de Madame Grès foi liquidada e o nome foi comprador pela empresa japonesa Yagi Tsusho no final dos anos 80, Alaïa compilou peças de arquivo para o Museu da Moda, em Marseille. Elas estão agora expostas, junto com a grande coleção do Musée Galliera, que inclui desenhos de 1934-42, quando a maison da estilista era conhecida como “Alix.”
 
A coisa mais extraordinária sobre o trabalho é quão cedo a filosofia de Madame Grès foi estabelecida. O tecido drapeado pelos quadris em um vestido de 1946 é ecoado por um redemoinho nas costas de outra roupa da década de 70.

Cada peça foi desenhada de todos os ângulos, como visto no conjunto de 100 esboços à mostra. Eles incluem um terno de 1956, formando um suave balão nos quadris, e um vestido com saia ampla com gola curva de marinheiro. Os desenhos vieram ao Musée Galliera por meio da benevolência de Pierre Bergé na Yves Saint Laurent Foundation.
 
A grande exposição talvez tenha desenhos demais dos mais recentes e de roupas para o dia. Mais intrigantes são as doações de clients coomo a Duquesa de Orleans e Windsor, assim como a criação final de Madame Grès: um vestido encomendado em 1989 por Hubert de Givenchy que parece notavelmente como trabalho moderno de Rei Kawakubo. O que aprendemos com a mostra? Aprendemos que a moda pode ser uma forma de arte apenas com uma habilidade manual rigorosa. Ou, como Mr. Saillard diz de Madame Grès: “A aparente simplicidade de seu trabalho esconde habilidades extremamente complexas”.

“Madame Grès: Couture at Work,” à  mostra no Musée Bourdelle em Paris até 24 de julho.

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