Por SUZY MENKES do International Herald Tribune
LONDRES — Desde o modesto vestido de renda simbolizando o amor palaciano até os hipnotizantes chapéus empoleirados como pássaros exóticos no topo da cabeça das damas, o casamento real foi totalmente britânico.
O vestido de Catherine Middleton, desenhado por Sarah Burton for Alexander McQueen, pode dar um reset na bússola da moda, um impulso para uma nova e austera mulher do século XXI. Pode dar um impulso à indústria da renda, tão poderoso quanto a multidão cercando o Palácio de Buckingham à espera de um “beijo”. Braços femininos podem se esconder depois de ficarem expostos durante uma década de noivas-celebridades em corpetes tomara-que-caia. E os homens podem pegar em armas apenas para usar uniformes elegantes como o do Príncipe William.
Mas se somos o que vestimos, então o Reino Unido fez uma bela propaganda de sua pátria. A escolha de Ms. Middleton foi impecável – um vestido de cetim marfim e branco elegante e alinhado com um espartilho levemente acolchoado e cauda manejável. O triunfo desse vestido foi que ele pareceu a princípio discreto e simples. Mas havia um sentimento de história e herança costurado na renda: uma mistura orgânica da rosa inglesa dos Tudor, do cardo escocês, do trevo irlandês e do narciso de Gales – que repetiu a decoração no vestido de coroação da Rainha Elizabeth em 1953. Delicadas mãos de costureiras (lavadas a cada hora para manter o vestido imaculado) foram encontradas na Royal School of Needlework, baseada no Hampton Court Palace.
“Estou muito feliz com o fato de o vestido representar o melhor da habilidade manual britânica”, disse Ms. Burton. “Os designs da Alexander McQueen têm a ver com reunir contrastes a fim de criar roupas surpreendentes e lindas, e espero que combinando tecidos tradicionais e renda com uma estrutura e design modernos tenhamos conseguido criar um lindo vestido para Catherine no dia de seu casamento”.
Uma pequena ajuda veio do outro lado do canal. A empresa McQueen faz parte do grupo francês PPR, e a tiara de diamantes de “auréola” – que originalmente pertencia à Rainha Mãe e foi dada a Elizabeth em seu 18º aniversário – era by Cartier.
Mas todo o resto foi profundamente inglês, incluindo o buquê da noiva: lírio do vale para felicidade, a flor sweet William para o noivo galante, jacinto para estabilidade, murta para o casamento e hera para fidelidade.
A realidade da vida familiar moderna, com seus divórcios e recasamentos, ficou evidente na cerimônia, onde havia a inevitável sombra da mãe de William, Diana. Mas os reais recompuseram seus relacionamentos. A segunda esposa de Charles, Camilla, Duquesa de Cornwall, nunca foi tão alegremente recebida como foi neste casamento, com seu elegante casaco pregueado e chapéu by Philip Treacy.
Outra criação de Treacy provocou muito deslumbramento: um chapéu que parecia uma cápsula do tempo, aparentemente preso por força centrífuga ao rabo de cavalo feito com extensões de cabelo. Era de Victoria Beckham, acompanhada do pescoço tatuado de David Beckham – que saía de seu fraque Ralph Lauren.
E porque os britânicos são tão ligados a chapéus? O designer de chapéus Stephen Jones apontou suas obras de arte para cabeças reais: um “enfeite feito de pétalas de cetim creme” para Serena, Viscondessa Linley, que usou Roland Mouret; e um “disco de flanela cinza com enfeite de diamantes” para Lady Sarah Chatto, de Jasper Conran.
Fora da Abadia de Westminster, os militares usaram sua proteção de cabeça de luxo oficial, e no Hyde Park, onde festeiros assistiram à cerimônia em telas gigantes, havia uma multidão de chapéus feitos em casa: feitos a partir de bandeiras da União ou de cartolina, e decorados com imagens de William e Kate junto com Diana.
Será o chapéu o ultimo vestígio visceral da coroa britânica em um país que ainda não decidiu que é hora de abandonar a monarquia de uma vez por todas?
A julgar por esse casamento real de conto de fadas e as festas de rua que ele incitou, parece que a realeza está aqui para ficar. E algum dia o mundo poderá assistir ao streaming ao vivo do Rei William e Rainha Catherine subindo ao trono.