por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
Do coração das sombras
Com um desfile sombrio, dramático e estranhamente romântico, a coleção de outono 2011 de Karl Lagerfeld para Chanel deu partida à temporada de moda. O tema incendiário incluía fumaça saindo do que pareciam ser cinzas vulcânicas, enquanto sombras fantasmagóricas de árvores sem folhas se refletiam nas paredes.Essa visão apocalíptica de moda estava há quilômetros do mundo bourgeois da Chanel.
As icônicas jaquetas de tweed da casa estavam cortadas na altura do peito e usadas sobre blazers e calças confortáveis. Um ar masculino com macacões seguiu presente em todo o desfile, mas, para a noite, o estilo rock’n’roll apareceu reinventado em tecidos que eram a antítese desse conceito de fábrica: camadas de cetim, rendas e outros materiais da alta-costura. À noite, pelo menos por algum tempo, as botas de caminhada deram lugar aos sapatos de saltos baixos.
O que tudo isso queria dizer? Mr. Lagerfeld parece ter captado o espírito melancólico de fim-de-uma-era desta temporada. Porém, ele tinha uma explicação menos escura para o cenário meio assombrado com visual de floresta: nostalgia – a memória de sua infância em Hamburgo, a poesia de Paul Verlaine e filmes de Fritz Lang. “É a coisa certa para este período. Eu fiz riqueza na coleção bizantina e estava cansado de cores vibrantes. E não é preto, mas cinza,” explicou, ele mesmo vestido, da cabeça aos pés em cores esfumaçadas.
A coleção não era inteiramente escura, entretanto. Toques de verde-folha e um vermelho do forro de uma capa que evocava brasas. E superfícies com brilho iluminavam as roupas, como se fosse uma erupção vinda do coração das trevas. Foi um desfile sombrio, sim, mas talvez visionário de Karl – que pareceu ter capturado com força, mais do que qualquer outro designer, a corrente turbulenta, o clima de inquietude da moda.
Para a Yves Saint Laurent, Stefano Pilati conseguiu alcançar uma nota mais otimista de austeridade chic, com uma coleção afiada e inteligente que mostrou um toque de perversidade sacerdotal, como em um filme de Fellini. A força da coleção estava na moda para o dia. A alfaiataria tinha um visual masculinizado, e os casacos xadrezes, em conjunto com as saias plissadas, fizeram um equilíbrio de efeito, um balanço entre os estilos masculino e feminino.
Com geométricos como seu tema, Pilati criou formas arredondadas para blusas brancas de cetim e casacos tipo capa, enquanto os outros padrões e o corte geral das outras peças foram desenhados com um quadrado.
Não houve tentativa de recriar a palheta suculenta e romântica que sinaliza a assinatura da casa. Um único casaco roxo papal e um vestido azul-royal quebraram o esquema de cores monocromáticas. Mas se Pilati planejou esboçar a sua visão de Yves Saint Laurent em preto e branco, ele não poderia ter feito melhor.
Enquanto isso, Valentino não deve estar vivendo uma febre absoluta de casamento real, mas o do príncipe William e Kate Middleton mês que vem, e o do príncipe Albert de Mônaco e Charlene Wittstock em julho, estão, entretanto, dando uma bom reforço à casa. “Fizemos um ano inteiro de negócios em apenas seis meses, com as clientes jovens e com as princesas de volta,” explicou o chefe-executivo da marca, Stefano Stassi. Ele se refere ao sucesso da coleção de alta-costura de janeiro, com membros da realeza europeia que Valentino vestiu em anos anteriores.
Esse novo sopro de confiança pode ser visto nos designers de Valentino o novo sopro de confiança pode ser visto na coleção de outono de Maria Grazia Chiuri e Pier Paolo Piccioli. Não houve muitas surpresas na passarela – exceto pela palheta de cores, onde o familiar capuccino das primeiras peças deram lugar a tons mais escuros de bordô e azul-petróleo, e verde-líquen para as roupas de noite.
Alguém poderia desejar que a dupla de designers mostrasse mais vestígios de loucura. Ainda assim, esse estado contido agora oferece um estilo genuinamente Valentino, renovado para uma nova geração – mas com o suficiente para atrair de volta mais daqueles que são clientes de tempos atrás.