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Suzy Menkes: coluna

Suzy Menkes comenta os desfiles da Chanel couture e Armani privé

por Suzy Menkes, do International Herald Tribune

Com um senso de romance, delicadeza e modernidade, Karl Lagerfeld bolou uma coleção mágica para a Chanel durante a semana de alta costura. Algumas modelos desfilaram com jeans e sapatos sem salto, mas as calças eram contrabalanceadas pela leveza rococó dos vestidos, cintilando com bordados e detalhes delicados. O cenário era feito com os biombos, marca registrada de Coco Chanel, e o final, com o grupo de meninas usando vestidos rosas refletidas em uma reprodução da famosa escada de espelhos – de onde Mademoiselle assistia aos seus desfiles. Foi um momento de graça. “Ela não gostava de jeans, mas você precisa trabalhar para o futuro”, explicou Lagerfeld depois do desfile, referindo-se à total exclusão do denim no fim da carreira de Chanel. Para a primavera 2011, o jeans couture foi apresentado de várias formas: com lavagens coloridas e botões dourados no tornozelo, ou em leggings trabalhadas com as miçangas de cristal usadas na alta costura do passado, mas que refletiam seu futuro.

As sapatilhas tinham faixas de plástico transparente ajustadas ao tornozelo. Colares de cetim preto davam destaque aos coques desarrumados na altura do pescoço. E a palheta de rosas tinha toques de cinza e preto. Esses pequenos detalhes garantiram que Lagerfeld não tentou dar ares rock´n´roll ao rococó. E o resultado foi um festival de beleza – as clássicas jaquetas de tweed com o tal “jeans” ou com as leggings; camisetas de corte tão simples mas bordadas tão ricamente eram outro bom exemplo da plebe transformada em poesia. Apesar de alguns com caimento sinuoso sobre o corpo, a maioria das peças eram fáceis de vestir, até largos: a nova encarnação dos básicos. O único tropeço foram as saias curtas balonês que pareciam pneus vazios.

De resto, o trabalho ultra refinado do ateliê Chanel com a visão de futuro do kaiser estavam em perfeita harmonia. O resultado é frágil e de alguma forma, ainda, energicamente jovem. Será que existe alguma mãe no rarefeito mundo da couture que não gostaria de ver sua filha dentro de um desses vestidos de festa que parecem de fios de açúcar caramelado? E agora, até mesmo a mais rebelde das jovenzinhas pode usar alta costura com seu jeans.

Na Armani Privé, a coleção couture de Giorgio Armani foi de outro planeta – aquele universo de moda futurística que não se via desde a moon wear de Pierre Cardin. Armani cria com um brilho de outro mundo, dos capacetes metalizados estilo Cardin aos sapatos de plataformas. As roupas brilhavam com nacos de “pedras preciosas” que fariam qualquer entusiasta do bling bling ficar verde de inveja. “Eu vi uma joia banal e me deu um clique,” explicou o designer. Inspirada no mix de cores de safira e rubi, ele criou looks equilibrados e elegantes, superfícies planas ganharam vida com a refletividade dos tecidos. As cabeças de Philip Treacy foram a cereja – ou se preferir, o rubi – do bolo. Mas Armani tinha outro vermelho em mente. O tapete vermelho, a julgar pela sua fila A estelar, que incluia Olivia Wilde, estrela de Tron, O Legado, Jodie Foster e a (sempre linda) diva Sophia Loren. Será que algumas delas ousarão levar a cerimônia de premiação deste ano para o espaço com os coletes de joias como luzes de fogos de artifício? Apesar do brilho, as peças eram sempre simples. E o choque de ver os princípios das cores neutras e pilares de Armani se dissolverem em mercúrio líquido. O pensamento que veio a seguir: aqui está um designer que não somente sabe quem é Lady Gaga. Ela também a veste.

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