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Suzy Menkes: estreia aqui!

RG agora vai publicar as colunas semanais da jornalista de moda

Referência de 10 entre 10 fashionistas, a jornalista Suzy Menkes é a mais nova conquista de RG: suas colunas para o International Herald Tribune serão reproduzidas na revista RG e aqui no site, semanalmente. Uma honra e uma delícia compartilhar com você a visão de moda inteligente e muito abrangente de uma das mulheres mais poderosas do métier, que trata do assunto com um viés menos afetado e mais sociológico, com reflexões que valem a leitura.

Suzy, aliás, chega ao Brasil na próxima semana para definir os detalhes de um seminário de luxo do IHT que deve acontecer no Brasil ainda este ano. A jornalista vai ganhar um jantar dos Jereissati, parceiros deste seminário. RG vai acompanhar a visita da jornalista e vai te contando os detalhes…

Por ora, a primeira coluna: um review da exposição de moda que toma o Musée de Arts Décoratofes até 8 de maio, em Paris. Suzy afia o verbo:

por Suzy Menkes, do International Herald Tribune

O que teria definido os últimos vinte anos da moda? A história da moda é algo seletivo, e nada prova essa teoria melhor do que “The Idealized History of Fashion” exposição dupla exibida no Musée des Arts Décoratifs, em Paris, que explora a forma com que nos vestimos dos anos 1970 até hoje.

A segunda parte da mostra, que vai até o dia 8 de maio, cobre o período dos anos 90 até o presente. E é um fiasco tão grande quanto o sucesso da primeira parte. Talvez a distância faça o olhar mais apurado. Enquanto o curador Olivier Saillard destilou com sucesso a essência dos anos 70 e 80, sua visão para os anos mais recentes foi um tombo.

Onde está aquela tensão que colocou os uniformes e sensualidade velada da Prada contra a avalanche sexual da Gucci? Apenas um vestido — um longo branco deslumbrante com uma fenda no quadril — está exposto para ilustrar o trabalho de Tom Ford para o renascimento da Gucci nos anos 90. A Helmut Lang até que está bem representada, mas não há sinal do design-símbolo do estilista, o monte de tiras. É verdade que a mostra inclui uma seção de comparação e contraste entre Lang e Martin Margiela, ambos que, inclusive, deixaram as próprias maisons que ainda levam seus nomes. Mas aqui eles não ocupam o mesmo espaço. E Jil Sander, um dos nomes mais fortes do minimalismo dos anos 90, simplesmente não consta em lugar algum.

Mas essa exibição injusta não é uma falha total de Saillard, um historiador de moda de respeito. Ironicamente, é o descaso das próprias grifes em relação ao seu legado que está tornando a situação tão difícil. A Gucci e Jil Sander recusaram-se a emprestar qualquer peça (o vestido branco foi emprestado de um museu na Espanha). A Gucci deu a simples explicação para a relutância: todo seu acervo está indo para um museu dedicado à marca em Firenze, e qualquer outro tipo de doações ou empréstimos vão para uma universidade na China.

Segundo Olivier, a Balenciaga e seu atual designer Nicholas Ghesquière, ao contrário, foram muito generosos com contribuições e peças emprestadas. De fato, a expo tem uma lista esplêndida de modelos Balenciaga. A Chanel também tem grande destaque, mas por uma outra razão: Mouna Ayoub, figura carimbada das primeiras filas nos anos 90, doou casacos Chanel riquíssimos, além de peças couture de Jean Paul Gautier e outros designers.

Algumas marcas foram representadas por seus últimos suspiros fashion antes de desaparecerem, como a espanhola Sybilla, com uma coleção de vestidos em tons de verde de dar água na boca. Outros pontos fracos: o breve período em que Claude Montana assumiu a alta costura da Lanvin pode ser visto em uma coleção elegante e em vídeo — mas há um abismo entre essa seleção e as criações atuais de Alber Elbaz, no comando da marca hoje.

Acima de tudo, o efeito da exposição poderia estar mais afinado por quase qualquer fio condutor inteligente: o romance apimentado de John Galliano (são três vitrines de suas criações para Dior) combinado com o trabalho de pinturas de Christian Lacroix; Azzedine Alaïa encarando Comme des Garçons; ou até a Escola da Antuérpia comparada com o design japonês.

Não muito tempo atrás, o único recurso de um estilista para fazer um desfile ou exposição retrospectiva seria a generosidade de suas clientes. Agora, as marcas têm arquivistas, apesar de eles estarem mais focados na imagem da marca por si só, e não no contexto geral da moda. “Estamos em uma situação muito complicada”, explica Olivier. “As marcas querem fazer mostras de grandiosidade dos seus nomes pelo mundo todo, especialmente na China, com um orçamento razoável e excelente publicidade. Assim, não resta muito espaço para nós.”

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