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Romaní lança single “Cigano” e desafia estereótipos sobre sua cultura

Romaní

Bastidores do clipe de “Cigano”, single que chega às plataformas nesta sexta-feira (05.08) – Foto: Ernesto Andrade

Foi a música que levou Romaní a atuar na Rede Globo, onde conseguiu um papel em “Malhação: Seu Lugar no Mundo”, em 2015. “Eu não era um cara do teatro, fiz o teste de Malhação tocando uma música minha”, conta o artista, que é cantor, compositor, produtor musical e nome em ascensão na cena trap nacional. Desde então, alcançou papéis de destaque nas telas, como o do investigador Denilson, par romântico de Bruna Marquezine na série “Maldivas”, da Netflix. Sua ambição na música, no entanto, nunca ficou de lado. Nesta sexta-feira (05.08), ele lança o single e clipe de “Cigano”.

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O projeto, em que ele assina letra, vocal e direção, desafia o que diz o senso comum a respeito da população cigana, da qual o artista faz parte. “Sabe-se pouco dos ciganos, existem ideias muito superficiais. Uma delas é que se viaja muito, o que não necessariamente é verdade, existem ciganos que viajam muito, outros sedentários, outros itinerantes”, explica. A partir desse estereótipo, ele resolveu brincar com a ideia de ser um cigano que viaja no tempo, ponto central para a trama do clipe.

A própria letra da faixa começou a ser construída a partir de uma suposição sobre os costumes ciganos. Quando ele recebeu MD Chefe, com quem já trabalhou em outras faixas, no estúdio, Romaní pediu para que ele tirasse o tênis, e o compositor achou que era uma tradição cigana por causa dos tapetes de seda que acompanham o cantor onde quer que ele vá. “É uma coisa minha não usar sapato em casa, mas daí veio o primeiro verso que criamos para a música, ‘tapete de seda cigano’”, lembra, rindo.

Romaní nos bastidores do clipe de “Cigano” – Foto: Ernesto Andrade

O novo lançamento dá continuidade à história que ele começou a contar em “Forasteiro”, com single e clipe lançados em junho. Se no primeiro projeto ele criou uma produção audiovisual que lembra um filme de época, neste a ideia é trazer um pouco a vivência do cigano contemporâneo. “Principalmente no trap, você tem que viver aquilo que você está falando, falar com propriedade faz toda a diferença”, comenta.

É trazendo a sua verdade que Romaní quer tocar as pessoas e, em última instância, impactar a cultura e incentivar outras pessoas a não desistirem de imprimir sua autenticidade na arte. “Quero mostrar novas realidades, incentivar meus primos ciganos e jovens da periferia que é possível você se colocar na sociedade de uma forma impactante, trazendo uma pitada sua, diferente daquilo que já está funcionando e que todo mundo conhece”, afirma.

Para ele, é aí que mora o significado da sua arte. “Quando eu vejo um menino da quebrada falando ‘você me dá vontade de continuar escrevendo’, ‘conheci a cultura cigana através de você e isso abriu a minha mente’, é isso que faz sentido pra mim”, diz. “Isso é a essência do ser humano, trocar entre culturas, conhecer outras culturas, respeitar outras culturas”, conta o artista, que tem com a música uma relação quase mística de tão íntima.

Não dá nem para dizer que sua ligação com a arte vem de berço, porque, na verdade, vem antes dele. “Eu chutava a barriga da mãe quando ela ouvia Gipsy Kings e Bob Marley. Com dois, três anos, eu estava no carrinho de bebê perto de repentistas no Nordeste, que estavam fazendo improviso no pandeiro, e acordei na hora, comecei a me mexer. Minha mãe olhou para o meu pai e falou: “Não tem jeito, vai ser músico. Melhor dar um violão e ver o que sai.” E foi bem assim que aconteceu: aos oito anos, ganhou um violão e se tornou autodidata no instrumento. “Fui aprendendo sozinho, e as músicas vieram”, relembra.

O som veio e nunca mais o largou. Para onde quer que ele olhe, enxerga música. E se o primeiro verso de “Cigano” surgiu olhando para o chão – os pés e os tapetes –, o que Romaní faz de melhor mesmo é olhar para cima, onde o céu é o limite para onde ele quer chegar com sua arte.

Romaní – Foto: Ernesto Andrade

Por ora, ele, que nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, viveu em um caminhão dos 6 meses de idade até os 6 anos, e depois seguiu viajando por incontáveis lugares do país, pretende continuar no Rio de Janeiro, onde já está há quase dez anos tocando seus projetos artísticos.

“Tenho certeza que a minha música ainda vai me levar para conhecer o mundo. Não preciso ter pressa. Sei que tudo vai acontecer quando tiver que acontecer”, afirma, em um processo de manifestação através das palavras, que é também um pouco do que ele faz em sua música, em versos como “Anjos me guiam por onde eu ando/Ouro no caminho onde eu ando”.

É o que ensinou um de seus maiores ídolos, o rapper Russ. “Qualquer coisa que eu queira, eu falo para que exista, é assim que estou vencendo”, diz o norte-americano na faixa “Manifest”. Se as coisas continuarem nesse caminho, é certo que ainda veremos Romaní continuar vencendo, levando os seus com ele e provando que nem o céu precisa ser o limite.

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