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Entrevista: Ricardo Pereira se prepara para ser diretor

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Por Ligia Kas

O ator português Ricardo Pereira, que está atualmente na novela “Éramos Seis” como Almeida, sempre foi um curioso das artes e da vida ligada à comunicação. Psicólogo de formação [a um passo de concluir o mestrado], ele começou sua carreira aos 14 anos modelando. Morou em Milão, Paris, Barcelona, Madri, Nova York, Munique e aprendeu a falar diversas línguas. Nessa época, fez de tudo um pouco, campanha, fotografia, desfiles. Mas gostava mesmo era da parte comercial da moda, os anúncios de TV, a publicidade, onde podia representar e fotografar ao mesmo tempo.

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Aos 17 anos, resolveu procurar uma formação de ator. Estudou no Conservatório de Portugal, que é a escola principal de teatro e cinema daquele país. “Foi nessa época que comecei a me interessar mais por esse lado artístico”, conta. “Não é que eu quisesse ser ator, fui buscar mais ferramentas e background para desempenhar melhor meu papel nas campanhas publicitárias.”

Só que ele se encantou pela arte de interpretar e começou a andar com um pessoal de teatro. Foi quando recebeu convites para fazer teatro infantil, e se jogou de cabeça na empreitada.

“Depois apareceu uma oportunidade de encenar ‘Real Caçada ao Sol’, de Peter Shaffer, no Teatro Nacional Dona Maria II, um dos mais emblemáticos teatros de Portugal, quando estive ao lado de Rui de Carvalho, que recentemente completou 93 anos”, relata. “E isso foi o início de tudo, os primeiros passos nessa profissão.”

Depois de “Real Caçada ao Sol”, Pereira não parou mais. Começaram a aparecer convites para fazer séries em TV, novela, e partiu forte para o cinema autoral português, com nomes muito vistos tanto em Portugal como na Espanha. “E aí também começam a aparecer convites para fazer cinema na França e assim por diante”, conta.

Casado com a marchand Francisca Pinto desde 2010, Pereira é pai de três filhos (Vicente, 7 anos, Francisca, 5, e Julieta, 2) e tem planos de ter um quarto. Outra ideia do ator e apresentador é dirigir. Amante incondicional de teatro, ele quer dirigir uma peça, mas não tem pressa para realizar esse projeto. Quer escrever e roteirizar, mas tudo a seu tempo. Ele sabe que ainda há muito o que fazer.

Leia a seguir o papo que RG teve com ator:

Por que o Brasil?

Olha, foi um acaso. Quando eu venho para o Brasil, eu já tinha feito muito teatro, cinema e televisão em Portugal [onde trabalhou também como apresentador de programas de TV], e vinha atuando com pessoas que me ajudaram a crescer muito na carreira. Fiz trabalhos que me deram conteúdo e noção da dificuldade da profissão. Quando vim para cá, a Rede Globo precisava de um ator português para fazer a novela “Esperança”, e eles testaram várias pessoas, inclusive eu, mas acabou que o papel ficou para um colega meu porque o trabalho exigia um personagem mais maduro, e que ficou com o Nuno Lopes. De qualquer maneira, eles ficaram com os meus dados e teste, porque estive entre os finalistas para a novela. Aí, em 2004, quando o Walter Negrão precisava de um português para a novela “Como uma Onda”, eu fui escolhido para ser o primeiro protagonista não brasileiro para uma novela na Rede Globo. A partir daí eu me tornei praticamente um morador do Brasil, amante do Rio de Janeiro, e fui fazendo outros trabalhos, tanto aqui como no exterior, como Espanha, Holanda, mas a base, desde então, tem sido o Brasil.

E para a Francisca, foi tranquila a vinda dela para o Brasil?

Na verdade, quando eu vim a primeira vez eu ainda não namorava a Francisca. Nos conhecíamos, tínhamos muitos amigos em comum, mas não namorávamos. Aí, em uma das vezes em que eu voltei a Portugal para passar férias, nós nos encontramos e nos apaixonamos. Como queríamos ter algo mais sério, eu perguntei se ela viria para o Brasil, e ela disse que sim. Até hoje estamos aqui e ela é uma apaixonada pelo País, se sente super em casa. Nós nos casamos e tivemos nossos três filhos aqui no Brasil.

Eu li que você quer ter mais um filho, é isso mesmo?

Eu já tenho três filhos e todo mundo me pergunta quando vem o próximo. Sabemos que é difícil, ser presente na vida dos filhos, tentamos ao máximo ser bons pais, mas hoje a vida é mais corrida, mais intensa, hoje os filhos parecem que crescem mais rápido, é um desafio ser pai e mãe. Mas nós gostaríamos de ter quatro filhos, então acho que isso vai acontecer. A gente ainda pensa na Julieta, que tem dois anos, e queremos que ela seja um pouquinho mais independente antes.

Você teve alguma dificuldade com a língua quando veio trabalhar no Brasil?

Veja, eu não queria ficar fazendo apenas personagens portugueses, é uma coisa que estava bem claro na minha cabeça. Eu fiz um primeiro personagem português, mas queria ir além. Eu sempre tive facilidade com línguas, falo português, inglês, espanhol, francês. Em Portugal temos muito contato com o português do Brasil, por conta das novelas, nada é dublado, sempre escutamos música brasileira. O ouvido sempre foi trabalhado para entender bem o sotaque do brasileiro. Para mim, como artista, era muito mais desafiador perder o sotaque, a fim de fazer qualquer tipo de papel que me propusessem. Eu estudo bastante e treino com uma fonoaudióloga, quando é preciso.

Fale um pouco do Almeida, seu personagem de  “Éramos Seis”?

O Almeida foi um ótimo presente. Eu tenho vindo numa sequência de trabalho na TV, no cinema e no teatro que fiz vários vilões, então esse papel foi ótimo, um personagem que você precisa viajar até os anos 20, 30, 40 para entender que naquela época o desquite era algo muito sério, muito intenso, algo que marcava as pessoas, era quase uma “doença”, ou seja, casou, desquitou, está de lado. O Almeida vive esse dilema, porque precisa se separar para viver o seu grande amor. Ele acha que nunca teria uma segunda chance para o amor. Casa-se cedo, com a mulher errada, que não quer saber dele. E isso marca sua vida. Até que ele encontra uma mulher pura [Clotilde, vivida por Simone Spoladore], mais reservada, que tem uma delicadeza, uma olhar, uma ingenuidade, e  por quem ele acaba se encantando totalmente. Eu acho que o Almeida vive o amor em sua pureza máxima. Ele era casado, já tinha filhos, e quer esquecer tudo isso para viver um grande amor. E há esses desencontro entre os dois, quando ela [Clotilde] não se casa com ele. Há essa angústia, esse amor que fala pelo olhar. Eu e a Simone nos encontramos fora de cena muitas vezes para criar esses personagens. Essa parceria que eu fiz com essa atriz brilhante, que é a Simone, com esse cuidado de a gente estudar e se preparar, passou para o público, que torce pelo casal.

Como foi contracenar com a Simone?

Nos conhecemos nos ensaios da novela. É engraçado que nós temos lugares muito parecidos e distantes de trabalhar. Mas gostamos de trabalhar no silêncio, de viver muito na troca, no olhar. A gente se encontrou, uma parceria que deu super certo. Sentimos muito na rua como o público ama esse casal, da verdade que eles passam, de como somos intensos. Nós procuramos muito a sintonia, é como se nós dois falássemos literalmente a mesma língua, tivéssemos a mesma respiração, a mesma energia. Viramos amigos, parceiros, confidentes e caminhamos de mãos dadas, e isso tem um resultado visível. Foi uma surpresa maravilhosa.

Você gostaria de dirigir, já pensou nisso?

Então, todo mundo, nos últimos tempos, tem me empurrado um pouquinho para isso. Eu já tive várias ideias de dirigir teatro. Eu amo teatro como expectador, como ator, eu já produzi peças. Como eu vim do teatro, das tábuas, da madeira, o palco me seduz muito, me deixa muito em casa. Eu tenho conseguido fazer uma peça a cada dois anos, e agora quero produzir um espetáculo. Ou seja, eu me vejo dirigindo teatro, mas antes quero fazer um curta-metragem, me envolver com pessoas e aprender com elas. Mas tudo a seu tempo, eu não tenho pressa.

Como é seu lado apresentador? Você gostaria de ter um programa, por exemplo?

Eu amo o ser humano, até por isso fiz psicologia, eu amo as diferenças do ser humano, amo a história de vida que cada um tem. Gosto muito desse lado da comunicação. A apresentação, que  tive oportunidades incríveis de fazer, como o “Mais Você”, quando a Ana Maria [Braga] saiu de férias, o “É de Casa”, fiz também por dois anos um programam na Globo Internacional chamado “Sem Cortes”, que era de atualidades. Nós entrevistamos mais de 40 artistas da Globo, que contavam a sua vida. Isso me deixou muito feliz. Eu me descobri como entrevistador, não só como apresentador, e me sinto muito bem, até porque trabalhei como apresentador muitos anos em Portugal. Eu acho que no futuro a minha vida também passará por aí.

Você gosta de música brasileira?

Bem, de música brasileira você tem que perguntar o que eu não gosto (risos). Eu amo tudo. São tantos, Caetano, Criolo, Milton, Céu, Ana Carolina, uma galera nova que aparece. Eu tenho muitos amigos na música brasileira, que é muito rica, muito transversal. Os meus filhos já nasceram dançando. Todo tipo de música brasileira tem uma história, tem uma raiz, e eu procuro conhecer tudo.

Como você cuida da beleza? Gosta de fazer atividade física, medita, o que você faz?

De tudo um pouco, mas muito exercício físico. Eu sou daqueles caras que precisam fazer atividade física. Eu corro na areia fofa, estou me preparando para uma meia maratona, faço academia, musculação, pilates, relaxamento, meditação, alongamento. Me faz muito bem, é um bom contraponto com toda a minha vida intensa de trabalho. Eu amo jogar futebol, mas tenho jogado bem menos com medo de me machucar. O corpo do ator tem de estar sempre pronto, é a nossa ferramenta de trabalho.

Tem alguma coisa que você não come? Tem alguma restrição alimentar?

Eu tenho uma nutricionista há sete anos. Eu não tenho restrição nenhuma, mas procuro que a minha alimentação seja bem equilibrada. Eu evito carboidratos e comer muito à noite. Bebo muita água e faço jejum intermitente, sempre aconselhado pela minha nutricionista. Eu sou regrado, mas não sou fundamentalista, não digo “isso é impossível de comer”. Tem dia que você deve ser livre.

O que o Rio de Janeiro é para você?

O Rio para mim é a cidade maravilhosa. Eu acho essa cidade alucinante. Onde você vai a natureza te acompanha. Tem esse astral. Parece que os dias são maiores, que as pessoas envelhecem menos. Eu e minha família amamos praia. O mar para a gente é revigorante. Quando você dá uma caída na água, parece que você sai novo. Eu preciso da praia.

Quais são os próximo planos. Você tem algum sonho?

Aos 40 anos eu tenho muitos sonhos para realizar. Eu gosto muito de sonhar, faz parte de mim. Eu sou muito apaixonado pela minha profissão. Tenho muita sorte de fazer aquilo que eu amo. No quisto profissional, há muita gente com quem eu gostaria de trabalhar, por exemplo, com o Andrucha [Waddington, diretor, produtor e roteirista], Amir Haddad [diretor de teatro e teatrólogo], e mais uma série de cineastas aqui do Brasil com os quais eu ainda não trabalhei. Eu também gostaria de contracenar com vários atores de fora, como a Kate Blanchet, que eu adoro, o Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, há tantas gente com que eu gostaria de trabalhar. Como estamos falando de sonhos, como artista eu gostaria de ter a oportunidade de trabalhar com mentes criativas, mentes abertas, que me desafiem como ator. No quesito pessoal, gostaria de viajar o mundo todo. Eu vivi em oito países e adoro culturas diferentes.

 

FOTO Jeff Segenreich
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