Por André Aloi
Caetano Veloso sobe ao palco do Espaço das Américas nesta quinta-feira (17.11) para se apresentar ao lado de Teresa Cristina (que canta com Carlinhos Sete Cordas). Depois de uma turnê europeia, os dois cantam Cartola em São Paulo. O evento marca o lançamento do álbum Teresa Canta Cartola, que – além dos clássicos do sambista – traz grandes sucessos do leonino, como “Como 2 e 2”, “Desde Que o Samba é Samba”, “Odara”, entre outros. Ainda há ingressos, a partir de R$ 90 (meia entrada), no site Ticket 360.
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O cantor não é muito das redes sociais e diz que em períodos de grandes viagens, como turnê, não tem ouvido muita coisa. Seu filho Zeca, de 24 anos, é quem apresenta algo novo dessa nova geração. “A última coisa que ouvi foi a Valesca cantando ‘Viado’. Gostei à beça”, crava. Caetano topou falar com RG por e-mail. A transcrição, você lê abaixo:
RG – Como foi a aproximação de Teresa Cristina até que você embarcasse nesse projeto?
Caetano Veloso – Sabia de Teresa por suas apresentações na Lapa e ouvi seu disco com músicas de Paulinho da Viola. Depois, quando fiz uma série de shows na preparação do disco Zii e Zie, eu a convidei para cantar comigo no palco do Vivo Rio: ela tinha gravado “Gema”, uma canção minha de que gosto muito.
No ensaio, fiquei maravilhado com ela, com a personalidade dela e com o fato de ela saber tudo quanto era música minha. Mais tarde fiquei sabendo o quanto ela conhecia de Roberto Carlos, de canções brasileiras antigas, de canções americanas e de rock. Teresa tinha até entusiasmo por heavy metal. Quando ela fez esse show com músicas de Cartola, tive uma conversa com ela, fiz algumas observações que ela acolheu com muita inteligência. Fui assistir e fiquei maravilhado.
Paulinha Lavigne levou a gravação para Nova York e mostrou ou presidente do selo Nonesuch, que lança meus discos nos EUA, e ele logo quis lançar mundialmente. Foi nesse momento que ouvi a sugestão de dividir o show com ela, para reforçar a divulgação. Sabe como é, sou bem mais velho e por isso mais conhecido.
RG – E qual balanço faz dos shows internacionais? Há uma faísca especial por em tocar em São Paulo?
CV – Sempre gosto de cantar em São Paulo. Esta é a cidade onde foi possível o tropicalismo. Os shows com Teresa foram muito bem, tanto em Lisboa e Paris quanto em Tóquio, Osaka, Seul, Nova York, Chicago, Miami e Rio. Mas para mim São Paulo tem sempre um valor especial.
RG – Hoje você tem uma carreira consolidada, um projeto em andamento com o Gilberto Gil (em que celebram 50 anos de carreira). O que te mantém na ativa e o que te faz querer fazer sempre uma coisa nova?
CV – Gosto de cantar. Gosto de me apresentar. Gostaria de ter mais talento para fazer muito mais.
RG – Tem algum projeto novo que queira compartilhar? Vem disco de inéditas no ano que vem? Caso sim, alguma parceria que gostaria de fazer? Vale falar Teresa, mas gostaria de outros nomes, também.
CV – Ainda não tenho um plano claro em minha cabeça sobre como farei novas canções, onde e como as lançarei, nada. Parcerias já fiz muitas: com Gil, com Gadú, com Chico… As duas de que me lembro com mais emoção são as com Milton e com Jorge Mautner.
RG- Você não é muito das redes sociais… Mas como consome música? Quais são suas descobertas da nova safra de artistas nacionais e que pode indicar pra gente?
CV – Nesse período não tenho mesmo ouvido muita coisa. Viajei muito. Quando estou com meu filho Zeca é que eu mais ouço novidades (e mostro a ele coisas do passado que ele não conhece). A última coisa que ouvi foi a Valesca cantando “Viado”. Gostei à beça.
RG – Nos idos de 1980, você já tinha regravado uma música de Cartola (“Acontece”). Qual sua relação com o repertório e com o artista?
CV – Cartola é um anjo da história do samba. Seu lirismo poético e melódico é penetrante. Todas as noites de show, assisto à parte de Teresa inteira. Por vezes choro e rio de emoção. Atualmente o samba que mais me comove no show dela é aquele sobre a Mangueira, aquele que pergunta “Como podes, Mangueira, cantar?”
RG – A mídia pede um posicionamento político sobre tudo: de eleições locais à americana. Qual seu posicionamento sobre isso? Como você enxerga as eleições para prefeito? O que pode falar sobre as eleições presidenciais nos EUA?
CV – Fiz a campanha de Freixo, que é um político em quem confio plenamente e cujo histórico é animador. Mas não me identifico com as críticas preconceituosas a Crivella só porque ele é evangélico. Quanto aos EUA, acho Trump tudo o que há de pior num tipo humano. Mas entendo que o eleitorado de lá queria mudança. Há insatisfação com certos efeitos da globalização e desencanto com o establishment político.
RG – Teve alguma história memorável ou engraçada na passagem por algum desses países?
CV – Teve muitos momentos de risada, mas não lembro as histórias.
RG – Se você tivesse o poder de perguntar algo sobre Caetano, que pouquíssima gente sabe. O que perguntaria? E qual a resposta, por favor?
CV – Não quero saber nada sobre mim que pouquíssima gente saiba. Sou leonino. Só vivo para o lado de fora, para o lado que fica aberto para fora.
RG – Deixamos de falar algo, que gostaria de acrescentar?
CV – Não.