Por Carol De Barba |
Xênia França, uma das vozes da banda Aláfia, está prestes a dar o primeiro passo de sua carreira solo. Linda e dona de uma voz poderosíssima, a cantora lança seu primeiro single nesta quarta (13.07). “Breu” foi apresentado em formato de videoclipe, feito em parceria com o Programa O Canto, do Coletivo 336, encabeçado por Gabriela Jacob e Fernanda Calil (aperte o play abaixo para ver!).
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Tanto o clipe quanto a música “Breu” dizem muito sobre como deve ser o voo solo de Xênia. Especialmente o fato de que a letra tem tudo a ver com o momento de reflexão da sociedade sobre questões ligadas ao racismo e ao empoderamento feminino. “”Breu” é um presente que ganhei de Lucas Cirillo [seu companheiro de Aláfia e da vida]. Em nossa convivência estamos sempre conversando sobre as questões sociais da mulher preta. Sobre a falta de representatividade, sobre o corpo negro desvalorizado, sexualizado e estereotipado. E sobre a cultura do embranquecimento”, explica.
Segundo Xênia, a canção também é uma homenagem a Cláudia Santos, que foi morta pela polícia militar do Rio de Janeiro em 2014. “Essa música me ajuda a estabelecer uma relação de empatia, me colocando no lugar da outra. Quando decidi gravar, ela não saia da minha cabeça, estava falando muito comigo”, revela.
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Para ela, breu também representa o nada. “E do nada podem começar uma serie de transformações e desconstruções… Me pareceu um bom tema pra começar uma carreira solo. Me olhar nesse espelho, com essas reflexões sobre quem eu sou e a minha condição de mulher preta. Começar tudo de novo. Do zero do nada”, resume.
Lemonade à brasileira
São tantas semelhanças com outra diva da música negra que fica impossível não perguntar: Beyoncé e seu “Lemonade” são uma referência? “Não tem uma pesquisa em cima disso, mas naturalmente, como vivemos um momento de levante social da mulher preta, que é para onde estou olhando porque sou, vivo, converso sobre isso, acabam acontecendo determinados tipos de alinhamento de discurso, de temática. Vejo isso de uma maneira muito positiva: muitas pessoas ao redor do mundo colocando a mulher negra no centro do debate”, diz.
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Voo solo
A carreira solo era planejada há um tempo – depois de ver o magnetismo de Xênia no palco, a gente até estranha a falta dela. É que, por causa da dedicação à Aláfia, esse plano acabava sempre adiado. “Foi o primeiro trabalho que me deu oportunidade de gravar. A gente também faz uma pesquisa sobre a nossa matriz africana, a diáspora, que fala diretamente comigo, meu DNA e minha ancestralidade. Ela me influencia de uma maneira muito bonita, que ajuda no meu autoconhecimento. É um trabalho de apropriação da minha própria cultura que faço com todas as forças e com todo amor”, revela.
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Apesar do amor à Aláfia, a vontade de ter um trabalho para chamar de seu falou mais alto em 2016. Além do single “Breu”, Xênia produziu mais quatro músicas ao lado de Pipo Pegoraro. Essas cinco faixas farão parte de um EP, que deve sair no início no ano que vem. “Logo depois do verão”, avisa.
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O que esperar do CD? Algo um tanto diferente do que estamos acostumados a ver de Xênia, e certamente não menos impactante. A cantora, que cresceu escutando muito rádio, tem uma relação fortíssima com a musicalidade de Michael Jackson e de outros artistas negros. “A música negra é a que me inspira, que cresci ouvindo. Desde a música brasileira, como Djavan, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elza Soares, Leci Brandão… Até a música norte-americana, como Stevie Wonder, Esperanza Spalding, Erykah Badu, Ella Fitzgerald, Ray Charles… Não tem nenhum artista negro que não entre na minha lista, desde o pop até o jazz, a música brasileira, o samba…”, descreve.