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Marina Lima condena governo que exclui minorias: “Coisa ridícula”

Por André Aloi

Marina Lima fez um show no início da tarde desta segunda-feira (15.05), em São Paulo, em que substituiu o trecho de “Pra Começar”, que diz: “Se tudo cai, que tudo caia”, substituindo os termos “se tudo” por Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara dos Deputados) – afastado das funções devido à citação dele na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

Em conversa com RG, ela afirma que não compactua com um governo que deixa de fora minorias, como o de Michel Temer. “A hora que você vê os ministérios do Temer, e não tem uma mulher, um negro, gay, é uma coisa ridícula. Não há um mundo feminino, como ele falou ontem [domingo, 15.05] ao Fantástico, da Rede Globo. O mundo é todo igual, de uma diversidade enorme”, pontua.

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Ela crê que o Brasil está passando por um momento histórico superinteressante. “Tenho me surpreendido, principalmente com os estudantes. Parecia que estava todo mundo alienado. Agora, acendeu uma luz e os estudantes estão mostrando um caminho, como as ocupações de escolas. Ontem, na rua, vi várias pessoas pedindo para o Temer sair, gritando e tal, era só a juventude. Tem uma coisa boa: a política tem que ser renovada mesmo, ela rege a nossa vida. É muito bacana ver gente jovem, com espírito contestador, querendo um mundo melhor para si. Acho que eles vão mudar tudo”.

Para a cantora, a música tem seu papel social, sim. “Estou muito feliz com o que está acontecendo porque as minorias e os gêneros que ficaram se sentindo reprimidos e diminuídos durante anos não estão mais afim de aturar isso”, explica. “Acho incrível quando nomes como Beyoncé, falando sobre essa coisa de cor, de as pessoas querendo embranquecer, dos gays ampliares a voz para conseguir seus direitos na sociedade”, contextualiza.

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Enquanto o rock fez seu papel nos anos 80 de apontar erros na sociedade, hoje em dia ela vislumbra uma música menos posicionada politicamente. “Tem muita balada, temas de amor. Não que não seja bom, mas não pode ser só isso. Queria ouvir mais canções com contexto social. A música não precisa ser dura nem chata por causa disso. Podem haver musicas maravilhosas e envolventes, que falem da nossa realidade, não só do romantismo”.

NO OSSO
A cantora tem se apresentado com a turnê “No Osso”, fruto de seu mais recente trabalhos, lançado no fim de 2015. “Significa estar sem nenhum tipo de alicerce, sem nenhum tipo de enfeite. Nunca tinha feito um disco sem acompanhamento, sem arranjos. Esse disco foi desnudado. É quase um raio-X da origem das canções de eu gravei”.

Marina passou por duas crises no mercado musical: a primeira da era do vinil para o CD, depois para a era digital, que passou quase uma década tentando monetizar essa indústria. “Crise é bom pra gente se reinventar. As coisas estão sempre mudando, não voltam atrás. Se bem que estão reinserindo o vinil no mercado. Obriga a gente a sair do conforto”.

Ela diz que sua mudança pra São Paulo, há seis anos, tem a ver com isso. “Sou carioca, adoro o Rio, mas essa mudança é o desconforto que isso causou, me obrigou a me reinventar. E foi muito saudável pra mim, profissionalmente e como mulher”, situa. No fim de semana, ela participa da Virada Cultural Paulista, no show de Strobo, grupo electro paraense que está co-produzindo o novo disco deles. “São muito bons e ajudei no acabamento do disco”, explica. Foi a primeira vez que ela assinou um trabalho assim, em conjunto. “Tocar com eles, é uma felicidade enorme”.

NOVA GERAÇÃO
Confrontada sobre a falta de nomes marcantes da nossa safra musical – que afinal, são novidades, e ainda não dá pra medir a longevidade -, afirma: “tudo ficou mais fast, é mais digerido e jogado fora. O mundo ficou mais assim”. Na conversa, citamos o papo com Vanessa da Mata, que ela fez questão de referendar. “Depois de mim e da minha geração, é a pessoa que mais admiro. De todas! De todas as cantoras e compositoras. Ela tem um trabalho autêntico, com uma assinatura, uma pérola”.

No entanto, cita alguns exemplos de sua playlist, além do Strobo, que faz questão de frisar o talento dos paraenses. “Ouvi Jaloo, que também é do Pará, e achei muito bacana. É o novo disco da Fernanda Abreu, que estava há 12 anos sem lançar nada. Achei muito interessante, fiquei feliz que ela esteja fazendo música de novo, e também falando dessa coisa do Brasil. Tudo bem falar de amor, mas vamos fazer isso e sair do quarto”, pontua.

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