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RG exclusivo: Bread & Butter

Entrevistamos Karl Heinz-Müller, o homem por trás da feira de moda alemã. Vem ler

por Philipp Meyer-Schmeling

Essa só RG tem. Philipp Meyer-Schmeling, produtor cultural e empresário recém-radicado no Brasil é colaborador deste site para assuntos alemães. Daí a desenvoltura para entrevistar Karl Heinz-Müller, fundador e diretor administrativo da Bread & Butter, a maior feira de moda e tendências de streetwear no mundo, que acaba de acontecer em Berlim. Em pauta, o mercado de moda brasileiro e a história do evento que começou pequeno, com 50 marcas, há 10 anos em Colônia, e agora atrai cerca de 650 etiquetas e milhares de visitantes por dia. Entrevistador e entrevistado se encontraram na loja de Karl, a 14 oz., na capital alemã, para essa entrevista:

RG: O que te fez criar a feira? Você imaginou que fizesse tanto sucesso?

KHM: Quando eu comecei com a Bread & Butter eu já tinha a minha primeira loja de jeans em Colônia e era o distribuidor da Le Coq Sportif na Alemanha. Não havia simplesmente nenhum evento que correspondesse às necessidades dessas marcas e de nenhuma das outras que eu gostaria de vender em minha loja. Depois de uma longa reunião com um grupo de profissionais-chave da indústria convidados pela Adidas (para lançar sua linha “Originals”) eu sonhei com uma feira, do tipo que teria todas as minhas marcas favoritas. No dia seguinte decidi tornar este sonho realidade. Apesar do começo não ter sido fácil, encontrei um nicho e a primeira edição foi um sucesso instantâneo com suas 50 marcas. A partir daí ela só continuou a crescer, naquela época eu não imaginava que se tornaria tão grande.

RG: Que tipo de crescimento em potencial você ainda vê para ela? Onde você vê sua empresa daqui a 10 anos?

KHM: Tamanho não é tão importante para nós; queremos manter o alto padrão de qualidade e atualmente rejeitamos muitas marcas. Além de nosso processo seletivo, ainda ficamos limitados no que diz respeito ao espaço disponível em Berlim em relação ao de Barcelona. Nossos arquitetos encontraram algumas soluções criativas, usando as pistas do aeroporto e não somente os hangares e assim conseguimos expandir de novo este ano. Em longo prazo, vejo o evento ainda maior, não só em termos de espaço, mas em seu conceito, mais como um evento de expositores ao invés de uma simples feira, espalhado por diversos locais de Berlim. Isso nos dará mais espaço para expansão também. Também estamos planejando uma segunda feira focada em moda infantil, já que vemos uma demanda crescente aqui.

RG: Por que feiras como a Bread & Butter ainda são importantes para a indústria de moda hoje?

KHM: O fato de profissionais-chave da indústria, estilistas, compradores, distribuidores, jornalistas, agentes e formadores de opinião estarem fisicamente presentes é crucial para o sucesso de eventos como esse. Eles encontram uns com os outros, comunicam-se efetivamente com quem eles desejarem durante esses três dias. Onde mais você encontra Renzo Rosso (fundador da Diesel), Jos van Tilburg (G-Star), Adriano Goldschmied e François Girbaud no mesmo lugar, discutindo as tendências do jeanswear?

RG: Qual é o papel das mídias sociais, blogs e ferramentas online de marketing nisso tudo? Quão importantes são os blogs de moda e sites como a RG para a indústria, comparados à mídia impressa?

KHM: Acima de tudo, são instantâneos. Nenhuma outra mídia pode ser tão rápida quanto um blog ou site. Tendências surgem mais rápido do que nunca e um blog pode simplesmente destacar isso muito mais rápido – e em um espaço ilimitado. A edição dos sites também é mais liberal, então coisas que não estariam alinhadas com editores e leitores de impressos podem ser feitas na web e inclusive causar mais interesse no público. Acessibilidade é outro ponto; um blog está acessível de qualquer lugar, a qualquer momento.

RG: Qual é sua percepção em relação ao Brasil como mercado de moda e como um potencial cenário para uma feira dessas?

KHM: O Brasil está se tornando rapidamente um dos maiores mercados de moda contemporânea e desenvolveu-se em um mercado interessante, também com suas próprias marcas fortes, como a Osklen. O que está faltando é uma feira que se dedique a este mercado agora desenvolvido. É a mesma situação que encontramos na Espanha quando mudamos com o evento para Barcelona. A organização correta e um portfolio adaptado ao mercado seriam cruciais para que as feiras se tornassem um grande sucesso no país.

RG: Qual é sua posição em relação à sustentabilidade? Mais marcas estão produzindo linhas sustentáveis. O que a Bread & Butter está fazendo para se tornar mais sustentável?

KHM: Antes de tudo, eu acredito firmemente que o consumidor tem um papel muito importante a ser desempenhado. Se consumirmos menos produtos, com melhor qualidade, algo do qual eu sempre fui defensor, isto teria um enorme impacto positivo no meio ambiente. Eu prefiro ter um par de calças jeans de luxo que dure muitos anos do que comprar cinco de qualidade inferior, que terei que jogar fora no fim de uma estação porque elas não estão boas. É claro, também é fantástico que materiais como o algodão orgânico estejam sendo usados pelos estilistas e marcas atualmente.

Ao que diz respeito ao evento, nós reciclamos o máximo que podemos, mas também estamos atrás de soluções quanto à forma de compensar nossas emissões de CO², investindo em projetos de reflorestamento.

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