Depois de lançar um álbum, um EP e um extenso repertório dentro do coletivo de rap Quebrada Queer, a rapper Boombeat inicia sua carreira solo com o single “Borboleta”, lançado na última sexta-feira (23.06). Explorando as particularidades de sua própria trajetória como travesti e, também, as condições enfrentadas por travestis no Brasil, a faixa representa uma metamorfose musical.
“Queria me mostrar de maneira diferente, mostrar ao público realmente quem é a Boombeat. Essa música vem com esse intuito de falar que nós, pessoas trans, não vamos nos esconder, vamos aparecer cada vez mais. Todo desprezo da sociedade eu transformo em poesia”, conta a rapper.
A música ganhou videoclipe produzido pela Ayrá Produções e dirigido por Ricardo Souza, que é sócio da Butterfly Coletivo, primeira finalizadora de um homem preto no mercado audiovisual, responsável pela finalização do clipe. O diretor trabalhou ao lado de Boombeat para criar e desenvolver um conteúdo que mostrasse a força da artista e também permitisse vislumbrar sua vulnerabilidade.“Conheci Boombeat quando criava o manifesto da Butterfly Coletivo. Ali percebemos nossa afinidade de propósitos e com isso surgiu a ideia de levar a luta de resistência para o novo clipe, que não tem apenas uma proposta artística. É um manifesto que enaltece a força de todos os excluídos pela sociedade. Como diretor, foi incrível estabelecer uma parceria criativa tão rica com uma artista com essa força”, conta Souza, “Esse projeto veio para coroar os quatro anos de resistência da Butterfly“, completa Souza.
Foto: Reprodução/Instagram/@boombeat
“Gravar com o Ricardo foi incrível, ele me respeitou muito durante o processo do clipe, escutou todas as minhas ideias, eu escutei as dele e aprendi muito”, afirma a rapper, e acrescenta: “Ver tantas pessoas acreditando no meu trabalho, fazendo ele crescer, isso para mim foi muito marcante, me deu muita força”.
Com cenas diversas, como a coreografia sensível criada pela dançarina Fernanda Gonçalves e as cenas com o marido de Boombeat, Amilton Marinho, o clipe traz elementos da sexualização, da violência e da resistência presentes na vida de muitas travestis – solidificando “Borboleta” como um mantra poderoso, trazendo o lema de precisar sempre seguir e jamais se esconder.
“Borboleta” é o primeiro lançamento de Boombeat nessa nova etapa de sua carreira. No final do mês passado, o Quebrada Queer, o primeiro coletivo de rap completamente LGBTQ+, anunciou o seu fim e comemorou a sua trajetória com dois shows no Sesc Paulista.