Por Robin Siteneski, especial de Nova York
No palco, John Legend flerta com a plateia, faz gracinha para os fotógrafos e levanta o público. Com os jornalistas, mantém o sorriso fácil e a simpatia mas tem uma postura mais sóbria, de braços e pernas cruzados. RG conferiu os dois lados do cantor em entrevista em Nova York, nos Estados Unidos, e em um show beneficiente no histórico Apollo Theater.
O artista vencedor de um Globo de Ouro (pela música tema do filme “Selma”) e de dez prêmios Grammy fez fama cantando sobre o amor. Canções como “All of Me”, “You and I” e “Tonight” embalam o romance, e a dor de cotovelo de fãs ao redor do mundo. “As minhas músicas que ressonaram foram as mais pessoais, honestas e reais”, analisa. “As pessoas querem uma concessão emocional e muito disso vem contando uma história que é pessoal e universal ao mesmo tempo”.
Fora dos palcos, o cantor é tão espontâneo sobre suas posições políticas quanto sobre relacionamentos. A sinceridade fez com que ele chamasse o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos de racista em resposta ao filho do magnata no Twitter em março deste ano. Ao RG, o cantor comentou a última polêmica do político envolvendo a comunidade negra. O empresário pediu os votos do eleitorado afro-americano questionando o que eles teriam a perder.
“Faz basicamente parecer que os negros não poderiam ter uma vida pior do que temos agora, o que eu acho uma representação ruim da existência de pessoas negras. Mesmo que exista dor e injustiça na nossa comunidade, acho que temos muito a perder e dizer o que temos a perder não é uma proposta política,” avalia. “Dizer ‘o que vocês têm a perder?’ é como um truque de um vendedor de carros usado”.
CINEMA
A defesa da comunidade negra também é evidente no trabalho artístico do cantor. Legend desenvolve como produtor executivo uma série sobre “Black Wall Street”, o maior massacre de negros da história dos Estados Unidos. Ele também assina a produção de “Southside with You”, filme sobre o primeiro encontro de Barack e Michelle Obama lançado na última sexta (26.08), nos EUA.
“Não sabemos exatamente o que eles disseram um para o outro na vida real mas nosso diretor (Richard Tanne) reimaginou o que eles disseram através de alguns detalhes que compartilharam”, revela Legend, que enviou o filme à Casa Branca para avaliação do casal.
O envolvimento do cantor com o cinema começou emprestando sua criatividade para criar músicas para as telas. “Eu sempre acho um desafio divertido escrever para filmes e televisão porque você está trabalhando com um outro artista e tem que criar algo interessante e tentar fazer uma música que amplifique ou complemente o que é visto na tela”, comenta.
POR BOAS CAUSAS
Com o final do segundo mandato do primeiro presidente negro no país, o artista pondera que ainda há um grande caminho para a equidade na sociedade estadunidense. Os Estados Unidos tem a maior população carcerária do mundo, com 2,3 milhões de presos – e cerca de um milhão são negros. “Algumas mudanças virão somente alterando leis e prioridades”, afirma. “Eu acho que a América tem que decidir priorizar o investimento em construir comunidades seguras e saudáveis ao invés de cadeias”.
Ele acredita que uma mudança de mentalidade ajudaria essa causa e a da nova bandeira que Legend levantou nesse sábado (27), em Nova York. O ativista é o rosto da parceira da marca de vodka de luxo Belvedere com a RED. A ONG, que tem o vocalista do U2, Bono, como embaixador, levanta fundos para combater o HIV/Aids na África. “Precisamos ver a humanidade uns dos outros apesar de nossas diferenças. É disso que o mundo precisa,” avalia.
Metade do lucro da venda de uma linha especial da vodka comercializada até o final do ano com garrafa com design da artista sul-africana Esther Mahlangu será revertida para a ONG. Legend também empresta uma música de seu novo álbum, “Love me now”, para ser o hino da parceria.
NOITE DE GALA
A canção foi escutada pela primeira vez no lançamento da campanha no Apollo Theater, em Nova York. Somente o mezanino do teatro permaneceu com assentos, o nível do palco se tornou pista de dança e camarotes para assistir ao astro da noite que se apresentou sozinho, tocando piano.
Precedido por um vídeo de introdução da ONG em que Bono fez um rap sobre o evento, Legend embalou o público com seus maiores sucessos. Sua esposa, Chrissy Teigen, compareceu mostrando a barriga sarada apesar de ter dado à luz a primeira filha do casal, Luna Simone, recentemente. A atriz é apresentadora do “Lipsinc Battle”, um programa da TV a cabo spin-off do quadro de Jimmy Fallon em que celebridades competem pelo título de melhor dublador bem ao estilo dos talentos tupiniquins das estrelas do “Qual é a música”, Ellen Roche e Felipeh Campos.
A vencedora do Oscar por “12 anos de escravidão”, Lupita Nyong’o, veio de mini-vestido azul e branco sem alças. A cantora britânica Estelle, a modelo plus size Ashley Graham e o modelo albino Shaun Ross também foram ao Harlem escutar Legend no evento batizado de “One Night for Life” (Uma noite pela Vida).
MODA
Legend também se envolve com moda como investidor do site Bungalow Clothing, onde especialistas enviam a casa dos clientes uma caixa com roupas do estilo dos internautas, que só comprar as roupas que realmente gostarem. Entre suas marcas favoritas, ele cita Saint Laurent, Givenchy e Gucci.
O cantor acredita que seu gosto pessoal é similar ao seu estilo como cantor: nas duas áreas ele tenta casar o clássico com o que é tendência, coisas atemporais e frescas. “A moda é uma grande parte da vida de um performer”, afirma, antes de completar que tem um personal stylist. “Eu realmente me importo sobre como eu me apresento visualmente como um performer e a moda tem muito a ver com isso”.