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“Não tem lugar mais criativo do que a favela”, diz MC Carol ao lançar o álbum “Borogodó”

Foto: Afroafeto/Divulgação

MC Carol vem deixando sua marca no funk há alguns anos. Com passagens pela Furacão 2000, ficou conhecida do grande público em 2015, quando participou do reality show “Lucky Ladies”, da extinta FOX. Em 2020, ganhou ainda mais visibilidade com sua participação em “Soltos em Floripa”, outro reality, desta vez na plataforma de streaming Amazon Prime Video. Com shows internacionais no currículo, uma palestra na Brown University e apresentação no Rock in Rio, vinha comemorando seus feitos até que a pandemia paralisou tudo e se focou em um álbum de inéditas. Dona de faixas como “Meu Namorado É Mó Otário” e “100% Feminista”, ela já cantava sobre liberdade sexual antes mesmo de artistas como Cardi B e Megan Thee Stallion soltarem o verbo (desbocado) em suas letras.

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Esta semana, a artista lança o álbum “Borogodó”, seu segundo de estúdio, que teve início antes da pandemia e foi finalizado lockdown dentro. Demorou pouco mais de dois anos desde as primeiras letras serem compostas até a finalização. “Quando eu estou sem criatividade, preciso ir na rua, à minha favela (em Niterói, no Rio de Janeiro), reencontrar amigos. Sentar na rua e ouvir histórias. Não tem lugar mais criativo do que a comunidade para escrever. Toda hora uma história nova, uma gíria nova e que os adolescentes inventam”, conta. Entre vivências pessoais, as letras brincam com descobertas e tabus. “Não gosto de novinho, não. Eles que ficam atrás de mim, cara… Num sei porquê, não entendo”, diverte-se.

Sucessor de “Bandida” (2016), o álbum aposta em letras para lá de pessoais, jogando luz na sexualidade e liberdade femininas, autoestima e quebra de padrões por um olhar bem pessoal, como a recente separação, que deu origem a “Barbaridades”. A capa brinca com quebra de estereótipos ao recriar a obra “Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, que também inspirou também o clipe de “Levanta Mina”, lançado em janeiro. É sua aposta para o Grammy Latino – este ano, a premiação se abriu ao gênero e terá mais espaço na próxima edição. O clipe de “Mulher do Borogodó” (dirigido por Augusto Molinari e Ramon Faria), outro lançamento da nova era, narra com irreverência um conto de fadas ao contrário.

O novo trabalho é uma ode a outras vertentes do funk carioca, que a catapultou à fama, com apelo pop, vide suas parcerias com Goes e Thai – esse último parceiro no single de “Levanta Mina”. Vai do trap ao funk melody, passando pelo pagodão baiano – de sua parceria com O Maestro – e brega funk (ao lado de nomes como MC Reino, CL no Beat e Cleytinho Paz).

Leia abaixo a entrevista na íntegra com a Mc Carol:

​​RG – Tem alguma história engraçada desse processo?

MC Carol – “Barbaridades” foi escrita em março. Sou libriana e pessoas desse signo vivem em busca do amor. Conheceu a pessoa hoje, já casa. Deu ruim, não desanima. Estava casada com um cara (cujo nome não foi revelado) desde janeiro, morando junto e ele ficava muito no telefone. Estava desconfiada, não tinha como pegar nada, pois ele era muito fechado. Quando chegava perto, ficava assustado. Quando a pessoa está escondendo uma coisa, não precisa pegar a pessoa falando nada. É só chegar perto! A carne da pessoa te dá sinais, é sério… Sou uma pessoa inteligente…

Estava querendo ficar com outro cara, fui lá e fiquei. Passou uma semana, ele estava lavando a louça e contei. Ele ficou: “Não estou acreditando… Você está brincando?”. E, eu, rindo. Ficou dando uma de Maria do Bairro, fazendo novela mexicana. Ficou se fazendo de coitado. E ele não era! Tive de bolar todo um plano para pegar alguma coisa dele, que tava cheio de papinho gostoso com mulher no telefone. Naquele dia que contei, podia ter falado que havia falado com 300 mulheres, ia ficar quite, ia terminar e ficar tudo bem, com amizade tranquila. Todo mundo errou… Quis dar uma de maluco, tive que zoar no Twitter.

RG – Semana passada, você viralizou com a criação de uma conta no Only fans? Já rolou nudes por lá? (risos)

MC Carol – Não rolou nada… Só criei pra divulgar minhas músicas (gargalha). Ainda não consegui verificar ainda… Vai rolar umas paradas junto com músicas porque tem umas bem pesadas.

RG – O álbum tem brega funk, como foi teu primeiro contato com o estilo musical?

MC Carol – Eu vi alguns meninos fazendo uns remixes meus. E quis trazer!

Foto: Afroafeto/Divulgação

RG – De onde veio a ideia de recriar o “Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, para a capa do álbum?

MC Carol – A ideia nasceu quando escrevi “Levanta Mina”, que falava sobre padrões de beleza. Logo depois, fui capa de uma revista de moda e essa obra reforça estereótipos de beleza, do que é belo e considerado bonito. Ia fazer minha primeira capa de revista, lugar em que a mulher vive seu ápice… O processo do álbum foi um mix, vim trazendo o brega e o pagodão, que representava as periferias do Brasil. Esse ponto em comum dos ritmos que nascem nas periferias e não são considerados nem arte nem belo. A capa só refletiu a musicalidade.

RG – Algo que chama a atenção nas letras é que você fala sobre ser piranha e, em outros momentos, busca algo mais sério. Como esses temas se relacionam com a sua vida?

MC Carol – Sempre falo disso nas minhas letras. Uma hora estou falando de uma Carol que quer coisa séria e, na outra, já não quero. Às vezes, quero algo com uma pessoa – escrevi “Mulher do Borogodó” chorando –, tinha um relacionamento com a pessoa, mas não queria daquela forma, como casamento. Não queria morar junto, postar nas redes sociais nem que as pessoas soubessem. Queria aquela coisa para mim. Há pouco tempo, aconteceu algo semelhante. Estava ficando com um cara, gostava, mas ele é de São Paulo e, eu, do Rio. Falei que quando estivesse lá, para trabalhar, a gente se via e se pegava. E ele não queria, falou que estava usando ele, ao ficar à minha disposição. Fiquei mal com isso. Bloqueei e é isso… (risos)

RG – Por ser famosa e clamar por liberdade em suas letras, isso assusta os caras?

MC Carol – Tem a questão de assustar, tem os caras que querem uma parada muito rápida e também assusta. Por que tão rápido? Por que, logo, eu? Tem homem que chega em mim e… Já chega bem… Achando que sou garota de programa.

RG – O que você tem de borogodó, que descobriu no processo do álbum?

MC Carol – É uma parada que não tem como explicar, é inexplicável, acontece (faz gesto com as mãos, como se fosse jogar um tempero em preparação).

RG – Você é a rainha dos realities… Você vai para a nova edição de “A Fazenda” (Record)? Hipoteticamente falando… Se fosse para lá, como seria MC Carol?

MC Carol – Estou por fora (risos). Vou falar como é a Carol dentro de casa. Durmo bastante, sou sedentária. Não bebo, não arrumo confusão com ninguém. Pelo contrário, quando começo a ver movimentos de briga, começo a me afastar. Se você não bebe, não está nem em locais de pessoas que bebem. E lugar de briga é onde tem bebida. Então, é isso. Não sou uma santa, eu bebo assim (socialmente).

RG – Mas se fosse para um reality, beberia?

MC Carol – Já está aqui mesmo, ia beber… Mas se você me oferecer um danone, eu prefiro.

RG – E o espaço que o funk ganhou no Grammy Latino? Vai se inscrever?

MC Carol – Já inscrevemos “Levanta Mina”.

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